O
que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está
dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença,
uma inimiga. Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha
solidão de inimiga, ela será minha inimiga.
Mas
será possível chamar a solidão de amiga? Para o poeta mineiro Carlos Drummond
de Andrade, acha que sim: "Por
muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje
não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E
sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e
invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim”!
O
filósofo alemão Friedrich Nietzsche, também tinha a solidão como sua
companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias
e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas
montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava.
Eis
aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham
por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos.
E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque
não suportariam caminhar sozinhas.
E,
por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar
em comunhão com a natureza. Elas não veem as árvores, nem as flores, nem as
nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio
pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua
solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer.
Portanto,
o estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma
forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos.
Sartre chegou ao ponto de dizer que "o inferno é o outro." Sobre
isso, quem sabe, conversaremos outro dia.
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