Qualquer separação afetiva implica em sofrimento e dor. Só avaliamos a importância do amor em nossa vida,
quando o perdemos. Quem são as pessoas que sabem amar? Por acaso são as que se
comportam de forma autodestrutivas? Ou aquela que só enxerga o lado negativo do
amor? São essas pessoas que se anulam e se escondem pelos cantos? São pessoas
arbitrárias diante do amor. Aprender a dar e receber amor são tarefas que
começa desde cedo. Mais precisamente na infância. O desempenho do bom
relacionamento amoroso depende desse saber dar e receber, sem cobrar ou exigir
do outro que se comporte de acordo com as minhas expectativas.
O psicanalista austríaco a
quem se deveu a fundação do Círculo Vienense de Psicologia Profunda, Igor
Caruso (1914-1981), argumenta no seu livro: “Separação dos
Amantes: Uma Fenomenologia da Morte”, mostrando os tipos de amor e, em que
condições sociais rígidas forçam a separação em favor da harmonia estabelecida.
Caruso foi o primeiro pensador que se dispôs a estudar o que acontece com os
dinamismos psíquicos e as forças defensivas quando a separação forçada e
repentina dos amantes se efetua mediante “esforço de vontade” e por “razões
objetivas”, no momento máximo da relação amorosa.
A capacidade de entrar em
sintonia com os desejos do parceiro é a marca do amor duradouro. No cérebro de
quem está apaixonado, ocorre à ativação do sistema de recompensa. Esse sistema
é mais primitivo: leva o ser humano a buscar alimentação, proteção e sexo. Quando
o sentimento evolui, regiões mais refinadas são acionadas. São áreas menos
relacionadas a emoções básicas e mais ligadas à empatia. É pelo DNA que sela
esse amor. Ambos se descobrem pelo DNA. A chamada afinidade um pelo outro.
Portanto, o amor é um fenômeno instintivo, não escolho quem amar.
Entretanto, a vítima do
abandono amoroso não escapa de vivenciar o gosto da morte. Para Caruso, o tema
da separação identifica-se com a eclosão da morte psíquica na vida dos seres
humanos. Quando se perde o outro, que era tudo, o que fica é o nada, o vazio,
uma ausência tão profunda que só pode ser equiparada à da morte.
O ser amado, ao ser o tudo,
passa também, numa operação psíquica de transporte da identidade, a ser o
próprio eu do apaixonado. A sensação é a de que há um prolongamento do eu no
outro. Ora, com a perda do outro vem junto também o desabamento psíquico do eu
e aí está a catástrofe em seu aspecto mais funesto: a separação amorosa é,
sobretudo, mortificante porque provoca um abalo ontológico correspondente à
perda de si próprio. Os que vivenciam essa crucifixão têm a percepção da auto
desintegração. Por isso, a separação nos torna tão dolorosa, apresenta-se
semanticamente potente porque nos remete à atomização do ser e seu desabamento
na existência. Precisamos ser fortes, sem esquecer que somos humanos.
Portanto, a experiência da
dor, que acabamos de descrever, é inerente à paixão amorosa: a posse, por
natureza, traz o seu reverso. A história do amor vista através da literatura e
da arte, aponta incessantemente para a separação dos amantes. Há sempre os
intransponíveis obstáculos a separar os que se amam. Colocando o obstáculo e a
transgressão como elementos constitutivos do amor. Por que agimos contra o amor?
O amor pode ter acabado do ponto de vista racional, mas o cérebro continua a
mandar os estímulos que causam reações físicas ainda que ele tenha as
lembranças ruins do relacionamento. As impressões formadas no namoro ficam no
cérebro. A dor provocada pela separação amorosa inscreve-se entre as mais
difíceis de suportar, porque se trata de uma situação em que o prazer perdido é
muito grande. Tendo em vista, que o amor é irracional, instintivo. Não explica, simplesmente se ama.
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