O filósofo ateniense Sócrates (470-399) estava
entre os convidados e cada um deveria fazer um discurso para louvar o amor.
Sócrates intervém, ponderando que, antes de falar sobre o bem que o amor causa
e seus frutos, deveriam tratar de definir o que é o amor. Diz que, na sua
juventude, fora iniciado na filosofia do amor por Diotima de Mantineia, que era
uma sacerdotisa. Diotima lhe ensinou a genealogia do amor. O amor é a busca da
beleza, da elevação em todos os níveis, o que não exclui a dimensão do corpo.
No entanto, será que essa concepção ainda faz sentido em tempos de exagerado
culto à coisificação do prazer?
Sócrates nos remete a origem do amor: “os homens, no principio, tinham quatro
braços, quatro pernas, duas cabeças, enfim, eram seres em duplicatas, metade
homem e metade mulher. Mas, desse jeito essas criaturas estavam ameaçando os
poderes dos deuses, que temiam serem por elas derrotados”. Em uma reunião
no Olimpo, o deus maior Zeus, decidiu dividi-las ao meio. Depois de separadas
saíram pelo mundo, perdidas e sentindo-se solitárias. Até hoje estão por aí
vagando em busca da sua outra metade. Todavia, é o que acontece conosco.
Passamos a vida à procura dessa unidade perdida. Cada metade tem uma função e
um desejo. A função é completar a outra parte e o desejo é ser completado pelo
outro. Isso é amor.
No entanto, com essa metáfora, notamos que amor
é complemento, nunca divisão. Afinal, o amor não pode conviver com a suspeita. A
mitologia explica perfeitamente essa relação entre Cupido e Psique. Segundo os
mitos, Cupido, também conhecido com Amor, era o deus equivalente em Roma ao
deus grego Eros. Filho de Vênus e de Marte. (o deus da guerra), andava sempre
com seu arco, pronto para disparar sobre o coração de homens e deuses. Teve um
romance muito famoso com a princesa Psique, a deusa da alma. Sendo Psique uma
divindade que representa a personificação da alma. Sua história é uma alegoria que
fala da alma humana, que é purificada por paixões e desgraças e, é preparada
para desfrutar da verdadeira e pura felicidade. Psique como a deusa da alma é
representada como uma donzela com asas de borboleta.
Os elogios à beleza de Psique provocaram a ira
de Vênus, que não admitia um mortal ser mais admirada do que ela. Dessa forma,
chamou seu filho, Cupido, e pediu-lhe que castigasse a jovem. Cupido pegou nas
fontes do jardim de Vênus dois potes, um com água doce e outro com água amarga.
Quando a noite chegou, entrou no quarto de Psique e, enquanto a bela jovem
dormia, derramou em seus lábios gotas de água amarga. Porém, ao vê-la, ficou
encantado com sua beleza e tomado por um amor imenso. As gotas amargas
derramadas na boca de Psique dificultavam que ela chegasse à alma do ser amado.
Há dificuldade, mas não impossibilidade desse
amor permanecer. Cupido eleva o amor a um plano espiritual. Faz o encontro de
duas almas. Não há necessidade de ver seu rosto. A cumplicidade não convive com
traição, desconfiança, ciúme ou qualquer sentimento que vá contra a união de
duas almas. Porém, a linguagem figurada da criação bíblica caminha também nessa
direção. No entanto, Deus fez a mulher da costela de Adão. Não a criou da
cabeça nem do pé, ou seja, não está nem acima nem abaixo do homem, mas caminha
ao seu lado. Todavia, qualquer forma de ciúme é uma maneira de coisificar o
amor. Tenho posse de coisas, nunca de um amor verdadeiro. Dessa maneira, o
ciúme não expressa nenhuma forma de amor, pois, é movido pela desconfiança,
enquanto o amor confia; é insegurança, enquanto o amor é alicerce; é doentio,
enquanto o amor é saudável.
Portanto, o amor não pode conviver com a
suspeita. Conta à lenda que o tempo passou e tanto a Psique quanto o Cupido sofria
pela separação. Atento à causa dos amantes, Júpiter o maior planeta do sistema
solar, leva Psique a assembléia celestial e a tornou imortal. Psique e Cupido
se uniram e, dessa união, tiveram uma filha, cujo nome é “Prazer”. Contudo, Cupido, chamado também de Eros, convida-nos a
erotizar nosso relacionamento. Enfrentando tudo para viver o verdadeiro
amor.
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