A
religião sempre desempenhou o papel fundamental na história do homem. A
filosofia não tem a função de negar ou ridicularizar esse grande fato humano
que é a religião. Mas, na filosofia tem uma coisa que a religião não tem que é
a necessidade de certo “ateísmo
metodológico”. O que isto quer dizer? Que o filósofo tem que ser alguém que
não pode ter crenças dentro da pesquisa filosófica. Ainda que se tratasse de
Deus, porque para a filosofia Deus não é “impossível”
ele é “improvável”. Isto significa
que a filosofia não nega e nem afirma a existência de Deus. Porque Deus não é
impossível para o filósofo afirmar a sua não existência. Para isto, o filósofo
teria que provar que Deus não existe. Isto não é possível. Então, como negar o
que não posso provar? Na verdade o homem põe as suas qualidades, as suas
aspirações e os seus desejos fora de si, afasta-se, aliena-se e constrói a sua
divindade. Portanto, a religião está no relacionar-se do homem com sua própria
essência. Ela é a projeção da essência do homem. Mas, por que o homem constrói
a divindade sem se reconhecer nela?
O
filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804-1872) responde: “porque o homem encontra uma natureza insensível aos seus sofrimentos,
porque tem segredos que o sufocam; e na religião, alivia o seu próprio coração
oprimido”. Por isso o homem foge da natureza, das coisas visíveis, refugiando-se
no seu próprio intimo, para encontrar quem escute o seu próprio sofrimento. É
aqui que ele expressa os segredos que o sufocam, é aqui que ele alivia o seu
próprio coração oprimido. Isto é Deus. Em outras palavras, Deus é uma lágrima
de amor derramada no mais profundo segredo sobre a miséria humana. Parece que a
intenção humanista de Feuerbach é de transformar os homens de amigo de Deus em
amigos dos homens. Homens que creem no pensamento humano e no amor como o único
meio de salvação da humanidade.
Na
verdade as pessoas de um modo geral desejam acreditar em Deus, conforme-lhes
foi ensinado. Desejam acreditar que Deus é bom e que esta no controle das
coisas. E quando acontece algum mal, logo vem à pergunta: “Deus, por que
fizeste isso comigo?” Feuerbach, tem uma explicação para os dogmas cristãos do
Deus encarnado: “Não é Deus que cria o
homem, mas sim o homem que cria Deus. Portanto, Deus é a mais alta
subjetividade do homem, abstraída de si mesmo". Todo estudante de
filosofia pura durante a graduação, tem uma disciplina chamada “Teodiceia”, vocábulo criado pelo
filosofo e matemático alemão G.W. Leibniz (1646-1716), do grego; Théos = Deus;
e díke = justificação – visto que Leibniz tencionava; a “justificação de Deus” tencionava, mediante esse tratado, a
tentativa racional da compreensão simbólica do Absoluto denominado Deus.
O
nome Teodiceia é menos adequado, porque a teologia natural não tem propriamente
a finalidade apologética, mas antes visa penetrar no conceito de Deus o mais
profundo possível para fundamentar a fé. É, aliás, a teologia natural que
fornece á fé a primeira de suas bases naturais. A teologia natural o ápice de
toda a reflexão metafísica, considera a ultima ou suprema razão de ser de todas
as coisas; vem a ser o auge de todo o saber humano. É também a fonte
indispensável da ética, apontando a finalidade suprema de todo o agir do homem
e da sociedade. Tomás de Aquino (1225-1274), um dos mais influentes teólogos
dominicanos do cristianismo na tradição conhecida como Escolástica, elaborou um
tratado filosófico contendo cinco argumentos na tentativa de harmonizar a “fé” e a “razão”. Queria provar a existência de Deus e até hoje estes
argumentos são ruminados pelos estudantes de teologia nos seminários. São Tomás
de Aquino, já no final da sua vida, depois de uma revelação transcendental, ele
nunca mais escreveu nada, e, perguntado pela razão do seu silencio respondeu: “Tudo que escrevi é palha, sem importância”.
Portanto,
buscamos a experiência de nos sentirmos vivos, de tal forma que nossa
experiência no nível puramente físico tenha ressonâncias internas nos mais
profundo do nosso ser e da nossa realidade. Sendo assim, chegamos a sentir
realmente o êxtase de estarmos vivos. Contudo, os mitos são pistas para as potencialidades
espirituais da vida humana. Se quisermos pensar em Deus podemos extrair da
religião ou recorrer aos mitos. Porque Deus é na verdade um pensamento, um
nome, uma ideia abstrata ou conceito, que se refere a algo que transcende qualquer
pensamento. O mistério supremo do ser está além de toda categoria de
pensamento. Como argumenta o historiador da arte indiana Heinrich Zimmer
(1890-1943): “As melhores coisas não
podem ser ditas por que elas transcendem o pensamento. A segunda melhor coisa é mal compreendida, pois são pensamentos que se referem ao que não
pode ser pensado. E ficamos presos com os pensamentos. A terceira melhor coisa é as que nós falamos”.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTudo isso é mistério da fé ....Lindo texto !
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