As
pessoas se fazem conhecer, fisicamente, pelo corpo. Mas a mente, os
sentimentos, os pensamentos, as manifestações do gostar ou não gostar de algo
ou de alguém, são expressas através da linguagem. Embora o corpo mostre muito
do que sentimos pela fisionomia e gestos involuntários. Então eu mostro para o
mundo, desnudo-me enquanto ser, através da linguagem. Sendo a linguagem muito
importante para nós humanos, como um instrumento de interação. Posso fazer com
que ela transmita coisas muito positivas ou muito negativas. Com a linguagem
posso levantar a moral das pessoas, trocar informações, crescer e construir
juntos; ou também posso acabar com uma pessoa, principalmente se detenho o
conhecimento.
Os
professores, principalmente das classes populares, têm um compromisso muito
grande de conseguir fazer com que aconteça esse ritual de passagem da vertente
popular para vertente padrão. Porque o aluno só vai atingir a cidadania se ele
tiver o domínio da linguagem. Ele vai pensar mais complexamente, tendo em vista
que essa é uma maneira de ascender na vida social e no trabalho. É importante
que o aluno passe por esse ritual, sem medo da linguagem, mas com a consciência
da necessidade de adquirir a linguagem mais próxima do padrão formal e assim
considerando que a linguagem é poder. Lembrando-se da importância de trabalhar
a linguagem nas classes populares como forma de inclusão e dando a essas
pessoas o direito a voz.
Não
existe linguagem neutra. Toda linguagem tem o objetivo de convencer alguém de
alguma coisa, até mesmo à linguagem amorosa. Quando é dito algo para alguém a
linguagem tem uma intencionalidade. Por isso mesmo que ela adquire um peso.
Quando desprezo a linguagem de uma pessoa, estou desprezando esta pessoa.
Levando em conta a concepção de que não existe o certo e o errado, em termos de
linguagem. Mas existe o expressar diferente. Por exemplo, a criança da
periferia tem muito mais dificuldades com isso na escola e não é porque ela
seja menos inteligente. A dificuldade existe porque ela, além de se
alfabetizar, tem que aprender outra língua, diferente do que estava habituada.
Quero
puxar aqui outro lado da questão, discutido num ensaio que estou escrevendo para educação, que é o drama da palavra. A relação entre a lógica da palavra e a
inteligência. As pessoas vivem eternamente discutindo as relações sociais e
afetivas, no pressuposto de que é com palavras que a gente se entende. E assim
vão se desentendendo cada vez mais. Não existe nada linear. Quando se fala: pensamento
linear está falando de causa e efeito, ou seja, uma causa produzindo um efeito
em uma só linha de influência. Essa verdade linear é para muitos retardatários,
a essência da ciência e da lógica. Tendo em vista, que a culpa desse atraso é da
linguagem, sendo esta essencialmente linear. Forma-se nas pessoas a noção de
que as coisas e os fatos também se sucedem linearmente. Uma coisa depois da
outra, uma palavra depois da outra e em ordem rigorosa, ou a frase não terá
sentido. Daí o vício universal, quem é o culpado ou quem devia? As duas
maldições da humanidade. Esclarecendo com uma pergunta deveras inteligente:
quantos são os culpados pela existência de um culpado? Quantos estão envolvidos
no dever tido como de um só? Como argumentava o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900): "não existem fatos, apenas interpretações".
Concluo
com uma afirmativa do físico alemão Albert Einstein (1879-1955), nada é linear,
nem a natureza, nem a visão científica, muito menos as relações amorosas. Que vive entre altos e baixos. A realidade é complexa, organizada em rede, tudo influindo sobre tudo
e tudo sendo influído por tudo. Nove vezes em dez, para nove de cada dez pessoa,
pensar e até entender ou compreender é falar, seja consigo mesmo, seja com
alguém ou escrevendo em linha. Coincidência infeliz porque as palavras não são
as coisas, nem são os fatos, nem a sucessão das palavras tem que ver com a
sucessão dos fatos. Nem a sequência das palavras na frase segue a ordem do
acontecido. Pois as palavras vêm sempre depois dos fatos. Contudo, só as
palavras repetem e os fatos jamais. Enfim, por trás das palavras está à
coisa, o pano de fundo, o significado do significante. Nesta teia da vida, tudo
que vai acaba voltando. A lei do eterno retorno.
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