Estamos
conscientes que a nossa “aldeia global”
é uma soma espantosa de injustiças, opressões, explorações, violência e ameaças
monstruosas de destruição do planeta. No entanto, as enchentes e tempestades
ratificam a vergonha e o horror em que vive a humanidade. Nesta reflexão temos
como foco a análise temporal do desenvolvimento da sociedade ocidental,
lembrando que essa atual crise ambiental é produto histórico de um modelo de
desenvolvimento econômico, social e cultural. Esta crise veio sendo apoiada e
constituída por valores e paradigmas que a transformaram no que ela é hoje.
Assim a realidade atual foi reciprocamente construída e reforçada por valores
relativistas. No entanto, essa crise ambiental não é simples de ser analisada,
ela é complexa e afeta nossa saúde, nosso modo de vida, nossas relações
sociais, a economia, tecnologia e política, daí a necessidade de ser analisada
por diferentes e outros seguimentos da sociedade, ou seja, de uma maneira
interdisciplinar, onde cada um faça a sua parte.
O
autor do livro: “Ética e Educação Ambiental”, o filósofo e educador Mauro Grün,
analisa e reconstrói esse processo histórico e identifica alguns valores e
paradigmas em que se apoiou a construção da atual sociedade e ainda continua a
apoiando. O autor identifica que a ética antropocêntrica surgida a partir do
renascimento, como sendo uma das principais causas da degradação ambiental,
esta ética centrada no ser humano, está diretamente associada ao paradigma
mecanicista, o qual inaugura a visão de que a natureza é uma máquina.
Esta
mudança de modelo para uma visão que deixa de lado Deus como centro de tudo e
coloca neste papel o ser humano e transforma o orgânico e natural em algo
mecânico. O ser humano desde então se coloca em posição central no universo e a
natureza de maneira secundária. Neste momento é que ocorre cisão entre natureza
e cultura, uma separação que levaria o futuro da humanidade a um
antropocentrismo radical e apoiado fortemente pela razão. O livro retrata a
profunda dor de um ser humano que é perder a coisa mais importante para vida de
um filósofo, que é a razão.
A ciência
moderna teve também um papel fundamental na difusão da lógica mecanicista da
natureza, através do próprio método científico utilizado nas pesquisas, onde a
natureza passa a ser não mais que, um objeto passivo de estudo dos cientistas.
Percebemos que o ser humano se retira da natureza para que possa estudá-la
cientificamente. Ao se retirar o ser humano se põe num lugar de descobridor e
dominador da natureza. Ele não convive mais com a natureza, somente a explora.
Vivemos uma ruptura de valores. A ciência e sua metodologia objetificante, os
valores individualistas; pragmáticos e racionais; a cisão cartesiana entre ser
humano e natureza constitui uma barreira invisível para o entendimento da crise
ambiental complexa e multifacetada e também para o desenvolvimento de uma
educação ambiental realmente efetiva, nas palavras do filósofo Mauro Grün que
argumenta: “uma impossibilidade radical
de uma educação ambiental no cartesianismo”.
Portanto,
uma das possíveis saídas para que seja realizada uma educação consistente, é
que haja a superação da dicotomia ser humano verso natureza. É necessário que
seja superada a visão da natureza como sendo uma fotografia de uma paisagem
natural na parede onde nós, não nos reconhecemos e nem nos vemos. Por uma visão
de natureza, em pleno desenvolvimento e movimento, cheio de cores, sons,
perspectivas, problemas, onde não somos atores em condições de atuar num
cenário não menos importante, e ao mesmo tempo em que atuamos, podemos assim
mudar o desenrolar da história a qualquer momento. É isso que a natureza espera
de nós. “Que tenhamos plena consciência dos seus efeitos.”
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