Para Naumi Vasconcelos
torna-se possível o desenvolvimento de novos conceitos sobre a sexualidade
humana assunto esse discutido no livro: “Os Dogmatismos Sexuais”. De acordo com
o citado pela autora o sentido da palavra “dogmático”, refere-se ao
procedimento cognoscitivo. Ou seja, que possui aptidão para conhecer; que tem a
faculdade de conhecer, com a característica de basear-se em pressupostos, a
título de princípios explicativos e necessários.
Entretanto, essa crítica
sobre os dogmatismos sexuais, argumentado no livro desenvolvido pela autora,
por meio de avaliações históricas e culturais em torno da sexualidade humana.
Sexualidade essa imersa na temporalidade, recebendo sua revelação vivencial,
suas formalizações conceituais, sua expressão estética e seu tratamento moral e
social.
A sexualidade é apresentada como sendo uma
descoberta do corpo, como uma dimensão da nossa afetividade. Uma elaboração
pessoal e criativa dessa dimensão afetiva, que não “nasce” já determinada. É um
processo em busca do aprimoramento, enquanto a sexualidade humana é
essencialmente erótica, isto é, voltada para a sensualidade, para a erotização do
outro. Todavia, o leitor pode sentir-se convidado ao decorrer da leitura
colocar a própria vida em questão ao questionar a sexualidade. Descobrir em si
mesmo as resistências à verdade, na medida em que se analisa o assunto.
Vasconcelos aponta para uma
sociedade urbana e industrializada e ao mesmo tempo propõe, que se leve em
consideração no domínio da sexualidade o fato de que seus dados teóricos, sua
tematização sobre dados reais, originam-se de uma interpretação vinda, na
maioria das vezes, dos confessionários e das clínicas psiquiátricas, criando-se
dessa forma uma interpretação de acordo com um sistema moral/religioso e
psicológico.
Porém, coloca que ao
observar as dificuldades de cura sexual, tanto no plano moral do pecado, quanto
no plano psíquico das impulsões, torna-se impossível deixar de citar a duvidosa
validade de grande parte de uma pastoral e de uma psicanálise da sexualidade. É
citado como ineficaz e isso mostra a necessidade de uma busca das evidências
originárias da atividade sexual humana, de uma revisão radical dos postulados a
esse respeito, e de um procedimento metódico apto a abrir vias mais fecundas
para o tratamento interpretativo de suas evidências espontâneas.
É sugerido interrogar a
sexualidade humana e ver nela todo um leque de expressões diversas, conforme as
culturas. A cultura, considerada como característica da existência, “desperta
no homem, maiores possibilidades de comportamentos que as que nos são reveladas
por suas predisposições, sua estrutura inata e suas necessidades fundamentais”.
Será interessante considerar as pesquisas etnológicas relativas ás formas de
união sexual, de iniciação sexual, os papéis da mulher e do homem, do pai e da
mãe, etc. Assim como é importante observar o desenvolvimento do erotismo,
nitidamente um fenômeno cultural – que se pense na erotização do rosto
desconhecida no estado arcaico e ainda ignorada em certas civilizações.
A sexualidade humana não
pode, portanto, mesmo em seu aspecto fisiológico, ser estudada fora de uma
dinâmica geral da personalidade, que lhe ordena a atividade e o
desenvolvimento. Por outro lado, as contribuições da antropologia e da sociologia
atestam na sexualidade humana uma variabilidade de usos e de costumes, que
confirmam a sua plasticidade, contrária a um esquema inato igual a uma natureza
sempre idêntica a si mesmo.
Uma sexologia não poderá se
apresentar com aquele caráter de precisão científica e de simplificação
axiomática que os nostálgicos de um esquema físico-matemático gostariam de
emprestar-lhe. Como o observa Gusdorf, “o caráter comum das ciências humanas é
o de colocar em questão a realidade humana em seu conjunto”. Daí, as numerosas
dificuldades que obstaculizam o desenvolvimento desse saber. Nesta busca para
um maior entendimento sobre a sexualidade, cabe o citado no livro, toda
pesquisa, uma vez realizada, é uma pesquisa ultrapassada, porque ao mesmo tempo
a realidade humana se encontra transformada, e tudo está para ser recomeçado.
Esse atraso do saber em relação à atualidade para sempre inacessível,
indeterminada não é um atraso cronológico, uma distância que se poderia um dia
romper de um salto, mas um atraso ontológico.
De acordo com o colocado
pela Naumi Vasconcelos no apêndice, será necessária uma educação sexual?
Considero ser tão importante quanto à pergunta acima, outra colocada pela
autora, seria necessária uma deseducação sexual? Pode ser que essa deseducação
auxilie na educação sexual humana.
Por conseguinte, a
autora ressalta que é importante fazer uma distinção entre espaço estrutural,
espaço vivido e espaço cultural. O espaço estrutural se refere ao espaço
objetivo, estruturado por cada sociedade, de acordo com suas finalidades,
funções e nível tecnológico, este espaço é vivido diferentemente por cada
sociedade e dentro delas pelos grupos e pelos indivíduos. Assim, surge o espaço
vivido como espaço subjetivo, ligado a um comportamento social; o espaço
cultural engloba também o espaço vivido, é um espaço denominado pela autora de
geo-simbólico, de comunhão com um conjunto de signos e de valores. Com a colocação
feita pela autora, fica demonstrado a importância da contribuição realizada por
todos os que veem a importância do entendimento da sexualidade humana: podemos
assim dizer, a propósito da sexualidade humana, que é a busca de sua verdade
que faz a sua história, e que nessa busca cada existência é chamada a dar sua
contribuição significativa para a colheita interminável de significação diante
do seu significado real. Somos uma sexualidade em evidência.
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