René Descartes (1596-1650),
considerado o pai da filosofia moderna, foi ele depois da Idade Média, o
primeiro pensador europeu que situou a importância do conhecimento na vida do
homem. É bom lembrar que Descartes não era cético; não recomendava a dúvida por
causa da dúvida, mas sim, como meio preliminar para investigar a verdade.
Descarte deu ao homem moderno uma base filosófica para livrar-se das crenças em
feiticeiras, o que contribuiu consideravelmente para o desaparecimento da
bruxaria no século XVIII. Ao mesmo tempo desaparecem as fadas, os demônios e
todas as semicriaturas da terra e dos bosques.
Supõe-se, de modo geral, que
isto tenha sido uma vantagem, uma vez que ajudou a varrer da mente humana a
superstição e a magia. O resultado foi um semicaos no interior do qual o homem
ficou entregue à perplexidade e à dúvida. Foi o momento de emergência da
loucura, ou melhor, foi o momento em que a razão produziu a loucura. Mas a
psicanálise veio em seguida e derrubou a razão e a consciência do lugar sagrado
em que se encontravam. Tornava-se evidente que a raça humana não era tão
racional o quanto se acreditava. Mostrou que o narcisismo é o polo da objetividade,
da razão e do amor.
Uma das descobertas
importantes e de maior alcance foi a de Sigmund Freud (1856-1939), o conceito
do narcisismo. O amor próprio, o medo à castração, o ciúme, o sadismo. Freud
chamava de “neurose narcisista”. No início da vida, a criança dirige sua libido
para seu próprio corpo. Ela ama a si mesma. Suas reações emocionais dependem,
principalmente, de seu bem-estar ou de seu mal-estar físico. É egocêntrica.
Este período recebeu o nome de narcisista devido à lenda grega de um jovem
chamado Narciso, que se apaixonou pela sua própria imagem refletida na água.
Para Freud não existe
diferença entre o narcisismo e o egoísmo. No seu entender, em qualquer dos
casos, há apenas a retirada do amor ao próximo, com a regressão da libido ao
período narcisista fixado, isto é, seu comportamento emocional continua igual
ao de uma criança de menos de três anos. Freud pensava assim porque via no amor
a manifestação da libido (libido é uma palavra feminina que significa “prazer”). Em geral são pessoas impossibilitadas de amar
devido à introversão do ego, que não se deixa interessar pelo mundo exterior.
Toda manifestação de altruísmo, humanidade, dedicação ao próximo, não passa de
mera atitude. Aparências. No fundo, só amam a si mesmas. E a vaidade é tanta
nessas pessoas, que se supervalorizam, não raro, preferem ouvir elogios,
sabidamente falsos, porque isso faz bem à sua egolatria. O auto endeusamento é
a tônica dos narcisistas. Olham sempre o mundo pela lente de suas qualidades
pessoais.
Um exemplo particular de
narcisismo que fica na fronteira entre saúde e insanidade pode ser encontrado
em certos homens que alcançaram um grau extraordinário de poder como: Nero,
Hitler, Stálin, os Bórgias, os faraós egípcios, os césares romanos, todos
revelam certos aspectos similares. O autor francês contemporâneo Albert Camus
(1913-1960), em seu drama: “Calígula”
retratou essa loucura com enorme exatidão. Alcançaram o poder absoluto; sua
palavra é o julgamento definitivo de tudo, inclusive de vida e morte; parece
não haver limite para sua capacidade de fazer o que quiser. Tentam fingir não
haver limite para seu desejo exagerado de prazeres e para seu poder, e por isso
dormem com inúmeras mulheres, matam inúmeros homens, constroem castelos em toda
parte, “querem a lua”, querem o impossível. Isto é loucura, ainda que seja uma
tentativa para resolver o problema da existência fingindo que não tem
sentimentos. É um sentimento que tende a crescer a cada dia esses grupos.
“Quanto mais tenta ser um deus, tanto mais se isola da raça humana".
César o imperador romano
usou do poder para dobrar a realidade a suas fantasias narcisistas. Obrigaram
todos a concordarem que ele era o deus, o mais poderoso e mais sábio dos
homens. Parece bastante razoável se tratar de um sentimento de megalomania. Por
outro lado, ele sabia o quanto era odiado, e que poderiam derrubá-lo e matá-lo.
Por isto suas desconfianças patológicas também podem ser perfeitamente compreendidas.
Portanto, quanto menos uma
pessoa conhecer a respeito do seu passado e do seu presente, mais insegura terá
de mostrar-se seu juízo sobre o futuro. Contudo, digo o que penso, com esperança. Penso no que faço com fé. Faço o que devo fazer, com amor. Esforço-me para ser cada dia
melhor, pois bondade também se aprende. A vida é muito curta para se ter
inimigos. Agradeço sempre pelo dom da
vida e de poder amar mesmo sem
ser compreendido.
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