Na cama repousa o amor é uma
metáfora, pois, quando encontro o outro, posso estar encontrando o meu oxigênio,
se ambos estão encantados pode-se dizer que vai haver um banquete de amor.
Naturalmente, vai acontecer um mergulho na essência da vida. Significa que
encontramos nossa parte perdida. Para o dramaturgo grego, considerado o maior
representante da comédia antiga, Aristófanes (447-386 a. C.), cada um de nós é
um ser pela metade. De um passaram a ser dois, disso resulta à procura de todos
pela sua metade complementar.
Um dos sentidos da vida,
para Aristófanes é unir-se ao objeto amado e com ele fundir-se, para formarem
um único ser. A razão disso é que, primitivamente, nossa natureza era assim,
nós formávamos um todo homogêneo. A saudade desse todo e o empenho de restabelecê-lo é o que Aristófanes chama de amor.
Para ele, a nossa espécie só
poderá ser feliz quando realizarmos plenamente a finalidade do amor e cada um
de nós encontrarmos o seu verdadeiro amor, retornando, assim à sua verdadeira
natureza. Repousar é descansar na cama do deus Eros. O
deus do amor. Afinal, qual o nosso conceito de amor? Para ilustrar, conto uma
história de uma criança que não sabia o que era o amor.
Em uma sala de aula havia
várias crianças. Quando uma delas perguntou à professora: - Professora, o que é
o amor? A professora sentiu que a criança merecia uma resposta à altura da
pergunta inteligente que a fizera. Como já estava na hora do recreio, pediu
para que cada aluno desse uma volta pelo pátio da escola e que trouxesse o que
mais despertasse nele o sentimento de amor.
As crianças saíram
apressadas e, ao voltarem, a professora disse: - Quero que cada um mostre o que
trouxe consigo. A primeira criança disse: - Eu trouxe esta flor, não é linda? A
segunda criança falou: - Eu trouxe esta borboleta. Veja o colorido de suas
asas, vou colocá-la em minha coleção. A terceira criança completou: - Eu trouxe
este filhote de passarinho. Ele havia caído do ninho junto com outro irmão. Ele
não é bonitinho? E assim as crianças foram se colocando.
Terminada a exposição, a
professora notou que havia uma criança que tinha ficado quieta o tempo todo.
Ela estava vermelha de vergonha, pois nada havia trazido. A professora se
dirigiu a ela e perguntou: - Minha querida, por que você nada trouxe? E a criança,
timidamente, respondeu: - Desculpe professora. Vi a flor e senti o seu perfume,
pensei em arrancá-la, mas preferi deixá-la para que seu perfume exalasse por
mais tempo no seu habitat. Vi a borboleta, leve, colorida! Ela parecia tão
feliz que não tive coragem de aprisioná-la. Vi também o passarinho caído entre
as folhas, mas ao subir na árvore notei o olhar triste de sua mãe e preferi
devolvê-lo ao ninho. Portanto, professora, trago comigo o perfume da flor, a
sensação de liberdade da borboleta e a gratidão que senti nos olhos da mãe do
passarinho. Então, como posso mostrar o que trouxe? A professora agradeceu,
pois, essa aluna foi à única criança que percebera que só podemos trazer o amor
no coração.
Num dado momento da vida, vai
existir uma parte de alguém que seguirá conosco. Uma metade de alguém que será
guiada por nós e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração.
Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de
instantes de alegria. Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que? Faltará
a metade dele que ainda não está junto de nós. Até que um dia, cansado de estar
dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade
própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que
faltava.
Na concepção dos gregos
antigos, o amor não devia tornar-se prisioneiro do corpo, mas elevar-se gradativamente,
até o cimo, onde ficam as essências absolutas: a verdade, o belo e o bem. Essa
passagem do corpo ao espírito é a expressão da dialética ascendente de Platão.
Na parte inferior havia o mundo das sombras, produtor de ilusões, e os objetos
sensíveis. No outro extremo, o mundo inteligível. Todo processo de conhecimento
dá-se em uma ascensão do mundo obscuro, das sombras, ao luminoso mundo das
ideias. Para Platão, o amor é a busca da beleza, da elevação em todos os
níveis, o que não exclui a dimensão do corpo. Amor é o nível ou grau de
responsabilidade, utilidade e prazer com que lidamos com as pessoas que amamos.
Quando percebemos que o
outro é um ser humano e não a personificação de nossas fantasias, nos
ressentimos e reagimos como se tivesse ocorrido uma desgraça. Geralmente
culpamos o outro. O que ninguém pensa é que somos nós que precisamos modificar
nossas próprias atitudes. Mas sempre que encontramos alguém disposto, capaz de
por fim ao nosso desamparo, viramos as costas, muitas vezes por medo, dúvidas
ou por desconfiança. Criamos um escudo invisível, uma espécie de blindagem.
Sempre que alguém se propõe, nos acovardamos, esperando que um dia o grande
amor venha ao nosso encontro. Estamos todos mais ou menos envenenados. Temos
medo da solidão, assim, como também temos medo da entrega. Afinal, o que
buscamos nas relações afetivas? Parece que passamos a maior parte da vida
adulta tentando recuperar algo que perdemos com o nascimento, em vez de irmos
atrás da construção de nossa história que nem sequer começou. Todavia, quando
estamos diante de alguém que nos desperta emoção, o coração acelera, penso
estar aí à gênese do amor, somos tomados por uma ternura que nos convida para
uma fusão. Começa brando, suave e macio e aos poucos vai contaminando todo o
nosso ser, da cabeça aos pés.
O amor tem duas funções que
quase se confundem, mas podemos descrevê-las como se realmente fossem duas. A
primeira é levar-nos à descoberta de nós mesmos enquanto pessoas que somos e
capazes de amar. A segunda é pôr-nos em contato com a divindade, a eternidade,
o infinito ou o ilimitado. Isto só se dá entre duas pessoas que se proponham a
viver um romance ou um caso amoroso.
O amor nos ensina que há
infinito em nós, mas que não somos infinitos. Esse infinito faz parte da
criatura humana, mas o meu eu não é
infinito. O amor capaz de nos ensinar estas duas lições é certamente um amor
abençoado. Quando este amor, além de sentimento e compreensão se faz também
contato como: aconchego, trocas calorosas, muita carícia e contato físico,
podemos dizer que temos aqui um amor perfeito. Talvez por isso o amor seja
triste. Ele nos acena, ele nos afirma e ele nos ensina que não há limites para
vivermos essa realização plena e integral.
Portanto, quero acordar ao
lado da amada, com o lençol bagunçado, tomar o café na cama, as cortinas bem
abertas. Quero abraço apertado, mordidinha na bochecha, beijo de língua
demorado. Quero banco do passageiro ocupado, cinema à tarde, tempo para nós
dois. Quero seu riso estampado, seu cheiro espalhado, nossa música na rádio.
Quero pintar nossa casa da mesma cor do nosso laço, colar você no meu abraço,
fazer amor. Quero sussurrar no teu ouvido, ouvir seu pior ruído, que você seja
meu livro mais lido. Quero acima disso tudo, você numa sexta feira à tarde sem
preocupação, nós a sós, dividindo nossas vidas em uma só cama. Só quero amar,
não sei se quero acordar.
Quero acima disso tudo, você numa sexta feira à tarde sem preocupação, nós a sós, dividindo nossas vidas em uma só cama. Só quero amar, não sei se quero acordar. lindo seu texto, podermos viver este amor, e colher dele as flores vivas...bjim em seu lindo coração
ResponderExcluir