O
objetivo da educação é ensinar a pensar. Criar na criança essa curiosidade,
criar a alegria de pensar. Essa é a situação certa para começar o ensino,
sobretudo, quando o professor fala, provoca a curiosidade na criança e ela
interage e faz pergunta. Como incentivar à leitura? Não é mandando ninguém ler,
porque a relação com a leitura é uma relação amorosa. Eu vou ler não porque o
professor mandou. Quando o professor manda, já estragou. Então você tem que
criar o gosto pela leitura. E como se cria o gosto pela leitura? Não é mandando
ler, mas lendo para o aluno. Quando minha filha era pequena, sempre antes de dormir
pedia para ler ou contar uma estorinha, era o momento propício para sentar ao
seu lado e ler ou criar uma nova estorinha. Como um bom contador de estória, eu
fazia isso com muito gosto. A missão do professor não é dar respostas prontas,
porque as respostas já estão nos livros e na internet. A missão do professor é
provocar a inteligência do aluno, provocar o espanto, provocar a sua curiosidade.
No
meu tempo de garoto, no grupo escolar onde estudei no começo, tinha aula de
leitura e era a aula mais apreciada pelas crianças. A aula em que a professora
lia para nós. Ainda lembro-me do poema: “O
Menino Azul” de Cecília Meireles. O texto mostrava o que toda criança
precisa: amizade, companheirismo, acreditar nos adultos. Ninguém conversava na
aula, era um silêncio absoluto, não precisava a professora dizer: “crianças silêncio, preste a atenção”. Na
escola não pode ter essa palavra silêncio, porque naturalmente se a escola é
boa, as crianças vão se interessar e fazer silêncio. Elas vão gostar e ter prazer
naquilo que estão fazendo. Frequentemente os professores só tem que repetir
aquilo que já vem nas apostilas. Era preciso que os professores parassem e
dissessem: “não vamos seguir o programa,
vamos fazer as coisas que são essenciais no ambiente em que as crianças vivem”.
É importante que os professores façam sempre a seguinte pergunta: “isso que vou ensinar serve para quê”?
Os professores tem que estar junto com os alunos para ajudá-los. Os
professores são companheiros dos alunos, não tem que dar nota, porque a nota é
uma inverdade, aquilo que o aluno produz numa prova, não revela o que ele
pensa. Precisamos de uma educação ligada à vida é para isso que a gente
aprende, para viver melhor, ter prazer, ter mais eficiência e poupar tempo, não
se arriscar demais. O aprendido é aquilo que fica depois que o esquecimento fez
o seu trabalho, que é nos fazer esquecer. Só assim podemos avaliar a capacidade
de pensar dos alunos, que é diferente de memória. Pede ao aluno para escrever
uma redação. O professor da vários temas para o aluno escolher um. Por exemplo:
“escreva uma carta ao presidente da República
aprovando ou desaprovando o uso da energia nuclear”. Esse tema não tem uma
resposta certa, o que interessa é saber se o aluno é capaz de pensar por conta
própria. Nós não somos movidos pelas ideias, nós somos movidos pelos
sentimentos. A transformação da educação no Brasil passa por dentro do
pensamento e sentimento dos professores. De modo que, o professor é o ponto
central de qualquer programa de transformação do ensino brasileiro.
Posso dizer com conhecimento de causa, que a leitura seguida da produção
de texto, não é uma metodologia nova, e não se restringe ao ensino
universitário. O estudante do ensino fundamental e médio pode perfeitamente
recorrer a esse método, bastando dominar mecanismo de leitura e de expressão
escrita. Quantas vezes o aluno teve, por exemplo, que assistir a um filme e
depois analisá-lo? O filme é um texto, é possível de ser comentado, analisado,
resumido em seu enredo ou conteúdos, caso seja um documentário. Aquilo que o
aluno assistiu pode ser passado para o papel, com suas próprias palavras.
Quando um professor pede esse tipo de tarefa para seus alunos, seu objetivo
deve ser o aprofundamento de determinado assunto ou conhecimento. Ou melhor,
propor ao aluno que crie uma espécie de “diálogo”
com o “texto” estudado. Assim, cada
um terá consciência de que o saber é para ser partilhado, ele não está fechado
e acabado em cada texto que se produz.
Por conseguinte, a produção de
texto não pode ser encarada apenas como uma atividade das aulas de Filosofia,
Literatura ou de Língua Portuguesa e ficar restrita à composição textual que
focalize um tema proposto. A partir do momento em que o aluno começa a
escrever, com suas próprias palavras, as ideias principais que foram
desenvolvidas no texto lido, focalizando os diferentes aspectos abordados,
desdobrados em assuntos secundários, mas relacionados, pode-se tratar do resumo
de um texto. Faz-se o mesmo, porém usando as palavras do próprio texto, pode
ser então o seu fichamento. Em ambos os casos o aluno estaria recorrendo ao
procedimento denominado síntese. Essas duas atividades colaboram muito no
domínio de conteúdos e podem ser aplicadas não apenas a textos extraídos de
livros, ou de enciclopédias, como também a reportagens de jornais e de
revistas, páginas da internet etc. Referem-se a qualquer disciplina que o aluno
faça na escola, como, por exemplo, em Educação Física, a partir do momento em
que o aluno precisa obter melhores informações a respeito da modalidade
esportiva que pratica. Essa produção de textos pode ser fruto de pesquisa e não
deve ser confundida com relatório.
Para gostar de ler é preciso
praticar, criar o hábito da leitura, com o intuito de obter informações. A
partir do momento em que o aluno já o tenha adquirido tudo se torna mais fácil.
Voltando a questão do filme a que o aluno assistiu e teve de analisar: será que
já se surpreendeu ao ouvir o seu professor comentar que havia pedido para
analisar o filme e não recontar a sua história? Isso mesmo! Contar o que se
passou não é a mesma coisa que analisar os dados apresentados. Esse é um passo
mais adiante, pois, além da compreensão do enredo, o aluno vai se posicionar
diante do “texto”, aplicando a ele
conceitos previamente conhecidos ou expondo ponto de vista pessoal a partir de
elementos observados nesse mesmo texto. Isso é realizar a análise, pode se
tratar de uma resenha. O que foi anteriormente exemplificado de um filme pode
ser aplicado, a um livro de romance, a um conto, peça teatral, alguns eventos
culturais, reportagens, até mesmo a partir da observação de uma tela de pintura
artística ou de dados de uma pesquisa científica.
Portanto, as atividades de
leitura e da escrita não são exercidas separadamente. Se for integrada uma a
outra, ou seja, a todas as disciplinas que o aluno estuda, o ensino-aprendizagem
se tornará mais ágil e eficaz. Ao mesmo tempo, o estudante participará
ativamente no processo, crescendo com mais desenvoltura e espírito crítico,
preparando-se para sua autonomia como ser pensante, que sabe discernir e fazer
opções. Contudo, para nós educadores, é sempre um prazer irrevogável formar
alunos leitores, pesquisadores e se possível alguns escritores. É o que procuro
passar aos meus alunos na oficina de leitura pelas escolas que visito.
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