Por acaso alguém já viu nos
filmes, novelas, livros de contos, ou numa peça teatral, o mal e o bem conviverem
numa boa? Muito complicado, não é mesmo? Como diz a sabedoria popular: “a arte
imita a vida ou a vida imita a arte?” Bom, o fato é que se torna difícil para
as pessoas conviverem com estes dois atributos, suas virtudes e seus defeitos.
No entanto, numa das histórias que ouvimos quando criança, sobre a origem do
mundo, parece que vamos encontrar essa problemática.
No Jardim do Éden vivia um
casal que só fazia e pensava coisas boas, até que uma cobra personificada, ou
seja, uma persona não grata representando o mal, o lado pecaminoso (desejo
sexual) e imperfeito do homem até então adormecido, que essa peçonhenta
conseguiu vencer o seu lado bom, puro, assexuado, segundo alguns preceitos.
Esse passo em falso do casal originou a perda da mordomia do paraíso e a
expulsão para esse mundo inferior e de aparência, chamado planeta terra.
O problema é que esse pecado
teve desdobramento significativo e até hoje, como bons filhos, parece que
assumimos a culpa pela má conduta dos nossos pseudo pais e muitas vezes
acreditamos não sermos merecedores dos prazeres existenciais. Para o filósofo
alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), em sua obra “Além do Bem e do Mal”, ressalta que “a vontade de poder do ser humano é o que determina o que é belo, bom e
verdadeiro, sendo, portanto, tais atributos, mutáveis”. O exemplo disso
mostra que para os judeus, enquanto povo dominador, ao tempo de seus primeiros
grandes reis, bom era tudo o que fosse vigoroso, alegre e que transmitisse
confiança.
Se pensarmos que os meios de
comunicação e aqui também falo das redes sociais, funcionam como veículos de
transmissão de modelos sociais, podemos dizer que as nossas dificuldades serão
maiores em aceitar o lado sentido como imperfeito. A grande questão do mal é
que ele está presente no inconsciente coletivo das pessoas que se diz ser do
bem. Como argumenta o escritor, romancista e poeta José Saramago (1922-2010),
que “nossas vidas são feitas de pequenas
e grandes mentiras”. E para mim o maior mal da humanidade não está somente
na mentira ou na traição, mas, na humilhação que infligimos a aquele que
supostamente dizemos amar. Nas redes sociais essa humilhação torna-se mais
explicita. Temos uma forte tendência a formar juízo de valor sobre pessoas que
mal conhecemos. E o mais grave é que continuamos insistindo e acreditando nesse
personagem sem rosto que se apresenta como um "fake", no mundo virtual. Na verdade, o propósito é causar dor
psicológica naquele que convive de perto conosco e, que nos conhece na
intimidade e no coração. Não é elegante e nem racional humilharmos quem a gente
ama. Talvez esse seja o maior veneno da humanidade, a falta de respeito pelo
seu semelhante.
Nossas dificuldades e os
insucessos serão vivenciados no papel da vitima, arranjamos sempre um culpado
para tudo de ruim que fazemos ou que acontece conosco, para ser o "bode
expiatório" – expressão usada quando alguém acaba pagando pelo que não
fez. Que não deixa de ser uma ideia maquiavélica da classe dominante, que é
mestre em justificar os fins sem se preocupar com os meios para alcançá-lo.
Para citar Nietzsche, será que em algum momento nos questionaremos: O que é bom
para nós? Para o bem de quem são proclamados esses valores relativos? Considerar
o outro como a soma de suas qualidades e defeitos, como algo pronto e acabado,
é enquadrá-lo como objeto e ignorar suas possibilidades. É assim que se pode
rotular o outro e vê-lo como: “prostituta, homossexual, pobre, ignorante,
negro, vagabundo e velho”.
Por outro lado, as pessoas
não juntam ideias. Não aprenderam que a única maneira de se ter um amigo é ser
um deles. Se essa moça pudesse naquele momento, enxergar na outra pessoa não
aquilo que a vida e a sociedade dela o fez, e sim olhar com o coração, haveria
a possibilidade de humanização permanente das relações e da própria sociedade.
Isto é, dar ao outro e a si mesmo uma nova chance e apostar sempre na compaixão
como um bem maior. Tendo em vista, que o poder que se proclama se perde a
verdade, vulgariza o outro, apaga a felicidade que se anuncia e causa dor e
sofrimento para ambos. Entre
outras coisas que a verdade pede é que não a condene antes de conhecê-la.
Sobretudo, porque a humildade é condição essencial ao progresso individual e
proporciona felicidade aos seus possuidores e consolida no amor.
Portanto, nós humanos não
somos um "ser" simples, mas composto
de duas substâncias, corpo e alma. E o amor em si mesmo tem dois princípios: o
ser inteligente e o ser sensitivo. O apetite dos sentimentos tende ao bem estar
do corpo e o amor ordena o bem estar da alma. Se este amor for bem desenvolvido
e maduro o suficiente para segurar as turbulências da vida, ele está
seguramente no plano da "consciência cósmica".
Compreender e entender o outro são sinônimos de humildade e compaixão. Só a
plenitude (a ideia de completo e perfeito) já tem o seu lado ruim, porque ela
não leva aos desafios, competições, maledicências e preconceitos absurdos. Com
certeza nossos primeiros pais, Adão e Eva sacaram isso quando foram expulsos do
paraíso. Contudo, estar entre o bem e o mal é gozar do livre arbítrio. "Eu sou a minha consciência".
Parabéns pela bela postagem de texto... como ja dizia NXZero: "Entre o bem e o mal... eu fico com a PAZ !
ResponderExcluirBeijos Edu