Atravessamos
por um momento difícil da nossa história e necessitamos urgente do
ressurgimento da ética, como necessidade histórica diante da crise social que
assola, os mais diversos aspectos da sociedade como: a política, a educação, a
saúde, a cultura e assim como também na religião. A ética, portanto, torna-se
um instrumento simbólico de intervenção a fim de moldar uma sociedade mais
voltada para o humano. O tema da ética visa orientar a sociedade para um agir
mais racional em vista do ser humano. Todavia, a ética também pode ser útil
para criar uma coesão na sociedade, uma unidade na diversidade, uma compreensão
do humano dentro das distinções culturais, um entendimento melhor sobre a teia
de relações que constroem o humano. A obrigação primeira do ser humano é ser e
agir como humano. E isso não vem acontecendo nem entre as melhores famílias.
Para
melhor fundamentar essa reflexão, vou recorrer ao filósofo grego Diógenes
Laércio (413-323 a.C.), que certa vez caminhava pelas ruas de Atenas com uma
lanterna acesa nas mãos em plena luz do dia. Pode-se considerar que era uma
atitude, à primeira vista, excêntrica. Será mesmo? Qual o significado desta
atitude no contexto cultural da Grécia Antiga? Para o filósofo mencionado, o
objetivo era encontrar um ser humano honesto apenas isso. No entanto, a sede
por ética desponta há tempo entre os seres humanos. Entre os gregos, no período
ético, destacam-se nesta reflexão dois grupos de pensadores ou duas escolas
diferentes: a escola estóica (estoicismo) e a escola epicuréia (epicurismo).
O
estoicismo foi formalizado por Zenão de Cítio (333-263 a.C.), em Atenas no ano
300 a.C. O termo significa “pórtico
pintado”, que era o local onde os membros da escola se reuniam. Para os
estóicos, a filosofia, a lógica e a ética estavam relacionadas. A ética não
existe na sociedade isolada do universo. Neste caso, é ético o que está de
acordo com a natureza pressuposta pelos estóicos. Como consequência, desponta um
certo grau de fatalismo, de determinismo ético: o ser humano deve aceitar os
acontecimentos como predeterminados. Um dos pressupostos da ética consiste na busca
da felicidade dentro da pólis. Mas, o que era ser feliz para os estóicos? A
felicidade (eudaimonia do grego)
consistia em assumir um comportamento fundamentado em três valores: a
inteligência para conhecer o bem e o mal, a coragem para saber o que temer e o
que não temer e a justiça para dar a cada um o que lhe é devido. A felicidade
estóica se baseava na busca da tranquilidade, num estado de autocontrole, de
austeridade, de ausência de perturbações, mesmo diante dos acontecimentos
contrários. A ética estóica perpassou os tempos e teve grande influência no
desenvolvimento do cristianismo, onde aparecem aspectos de determinismo, de
valorização do autocontrole, de submissão e de austeridade.
O
epicurismo foi fundado por Epicuro (341-270 a.C.), em Atenas no ano 306 a.C. Os
membros desta escola se reuniam num jardim “Kepos”.
Entretanto, defendiam como princípio ético fundamental para o ser humano a
felicidade que seria obtida através da tranquilidade e da serenidade. Porém, há
divergências com os estóicos em relação ao caminho para se chegar à felicidade.
No epicurismo, valoriza-se a inteligência prática: o ser humano age de maneira
ética quando deixa livre seus desejos e necessidades humanas naturais. Sendo
assim, o prazer é algo natural e a realização dos desejos humanos é algo
positivo. Os epicuristas também defendiam a moderação, o autocontrole, mas não
a negação dos prazeres e desejos. Diante desta valorização do prazer defendida
pelos epicuristas, surgiu uma interpretação distorcida de que o epicurista é
alguém voltado para uma vida de prazer, um hedonista.
Portanto,
a partir destas considerações, verifica-se que ambos, estóicos e epicuristas,
tinham como princípio fundamental da ética, a felicidade. Este é o ponto de
convergência entre estas duas escolas gregas. A felicidade é o princípio da
vida dos seres humanos. Toda a conduta humana, como a moral deve conduzir os
seres humanos à felicidade. Sobretudo, usar uma única coisa que é a
racionalidade. Assim sendo, o objetivo da ética consiste em descortinar
horizontes para a realização do próprio ser humano. Contudo, a grande
finalidade da ética e da moral é a busca da harmonia, da felicidade e da união
cósmica com o universo e com a divindade. Porque, dialogar é dividir amor e conviver com
sabedoria. Seja ético. Ter paciência e saber ouvir o outro também é ser ético.
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