Certa
vez um jornalista ao entrevistar o filósofo e educador Rubem Alves, fez a
seguinte pergunta: “Qual é o seu Deus?”.
Eis que prontamente responde o filósofo Rubem Alves: “É o Deus de todos os poetas: a beleza”. Também comungo com esse
pensamento. De modo que quando contemplo a beleza, ou quando ouço a beleza,
estou em comunhão com o mistério da vida. Não gosto muito de usar a palavra
Deus porque as pessoas vão identificá-lo como o Deus delas. Para mim a beleza
está na natureza das coisas, isto é, a beleza é a face visível de Deus. E ela
está estampada na natureza de tudo aquilo que apreciamos como Belo.
Penso
que assim não precisamos fazer longas peregrinações para encontrar Deus. Como
argumenta Rubem Alves, um tomate redondo, vermelho, um caqui maduro, as
centenas ou milhares de minúsculos gominhos em uma laranja cortada, uma cebola,
que o poeta e escritor Pablo Neruda chamava de “rosa de água”, com escamas de cristal. O reflexo do sol nas águas
de um charco, tudo isso me deixa assombrado. Quando essas coisas acontece na
minha vida fico agradecido por viver num mundo tão fantástico. Posso afirmar
com segurança que o problema das pessoas beatas é que elas estão sempre olhando
para baixo e para dentro de si mesma.
Acho
que o inconsciente e a alma são a mesma coisa. Penso que a alma é o lugar onde
vivem os sonhos. Dizia Shakespeare: “somos
feitos de sonhos”. Não gosto daquelas perguntas boba que se faz por aí: “você aceita Jesus?” O que faz essas
pessoas acreditar que nunca o aceitei? Talvez
o meu modo de ver Deus seja diferente das beatas. Mas é isso que somos,
professor, médico, engenheiro, advogado, consultor imobiliário, etc. Somos o
que fazemos com amor e profissionalismo. Somos os sonhos que sonhamos.
Dostoievski disse que as pessoas não têm o menor interesse em Deus. O que elas
querem é o milagre, um Deus máquina que faz o milagre de acordo com seus
pedidos. Porém, um Deus que não faz milagre não lhes interessa. Elas pedem
milagres porque estão cega para o milagre que é o universo, a terra, a nossa
vida. O poeta e ensaísta americano Walt Whitlmann dizia que para ele, tudo era
milagre, basta olhar para a natureza, é assombroso. Perdemos a capacidade de
nos assombrar com o nosso mundo.
Portanto,
dizia o grande poeta brasileiro Vinicius de Moraes: “para isso fomos feitos, para lembrar e ser lembrados, para chorar e
fazer chorar, para enterrar os nossos mortos. Por isso temos braços longos para
os adeuses, mãos para colher o que foi dado e dedos para cavar a terra. Assim
será a nossa vida: uma tarde sempre a esquecer, uma estrela a se apagar na
treva, um caminho entre dois túmulos. Por isso precisamos velar, falar baixo, pisar
leve, ver a noite sumir no silêncio”. Vale à pena ler esse Poema de Natal.
Contudo trago mais uma vez Rubem Alves para encerrar nossa reflexão: “Sou um construtor de altares. Construo meus
altares à beira de um abismo. Eu os construo com poesia e beleza. Os fogos que
acendo sobre eles iluminam o meu rosto e aquecem o meu corpo. Mas o abismo
continua escuro e silencioso”.
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