Tornamo-nos
mais humanos quando sabemos que vamos morrer, pois aí nos diferenciamos de
outras espécies, pela consciência que temos da morte. Porém, como argumenta à
filósofa e educadora Scarlett Marton (1951) da Universidade de São Paulo (USP): “nunca somos vacinados contra a morte. Quando uma pessoa próxima morre,
precisamos enfrentar algo novo”. Se a morte nos faz refletir, tanto mais a
morte através do suicídio nos traz interrogações profundas sobre o sentido de
como levamos a nossa existência. Tanto é que o escritor, dramaturgo e filósofo
francês Albert Camus (1913-1960) Premio Nobel de Literatura em 1957, afirmou
que: “só existe um problema filosófico
realmente sério: o suicídio”.
No contexto
contemporâneo, vive-se uma situação paradoxal: por um lado, a banalização da
morte. Fala-se dela o tempo todo. Basta olhar ou abrir os jornais. São notícias
de guerras, terremotos, acidentes e tragédias, homicídios, mortes no trânsito.
Então, por que a morte ainda é vista como escândalo? E o suicídio, por que
ainda é encarado como algo proibido e como um tabu? O suicídio é um
questionamento inquietante aos que continuam vivendo: Qual a motivação? Que
sentido tem? Que ensinamentos tiramos disso?
No
jovem, certo espírito de contestação ou mesmo de afronta à sociedade, muitas
vezes pela via das drogas, o suicídio aparece como um atalho ou morte
prematura. O que estaria levando muitas pessoas à contestação suicida? Seria
desespero diante de um mundo sem saídas? A pressão do dia a dia nas grandes
cidades, o corre-corre, as cobranças. Um desprezo irresponsável por regras de
convivência e civilidade? O que mais? Quando esvaziados os sentidos, as pessoas
se lançam numa contramão desesperada, talvez como forma de dizer ao mundo que
ainda há tempo para mudar o curso da história.
Pode
ser que o grande medo não seja tanto o de perder a vida, como mostra o avanço
do número de suicídios entre adolescentes e jovens, mas o medo de perder o
sentido da vida ou mesmo de não ter um sentido para perder. A falta de
perspectivas, o desemprego e a violência são alguns dos fatores apontados por
especialistas que contribuem para elevados índices de suicídio no mundo
contemporâneo. Também doenças como depressão e transtorno de bipolaridade
tornam adolescentes mais vulneráveis ao suicídio. E o que dizer da moda “suicida”, em que a busca pela
jovialidade e pelo manequim ideal cria cada vez mais vítimas? A cultura
ocidental, materialista, tende a negar ou disfarçar o fenômeno da morte certa,
com as ideias de beleza e juventude eterna, pelos quais existe uma grande
pressão pelo sucesso a qualquer custo.
Muitos
jovens, em seus atos suicidas, querem expressar alguma dor, como diz a música “Há Tempos” da banda Legião Urbana, na
letra e voz de Renato Russo: “Disseste
que se tua voz tivesse força igual à imensa dor que sentes, teu grito acordaria
não só a tua casa, mas a vizinhança inteira”. Como argumenta a jornalista e
pesquisadora Paula Fontenelle no seu livro: “Suicídio – O futuro interrompido”. Afirma que: “a maioria quer dar fim à dor, não
necessariamente à vida. Por esse motivo, mais de 90% dão sinais de alerta na
tentativa, às vezes inconsciente, de receber ajuda e voltar atrás na decisão”.
Portanto,
o sentido da morte depende do sentido que damos à vida. Julgar se a vida vale
ou não a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia. O
suicídio suprime o problema muito mais do que o resolve, somente o amor não o
suprime, porém, resolve mais ou menos enquanto estamos vivos, e nos mantém
firme na esperança. Se a vida vale ou não a pena ser vivida, melhor dizendo, o
prazer de ser vivida, depende primeiro da quantidade de amor de que somos
capazes de doar. Pois o amor é o combustível da vida. Este sim precisa ser
repensado. Contudo, são as doenças de fundo emocional que inibe os estímulos da
vida e reprime a capacidade de amar. Negar o amor é negar a vida.
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