Como
dizia o grande escritor brasileiro João Guimarães Rosa (1908-1967), no livro:
“Grande Sertão Vereda”: “O que tem de ser tem muita força, tem uma força
enorme”. O cantor Roberto Carlos diz na música “Outra Vez”, que: “No amor,
ninguém na verdade foi, porque quando se ama verdadeiramente, quem foi é, e
sempre será”. Mas, afinal, o que faz nascer uma amizade duradoura? O que move
uma paixão desmedidamente extraordinária em nossos humanos corações? O que nos
leva a gostarmos tão intensamente de uma pessoa, por vezes tão diversa de nós?
No entanto, o amor é uma amizade constituída. Mas por que, depois de amar
tanto, com a separação vem à inimizade? Quando amamos perdidamente uma determinada
pessoa e mantemos com ela um relacionamento amoroso que, no dizer do poeta
Vinícius de Moraes: “Que seja infinito enquanto dure”. Ou seja, para sempre,
até que a morte nos separe. Será mesmo verdade, que o amor morre junto com o
fim das relações, como acontece com frequência nas amizades? Se realmente
morre, podemos afirmar que era amor?
No
entanto, nossos amigos e parentes veem essa relação vivida com olhos de quem
assiste a algo em que a lógica se volatiliza e se lhes escapa, como algo
improvável, indefinível, pleno de estranheza, difícil de ser decodificado,
entendido, assimilado. Muitos não entendem esse tipo de amor, que aos seus
olhos, esses dois apaixonados, nada têm haver um com o outro. Para desvendar
esse mistério, buscando uma compreensão satisfatória desse entendimento, o
compositor, cantor, dramaturgo e escritor Chico Buarque (1944), foi buscar a
melhor definição nos ensaios do célebre filósofo, escritor e humanista francês
Michel de Montaigne (1533-1592).
Chico
conta numa entrevista que Montaigne, por ser insistentemente questionado sobre
o porquê de sua mais que imensa e eterna amizade por outro humanista e filósofo
francês Étienne de La Boétie (1530-1563), cuja morte precoce o levou a escrever
o ensaio “Sobre Amizade”, aonde faz uma homenagem a La Boétie. No ensaio
Montaigne disse apenas que gostava dele e ponto. Quinze anos mais tarde,
revendo o que escrevera, o escritor acrescentou que gostava do grande amigo
“porque era ele”. Outros quinze anos depois fez mais um acréscimo à frase, completando-a
definitivamente: “porque era ele, porque era eu”. O compositor e cantor Chico
Buarque entendeu como simples, porém, perfeita a definição dada por Montaigne.
De modo que, essa frase também era perfeita para definir a paixão, o amor que
sentimos por alguém. No entanto, Chico se valeu dessa frase para compor uma
música feita para a trilha sonora do filme brasileiro: “A Maquina”, do diretor,
roteirista e compositor João Falcão (1958).
Portanto,
a essência do que definiu Montaigne está no nome da música: “Porque era ela,
Porque era eu”. Coisa do coração não se explica: “Amamos e não explicamos o
porquê desse amor por uma determinada pessoa”. Maravilhoso essa definição da
amizade de Montaigne. Formidável a sacada do Chico em compor essa música:
“Porque era ela, porque era eu”. Sensibilidade com esta magnitude não é para
qualquer um. Só os poetas compreendem para além das explicações do amor.
Contudo, encerro essa reflexão com a letra da música de Chico Buarque; porque
era ela, porque era eu: “Eu não sabia explicar nós dois, ela mais eu. Porque eu
e ela não conhecíamos poemas e nem muitas palavras belas. Mas ela foi me
levando pelas mãos, íamos tontos os dois, assim ao léo. Ríamos, chorávamos sem
razão. Hoje lembrando-me dela, me vendo nos olhos dela, sei que o que tinha de
ser se deu. Porque era ela, Porque era eu”.
👏🏼👏🏼
ResponderExcluir