Para
fundamentar essa prosa e transformá-la posteriormente em poema, recorro-me ao
filósofo alemão e crítico cultural Friedrich Nietzsche (1844-1900), que diz: “qualquer pessoa que ao pensar na possibilidade
de casamento ou de morar juntos, cada um deveria fazer a seguinte pergunta:
você acredita que será capaz de conversar com prazer com esta pessoa até o fim
dos seus dias?” A propósito, o casamento além de transitório, ele não foi
feito para a felicidade humana e sim para a organização social das famílias. Na
questão sexo, a situação é ainda mais complicada, sobretudo, pelo seu prazo de
validade, que dura em média de um ano a um ano e meio, como afirma a
psicanalista e escritora Regina Navarro Lins (1948), autora do livro: “A Cama na Varanda”. Segundo ela o
casamento é o lugar onde menos se faz sexo. Todavia, a preocupação de Nietzsche
vai além, pois, uma relação intima é recorrente de uma boa conversa. Sendo o
amor uma amizade constituída.
Nesta
perspectiva, vamos examinar de perto uma das coisas mais linda que a natureza
criou que é o encontro amoroso. Esse contato vivo de intimidade profunda, de
total embriaguez de espírito. O fato de estar encantado por alguém que nos
prendeu primeiro pelo olhar e depois pela conversa agradável é um dos momentos
que transcende. A boa prosa é o fermento para a preservação dos encontros
afetivos. Quantas qualidades boas se manifestam nesses encontros a começar pelo
carinho, admiração e a ternura. Pois, uma das coisas que mais gosto de fazer na
vida é conversar e conversar com a pessoa amada, é caminhar de mãos dadas pelo
paraíso ao encontro da divindade. Não é sempre que temos companhias tão ilustre
como da pessoa que amamos. É como se o amor estivesse de braços dados com a
alma. Nesse sentido, a pessoa que amo torna-se moradora cativa dos meus
pensamentos. Por exemplo, enquanto estou aqui escrevendo, você está aí lendo o que
acabei de escrever. Estamos conectados um ao outro. Você é fonte inesgotável da
minha inspiração, que se materializa nos meus escritos, como a representante máxima do meu coração.
No
entanto, a prosa torna-se aproximação física do que já existe na forma
espiritual. São atribuições que trago desde criança. Sobretudo, o gosto pela
prosa que herdei da minha saudosa mãezinha. Mas, foi através desse amor que
afinou a nossa prosa. Agora posso dizer que é uma longa conversa para a vida
toda, com um toque refinado de amor, que ganhou ritmo e harmonia dessa prosa em
poema. Neste sentido, a tese de Nietzsche reforça a importância do diálogo nas
relações afetivas, afirmando que trilhar por esse caminho é andar lado a lado
até o fim dos nossos dias, brindado por esse amor. Passei quatro anos e meio
pensando num verso que traduzisse a alma desse sentimento. No entanto, esse
amor está dentro de nós inquieto e vivo, como uma flor presa ao galho da sua árvore. Mas,
isto que brota do meu coração, está prestes a virar poesia nos seus lábios e
inundar a nossa alma, numa correnteza de emoção.
Da
prosa ao poema a gente compreende que pode entristecer-se com o outro por
vários motivos ou nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou
pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela
sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria
inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la. Se pelo
caminho como já aconteceu, encontrares uma alma que te queira bem, aceita em
silêncio o suave ardor da sua benquerença. Mas, não lhe peça coisa alguma, não
exijas e não reclames nada do ente querido. Receba com amor o que com amor lhe
é dado, porém, quanto mais querida te for essa alma, tanto mais lhe serve, sem
nada esperar. Pois duas almas que se tocam não impõe dever e nem obrigação. Se
não for assim, colocará em risco o amor, começando pela agonia dos corpos até a
separação das almas. Só num clima de absoluta espontaneidade poderá sobreviver
esta plantinha tão delicada que é o nosso amor.
Entretanto,
ainda que seus caminhos os separem conduzindo aos confins do universo, talvez a
mais extrema distância do calor corpóreo dessa plantinha. Se entre essa alma e
a tua existir afinidade espiritual, não há distância, não há no universo espaço
bastante grande que de você possa alhear essa alma. Mas, se não vigorar afinidade
espiritual entre ambos, poderá essa alma viver contigo sob o mesmo teto e
contigo sentar-se à mesma mesa, não será tua, nem haverá entre vós verdadeira
união e felicidade. Para uma pessoa apaixonada viver na paz, a proximidade
espiritual é tudo. A distância material não é nada diante de uma grande
afinidade amorosa. É isto que denota uma grande história de amor. Reconhecer
que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos
de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar autor da
própria história.
Portanto,
pior que a convicção do não e a incerteza do talvez, seja a desilusão de não
viver um grande amor. O que mais nos incomoda e nos entristece é saber que tudo
poderia ter sido e não foi. Basta pensar nas oportunidades que escapam pelos
dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel
por essa maldita mania de protelar. Sobra covardia e falta coragem até para ser
feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. A resposta nós
sabemos, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos
abraços, na indiferença dos cumprimentos. O nada não ilumina, não inspira, não
aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Para
aquilo que não podemos mudar resta-nos somente a paciência. Porém, para os
erros há o perdão e para o fracasso novas oportunidades, para um amor
impossível existe o tempo, nosso mestre. Pois só o tempo é capaz de entender um
grande amor.
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