Quando o
amor sai de cena, a vida perde o colorido, nada mais faz sentido, o prazer é
transformado em angustia, a relação conjugal vira uma cadeia fria, até parece
que ambos estão vivendo uma vida marcada de obrigações. Porque afinal de contas
à idéia que se faz do casamento é para sempre, mesmo que não haja mais amor. As
pessoas com o tempo não percebem mais essa relação, não percebe mais o outro,
porque acabou o diálogo e o respeito, sobretudo, o amor. Como dizia o filósofo,
crítico cultural e escritor alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), ao pensar
sobre a possibilidade do casamento, cada um dos cônjuges deveria fazer a
seguinte pergunta: “você crê que será
capaz de conversar com prazer com esta pessoa até o fim da sua vida?”
Porque tudo mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o
tempo, são aquelas construídas sobre a arte da boa conversa.
Parece
que o amor ficou fora de moda e o sexo tornou-se mais atraente. É comum ver
casais vivendo uma vida de fachada, de aparência. Todos conhecem a estória da “raposa e as uvas”, da fábula do poeta e
fabulista francês Jean de La Fontoni (1627-1695). Pessoas vivendo uma situação
nada confortável no casamento e dizendo que está uma maravilha a vida conjugal,
quando na verdade, está na cara de ambos que estão infelizes. Estão
racionalizando uma situação infernal de ruim. Ninguém é feliz vivendo assim. A
estória do limão doce, chupando limão e dizendo que está uma delícia. Isto
acontece com muita frequência na vida de todos nós que não pensamos diferente,
seguimos a tradição dos nossos pais e vamos repetindo os mesmos erros deles. Esta
indiferença sobre o amor contaminou os sentimentos e tem afrouxado muito os
relacionamentos conjugais. Os tempos são outros. Por outro lado, uma vida sem
sentido, sem graça, vazia, produz doenças, todos sabemos. As pessoas,
principalmente depois de algum tempo de casadas, têm dificuldades para dizer,
por exemplo: “agora eu não te amo mais”. Conheço histórias em que pessoas
levaram anos para se convencer de que não estavam mais interessadas um no
outro. Sentimentos de culpa cristalizados.
O ideal
nesses casos, pelo menos seria, usar da franqueza e dizer: “Olha, acho que não
estou mais interessado em você. O encantamento e o carinho estão
diminuindo muito entre nós. Já estamos há algum tempo juntos, temos patrimônio,
costumes, filhos, etc. Que tal esquecermos que somos marido e mulher, que temos
que se amar a vida inteira. Talvez conseguíssemos estabelecer uma meia
sociedade entre nós, um clima de amizade e respeito pela individualidade um do
outro, que seria um fruto amadurecido do amor que existiu entre nós. Não quero
que você fique privado de amor até o fim da vida. Assim como também, não vou me
privar de amor. Temos pelo menos um bom pedaço de vida em comum, uma amizade
razoável de boa qualidade. Vamos continuar nossa caminhada como amigos, mas,
cada um seguindo o seu caminho sem mágoas e sem rancor”. É tão evidente que o
amor vai e volta, mesmo quando se gosta muito de uma pessoa. Há outros
interesses na vida diária de cada um. Esta situação tem afrouxado os laços
matrimoniais. Mas, o que se observa é que as pessoas continuam aí sem se mexer.
Talvez por força da tradição, da educação que recebeu dos pais, pela pressão
familiar, querendo mostrar um casamento ideal que nunca existiu.
Quando a
gente diz isto, todos ficam de cabelo em
pé. Aflora todo um preconceito e
os maus sentimentos vêm juntos. Preferem toda aquela novela da separação, dos
filhos que vão sofrer, da sogra que não quer a separação porque a filha está
muito bem casada, o drama do ciúme. Deveriam chegar a conclusões mais claras e
óbvias. Por que, se deixei de amar, tenho que odiar ou perseguir o outro? Ou
então me sentir culpado? Ninguém é culpado porque ama ou porque deixou de amar.
Se cuidar bem do amor, às vezes ele dura um bom tempo. Se não cuida ele acaba
mais ou menos depressa. As pessoas realmente se divertem com pouco. Por que não resolver
as coisas com naturalidade, serenidade e humanamente? Ninguém pode garantir que
amará a vida inteira. Quem pode fazer esta promessa? Acabou-se o interesse
entre duas pessoas, nem por isso precisam se maltratar. É o que
muitos casais começam a fazer. Quando chega neste ponto, pensa-se logo na
existência de outra pessoa. Às vezes têm e às vezes não têm. Não precisa ter
outra pessoa para deixar de amar. O amor pode acabar simplesmente.
Entretanto,
o nosso amor é uma miséria. Amamos na proporção do tamanho da cabeça de um
alfinete e achamos que é um grande amor. Um amor que só serve para provocar
brigas e cobranças. Somos egoístas até no momento de amar. Esquecemos que o
amor é doação, um entregar-se constante. As pessoas esqueceram do mais
importantes. Quando estão morrendo numa situação que não têm sentido para elas,
sua primeira obrigação é reconquistar a sua vida, isto é, seguir os interesses
vivos que estão a sua volta, que as fazem sentir viva. Podem ser uma pessoa, um
curso ou um trabalho, como realização profissional. Ela tem que experimentar,
para proteger a sua vida e continuá-la.
Portanto,
precisamos de um tempo para refletir sobre a manutenção deste amor. Olhar a
situação de fora e sentir se estamos no caminho certo. Nós somos muito mais
caprichosos, irregulares e desonestos do que dizemos. Um dos grandes enigmas da
vida real da humanidade, é que não somos flor que se cheira, que não somos
fácil de lidar. Quando se fala dos seres humanos, é de uma santidade e
honestidade que nunca vi em lugar nenhum. Nega-se a maldade e ela aparece por
todos os lados. Quando vamos pensar diferente? Contudo, quando o amor sai de
cena, só é possível compensar à situação a custa de muito diálogo e boa
vontade. Havendo um pouco de admiração, simpatia e afeição já se têm um lar
muito afável e acolhedor, que é um bom começo para se viver num clima de
harmonia. É bom lembrar que o estado mais gostoso da vida é quando a gente se
encanta com uma pessoa. E nós vivemos proibindo e negando isto. Até parece que
todo mundo tem que ser escravo e viver infeliz, chorando pela vida toda. Se for
infeliz onde vive, com certeza está fora de lugar. Vá ao encontro da sua
felicidade. “Encontre a Paz Interior”.