A
escola é a grande viagem para a existência humana. É a ponte entre a família e
a sociedade, que atualmente ambas estão divorciadas da educação dos jovens.
Embora as famílias tenham poder sobre os filhos, mas, perdeu a autoridade sobre
eles. Por outro lado, a escola tornou-se o maior problema do país no aspecto
estrutural, diga-se de passagem, a mais anacrônica de todas. Lembrando que na
escola existe uma relação de justiça com seus alunos, mas, na prática não é bem
assim. Para que funcione, é preciso existir por parte do professor uma relação
de amor para com a educação. Caso contrário põe em risco o princípio de
justiça. A relação professor e aluno é pautada na verticalidade, isto é, uma
relação vertical, de autoridade do mestre sobre o aluno. Toda autoridade é uma
relação vertical. Em que está baseada essa autoridade? Está baseada na
especialidade do profissional. Por exemplo, a relação médico e paciente é uma
relação de autoridade do médico sobre seu paciente. Sendo assim, o professor
também é um especialista da educação, pois trabalha com ensino-aprendizagem. O
individuo se torna humano pela educação e pela cultura.
No
entanto, hoje temos uma educação engessada, com uma proposta pedagógica simples,
para um mundo complexo. Educação se faz através do encontro humano. Produzir um
conhecimento prudente para uma escola descente, propor como reflexão pontual o
momento histórico. As faculdades pode até formar bons profissionais, mais não
sabem formar pessoas com espírito humanista. Como diz o filósofo e teólogo
Leonardo Boff (1938): “ninguém vale pelo
que sabe, mas, pelo que faz com aquilo que sabe”. Contudo, temos uma escola
do século XIX, muito próximo da linha de produção, que vai moldando o ser
humano para um mundo tecnicista. A escola é uma caixa de terror, um vigiando o
outro, a convivência entre esses profissionais é péssima. Para entender a
escola temos que entender a educação, que também está ruim. O professor é do
século XX, que não cultiva o hábito da leitura e muito menos da escrita. Os
alunos que estão chegando a essa escola é do século XXI, domina com facilidade
a tecnologia vigente, a internet.
Entretanto,
se for verdade o que escreveu Platão (427-347 a.C.), que tudo que está na alma,
toca a alma do outro. Então, como pode um professor que não gosta de ler,
passar o gosto da leitura para seus alunos? Como pode um professor que não
gosta de escrever, passar o gosto da escrita para seus alunos? Como pode uma
geração de professores que não pesquisa, formar alunos pesquisadores? Como pode
uma geração de professores que não tem pensamento crítico, formar senso crítico
no aluno? Como pode um professor que não é sensível, formar sensibilidade em
seus alunos? Como argumenta o filósofo e educador Paulo Freire (1921-1997): “Só uma geração de professores leitores,
produzem uma geração de alunos leitores. Só uma geração de professores
escreventes, produz uma geração de alunos escreventes e no meio deles alguns
escritores. E entre esses escritores um ou dois literatos”. Nossas escolas
parece mais com um arquivo morto a espera de um milagre. A primeira mudança que
caberia na escola, seria a sua humanização.
Como
muito bem argumenta a filósofa, educadora e escritora mineira Adélia Prado
(1935): “não quero faca e nem queijo,
quero é fome”. Este silogismo é de um princípio pedagógico fantástico,
porque põe em evidência a nossa educação. Se tiver a faca e o queijo, e não
tiver a fome, não se come queijo. Porém, se quiser comer queijo e não tiver
faca e nem queijo, damos um jeito e arrumamos o queijo. Com essa metáfora,
conclui-se que a educação é a faca e o queijo que está sendo oferecido aos
estudantes, portanto, cabe aos professores despertar nos alunos o apetite e
gosto para o conhecimento. Todo professor consciente do seu papel, sabe que sua
tarefa é orientar o aluno em seu aprendizado, tornando-o mais crítico, buscando
sempre seu êxito e não seu fracasso. Sua relação com os alunos é uma relação
profissional que deve potencializar o aprendizado amplo, isto é, de conteúdo
moral, ético, filosófico e outros, que inevitavelmente permeiam as aulas ou
como temas transversais, ou como assunto que transcendam os currículos. É
importante que o professor transmita valores de forma explícita aos jovens
estudantes. Tendo em vista, que nenhum professor passa pelos seus alunos sem
deixar sua marca. Na verdade, ele é um formador de opinião e esse é o lado
político da educação.
Quanto
maior for à afinidade entre professor e aluno, melhor será a sua influência do
processo ensino-aprendizagem, pois mais facilmente os alunos compreenderão o
sentido de estudar o que está sendo apresentando pelo professor e terão a
curiosidade de buscar novas informações, que possam complementar o seu
conhecimento. Porém, todo professor autoritário não se importa em saber o que
seus alunos pensam. Esse tipo de professor segue a linha pedagógica
tradicional. Aquela que o professor ensina e o aluno deve aprender. Não há trocas
nessa relação. Provocando com isso revolta nos alunos ou uma passividade
completa, levando-os a não querer fazer nada além do proposto. Trata-se daquele
professor que passa muitas atividades, das quais ele se ausenta, para ocupar a
turma, afim de não ser incomodado e manter a sala de aula em silêncio. Como
afirma Paulo Freire: “que o bom professor
é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento do
seu pensamento. Sua aula é um desafio e não uma cantiga de ninar. Os alunos
ficam atentos e acompanham as idas e vindas de seus pensamentos, que os surpreendem
causando espanto frente ao novo”.
Portanto,
o diálogo ainda é a arma mais importante para o professor criar uma boa relação
com seus alunos. Através do diálogo que mostramos aquele respeito que nossos
alunos tanto precisam dar e, principalmente, receber. Acredito que esse espaço
não seja dado pela maioria das famílias em seus lares, por isso os alunos não
sabem negociar regras e limites. Por conseguinte, estamos vivendo a ética do
óbvio, do semear, disseminar e plantar o futuro. Questionamos qual mundo vamos
deixar para os nossos filhos e não pensamos nos filhos que vamos deixar para
esse mundo. Contudo, quando tomarmos consciência de que o nosso tempo aqui é
limitado, aí vamos nos concentrar no que é mais importante para cada um. Vamos
buscar dentro de nós aquilo que mais nos interessa. Tendo em vista, que a vida
traz pessoas queridas e momentos de felicidade, que um dia será tomado de volta.
Não encontramos explicações porque essas coisas acontecem conosco, mas com o
tempo nos conformamos, na esperança de que ainda haveremos de entender o
verdadeiro sentido da vida. Talvez esses jovens de hoje precisarão ficar idosos
para compreenderem que a vida não tem sentido algum, se não damos um
significado existencial a ela. Hoje sinto no meu ímpeto, que permeia uma
vontade amorosa e um desejo profundo de melhorar esse mundo em que vivemos.
Morreria feliz se um dia os jovens fizessem isto por mim.