Pode
haver uma educação construtivista? E a resposta é a princípio: não e sim. Não,
porque o construtivismo não é uma teoria pedagógica. Não é um conjunto de
normas e princípios a serem seguidos pelos educadores e pelos dirigentes de
educação nem uma metodologia a mais ou menos, igualmente eficaz em relação às
outras. O construtivismo é antes de tudo uma teoria epistemológica. Bom, mais
aí é preciso explicar estes dois termos. O que é uma teoria e o que é
epistemologia?
Teoria
é uma tentativa de explicação da realidade. Não é absoluta. É sempre uma
tentativa. Mas também não é uma receita de como atuar na prática. A teoria é
sempre prática e não prática. Ela é feita na prática e a partir da prática e se
constitui numa reflexão sobre esta prática, assim como qualquer prática que se
preze, também é feita na teoria e a partir da teoria. Portanto, o adágio “a
teoria é uma e na prática é outra”, é falso.
E o
que é epistemologia? Etimologicamente falando, significa o estudo da verdade. A
tradução disso para nós é o estudo do conhecimento científico – que é o que nós
ocidentais consideramos como conhecimento verdadeiro. Por conseguinte, tendo
presente, o que é teoria e o que é epistemologia, podemos voltar a falar do
construtivismo.
O
construtivismo nasce dos estudos e descobertas a respeito da produção dos
conhecimentos científicos de um suíço chamado Jean Piaget (1896-1980). É
bom lembrar que Piaget não era educador e nem psicólogo. Era biólogo que, como
cientista, interessava-se pelas questões gerais da ciência. Ele chegou à
conclusão de que para se entender como o ser humano produz o conhecimento
científico, era preciso pesquisar como é possível o cientista conhecer. E
falar-se do cientista enquanto conhecedor é falar-se da pessoa humana, que se
desenvolve e que, portanto, começa a conhecer muito antes de começar a fazer
pesquisas científicas. Começa a conhecer ainda quando criança.
Por
isso Piaget passou a buscar compreender os mecanismos de aquisição de
conhecimentos, que ocorrem durante toda a vida. Foi a partir de suas reflexões
e de suas experiências com crianças que chegou à conclusão de que o ser humano
constrói seu conhecimento. Ou seja, o conhecimento não se da devido a uma
capacidade inata, determinada pela carga genética das pessoas, nem é um
resultado direto da ação do meio exterior sobre o sujeito. O ser humano
constrói o conhecimento a partir de sua interação com seu meio. Meio este entendido
como físico e social.
Como
se pode dizer isso de um modo mais claro? O conhecimento é fruto de uma
relação. E relação nunca tem um sentido só. Tome-se, por exemplo, uma relação
de amizade. João não é amigo de Pedro; sem Pedro ser amigo de João. A amizade
só existe quando os dois têm amizade recíproca um para com o outro. Portanto, a
amizade não está nem no Pedro, nem no João, mas na relação que existe entre os
dois.
Assim
é o conhecimento. Ele só acontece na medida em que o sujeito age sobre o objeto
de conhecimento (que pode ser uma coisa, uma ideia ou uma pessoa) e sofre uma
ação deste objeto, ação esta que pode ser na forma de uma resistência do objeto
à ação do sujeito. Esta ação é, no caso da criança pequena, a ação prática de
mexer nos objetos. Já em crianças maiores, adolescentes e adultos, esta ação
passa a ser também o fato de raciocinar, duvidar, comparar. Trata-se, neste
caso, de ações mentais. E tem mais. O conhecimento objetivo só acontece quando
o sujeito enfrenta varias situações diferenciadas de interação com o seu meio –
não somente com o objeto que ele quer conhecer.
Quando
o professor passa a ter esta compreensão do ato de conhecer do aluno, sua
postura diante do fato educativo passa a ser completamente diferente. Falo aqui
da postura frente ao aluno, ao currículo, à avaliação, às metodologias, aos
erros cometidos pelos alunos. Por conseguinte, é por aí que se pode ver a
relação entre o construtivismo e a educação, pois uma prática pedagógica feita
a partir desta compreensão da realidade do conhecimento fica redimensionada em
todos os sentidos.
Portanto,
é por isso que a resposta a pergunta colocada no inicio desta reflexão também
pode ser sim, pois os reflexos de uma postura construtivista por parte do
professor na sua prática educativa são muito grandes, ainda que não esteja no
construtivismo a solução de todos os problemas da nossa educação brasileira.
Contudo, viver é não ter vergonha de construir a felicidade e semear educação
para assim, colher cidadania.
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