Há
algo de estranho e admirável no mundo. Pensar, por exemplo, que tudo poderia
simplesmente não existir, ou que sequer sabemos o que somos, para onde vamos e
qual o sentido de tudo isto. Para o filósofo e educador Sérgio Augusto Sardi
(PUCRS), “pode até causar vertigens, pois
são decisivas as muitas perguntas que surgem quando indagamos o sentido último
de tudo o que nos cerca”. Parece que começa aqui uma singular experiência
do pensamento, a filosofia, caminho trilhado desde a Grécia Antiga, ou ainda
antes. Mas, além de um começo na história, esse despertar está em cada um que
vivencia a mudança de percepção da realidade que as questões filosóficas
evocam. Assim como os gregos, um dia começamos a refletir sobre os mitos que
narram às origens, os porquês e a finalidade de tudo. Como eles, passamos a
estranhar aquilo que pensávamos ser trivial, a duvidar do óbvio e a buscar as
razões das nossas perguntas e respostas.
Na
verdade, qual o problema que moveu os primeiros filósofos? Eles se deram conta
de algo surpreendente: tudo muda, tudo está constantemente deixando de ser o
que era para vir a ser outra coisa. Nada permanece igual, sequer eu, ou você!
Eis que surge o outro lado da questão: se tudo está em transformação, como é
possível que o mundo, ou cada um de nós, continue a ser, de certo modo, o
mesmo? Deve haver algo, pensaram os gregos, que permanece idêntico, no fundo de
tudo o que se transforma. Um princípio de estabilidade e unidade, apesar da
multiplicidade e da mutação incessante de todas as coisas.
Tales
de Mileto (624-558 a. C.) e Anaxímenes (585-524 a.C.) buscaram esse princípio
no âmbito do visível. Julgaram ser algum tipo de matéria, como a água, ou o ar,
que se transformaria naquilo que observamos na natureza, podendo voltar a ser o
que era. Porém, outro pensador, Heráclito (535-475 a.C.), seguiu um caminho
diverso, propondo que a ordem do mundo estava no próprio vir a ser contínuo de
todas as coisas. Seria preciso ir além, e filósofos como Pitágoras (570-497
a.C.) e Parmênides (530-460 a.C.), dentre outros, pensaram a estabilidade e a
unidade do mundo a partir do invisível, chegando aos números e ao "Ser" como princípios. Inauguraram, com
isso, outro problema: o das relações entre conhecimento e realidade. A busca
prosseguiu com Demócrito (460-370 a.C.) e Leucipo (séc V a.C.), que conceberam
partículas indivisíveis, os átomos, a sustentar a existência do mundo, uma
ideia bastante familiar aos dias atuais.
Entretanto,
algo começou a mudar quando Sócrates (469-399 a.C.), nas ruas de Atenas, passou
a interrogar aqueles que diziam conhecer a verdade, até que se dessem conta de
que, no fundo, não a conheciam. Ele mesmo dizia saber apenas que nada sabia.
Livre de preconceito, cada um poderia fazer nascer, em sua interioridade, novas
ideias. Pois só começamos a filosofar quando percebemos que somos aprendizes do
aprender, e passamos a pensar sobre como pensamos. Com Sócrates, foi o próprio
homem o motivo de admiração e reflexão filosófica.
Platão
(427-347 a.C.) retratou, em diálogos, este método de educação de Sócrates, “a maiêutica”, assim como sua vida. Em “O Banquete”, disse que a sabedoria não
pertence ao ser humano, pois é algo divino, mas é preciso continuar a buscá-la,
ser “amigo da sabedoria”, ou seja,
filósofo. Sócrates se voltou contra os sofistas, que para tanto, buscavam
iludir, distorcendo argumentos. Assim, Platão passou a sua vida buscando
distinguir as aparências da realidade. Mas, para isso, precisou refletir sobre
a totalidade do mundo e do conhecimento humano.
Portanto,
Platão e seu discípulo Aristóteles (384-322 a.C.), conceberam o mundo como um “sistema”, algo como uma pirâmide de
ideias ou conceitos, onde no topo ou princípio, deveriam estar aqueles que
abrangessem a realidade como um todo, conferindo unidade e estabilidade ao
real. Na base, as coisas múltiplas e mutáveis que nos cercam. Discordam, porém,
sobre a relação entre essas ideias e o mundo. Aristóteles vai além,
desenvolvendo a lógica e os fundamentos das ciências, como, por exemplo, a “física”. De fato, o mundo atual seria
impensável sem o legado destes pensadores.
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