Lendo um
artigo do jornalista, cronista e cartunista Ziraldo (1932), dizia: “ler é
mais importante que estudar”. Evidentemente, que se aprende muito mais
lendo do que estudando, porque o estudo demanda concentração e desejo de
aprender rápido, para melhor memorizar as palavras. Ao passo que a leitura para
muitas pessoas, pelo simples prazer de ler, possibilita o entendimento e a clareza
dos fatos, nos colocando no núcleo da realidade vigente. Para Ziraldo, quando
se cria o hábito da leitura se ganha em conhecimento e enriquece o nosso
vocabulário. Alguns estudos nessa direção vêm mostrando que o povo brasileiro
ainda não descobriu o prazer na leitura e ocupa o tempo livre, vendo televisão,
ouvindo música, descansando e raramente se propõe a ler um livro, jornal ou uma
revista do seu interesse sobre um determinado assunto que o estimule.
Segundo o filósofo e
educador Rubem Alves (1933-2014), disse num dos seus textos o seguinte: “Há um
tipo de educação que tem por objetivo produzir conhecimentos para transformar o
mundo, interferir no mundo, que é a educação científica e técnica. Mas há uma
educação – e é isso o que chamo realmente de educação – cujo objetivo não é
fazer nenhuma transformação no mundo, é transformar as pessoas”. Até porque,
ler é pensar com sabedoria, pois a leitura torna nosso conhecimento mais amplo
e diversificado, isto é, saber com objetividade. Portanto, o exercício da
leitura é um mergulho na cultura do conhecimento.
Na dinâmica das
informações no mundo globalizado, ler é uma necessidade básica. Quem não tem ou
não cria este hábito fica para trás, porque a leitura leva-nos a investigação,
a buscarmos cada vez mais, porque a partir dela somos sujeito e passamos a
fazer nossas próprias escolhas, através do nosso livre arbítrio. Ler não é
matar o tempo, e sim fecundá-lo. Sendo assim, incita-nos à curiosidade e a
busca frenética pelo conhecimento. É preciso atenção para peneirar, para
digerir cada palavra e todas as informações do conteúdo a assimilar. Aprender
não é um instrumento passivo, pois, é uma experiência intelectual, um exercício
de nossa faculdade de pensar as coisas, de aprender os seus sentidos, de buscar
a significação que elas têm para nós. Mas essa experiência de ler e pensar o
mundo, de buscar conhecê-lo, não pode ser uma tarefa solitária. Porque ler é estabelecer
relações para compreender a realidade e enxergar mais longe.
Por outro lado, é
muito difícil as pessoas comprarem livros. Além de ser um produto caro, e as
escolas por sua vez não promovem o habito da leitura para seus alunos. São
raras as Instituições de Educação que tem uma boa biblioteca, com vasta
literatura para pesquisa e que ao mesmo tempo desperte nos alunos o prazer de
ler. Chega ser alarmante o número de analfabetos funcionais em nosso país. Ou
seja, aquele aluno que lê, mas, não entende o que leu. Não consegue juntar uma
frase com outra, tem dificuldade de formar frases ao juntar as palavras, sem
falar dos erros crassos de ortografia. Considerando, que o ambiente moral
inicia com a atitude e respeito do professor pelas crianças e seus interesses,
sentimentos, valores e ideias. Educação se faz através do encontro humano.
Entretanto, o
professor precisa introduzir seus alunos numa experiência divertida com a
leitura e ter o cuidado de não usá-la como castigo ou tarefa por falta de
atenção do aluno. Mostrar para o estudante que sem a leitura não aprende a
pensar. E quando pensa, não sabe expressar o pensamento de forma lógica e
organizada. Faltam vocabulário e clareza de raciocínio. Por conseguinte, as
pessoas não conversam mais. Cada um conta o seu problema e não escuta o outro.
Nós vivemos dos pensamentos dos outros, a começar pela política, economia,
mídia e a educação que não ensina. De certo modo, vivemos presos às ideologias
vigentes a certos preconceitos. Estão todos falando sozinhos de suas coisas,
meio que informando o outro sobre o que fez ou vai fazer. Parecem tomados por
uma cegueira crônica. Essa deficiência de leitura é que alimenta a ignorância
planetária e coloca o ser humano de volta a Caverna de Platão.
Ao ler um texto
lidamos com as palavras e com ideias. As palavras são o lado visível e material
da linguagem. Já as ideias são os conteúdos mentais que correspondem a cada
palavra, por meio dos quais representamos um objeto, pensamos uma coisa ou uma
relação entre palavras. Para o filósofo e educador Antônio Joaquim Severino
(1937), é pela mediação dos conceitos que pensamos e concebemos as coisas e,
consequentemente, as mensagens que, sobre elas, os textos escritos ou falados
querem nos passar. O conceito representa e substitui a coisa no âmbito da
consciência subjetiva e é graças a ele que podemos pensar. Porém, ler é buscar
criar a compreensão do lido. Podemos entender a leitura com o coração da
educação.
Todavia, a busca da
palavra é uma procura dolorosa. Através da leitura que vamos melhorando e enriquecendo
o nosso vocabulário e alargando o horizonte de conhecimento. Fico feliz quanto
encontro crianças e adolescentes folhando ou lendo um livro. A leitura de certo
modo promove mudanças em nossas vidas, na nossa percepção, no nosso pensamento
e principalmente nos nossos valores. A leitura é um exercício de generosidade e
crescimento intelectual. É fundamental que a criança seja incentivada a ler com
prazer e diversão. Desenvolve-se de forma gradual, como um hábito a ser
adquirido e deve ser fonte de prazer e não apresentada de forma obrigatória
através de imposição ou cercada de castigos e ameaças. É fundamental entender
que essa aprendizagem é gradativa, que devem ser respeitadas diferenças
individuais e não se deve punir e criticar a criança por ela não estar lendo ou
escrevendo como outras crianças da mesma idade. Isso poderia atrapalhar o seu
desenvolvimento, gerando nela sentimentos de insegurança e incapacidade.
Ao contrário, deve-se
compreender que, quanto mais à criança associar a leitura e a escrita como
atividades úteis e que lhe deem prazer, maior será o seu desejo de aproximar-se
dos textos, maior facilidade ela terá de aprendizado, porém, só se aprende a
ler e escrever, lendo e escrevendo. Por outro lado, deparamos com uma enorme
insegurança à própria capacidade intelectual do professor, mostrando um perfil
do quanto vai mal a nossa famigerada educação. Tal insegurança associada
principalmente à falta absoluta de originalidade desses profissionais, que
normalmente vem junto à falta de conhecimento da maioria dos alunos que não lê.
A educação é uma
realidade vital e condicionada por circunstâncias concretas e chamada a
superá-la a partir da própria situação em que se encontra o sujeito da educação.
Tendo em vista que educação é a apropriação da cultura, e através da história
se torna a construtora do sujeito histórico. É através da educação que nos
fazemos humanos e históricos, como autores no modo de refletir sobre a
realidade, sobre o mundo e sobre nós mesmos. Nessa direção, a realização do
indivíduo como sujeito histórico distinguiu sua conexão com a coletividade e seu
acordo com a mudança social. A pergunta correta a se fazer é a seguinte: “A
escola da resposta às necessidades presentes?” “Nosso sistema educativo
continua sendo para o aluno um sistema educativo que o atrai?” Não! Há muito
tempo deixou de ser. Hoje temos uma escola do século 19, professores do século
20 e alunos do século 21.
Entretanto, o que
encontramos na educação, com muita frequência é professor fracassado que ganha
mal e odeia alunos. Sem falar de professores que normalmente não gostam de ler
e muito menos de estudar, mas criticam os alunos por colar da internet o
trabalho pronto. Talvez pela própria incompetência do professor que não sabe
despertar no aluno o gosto pelo estudo ou até mesmo, por falta de conteúdo do
nosso divino mestre. Sem falar da falsa modéstia de alguns professores que
fingi o tempo todo que acreditam na importância da educação e no seu papel
impecável de educador, que o transformou em omisso e bem adaptado pelo sistema
que o acolhe. O
exemplo claro que ajuda a entender uma estatística alarmante sobre o
conhecimento dos professores no ensino fundamental e médio da rede pública, segundo
o Ministério da Educação, apenas dez por cento tem o hábito de ler fora da sala
de aula.
Portanto, ler é
pensar com sabedoria. O sujeito da educação tem como pressuposto o corpo,
porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É
ele que dá as ordens. Como dizia Rubem Alves: “A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver”.
Contudo, estar atento significa estar disponível ao espanto. Sem espanto não há
ciência, não há criação artística. O espanto é um momento do processo de
pesquisa, de busca. Essa postura de abertura ao espanto é uma exigência
fundamental para o professor. Paulo Freire (1921-1997) dizia: “O espanto revela a busca do saber”.
Contudo, o ofício de ensinar não é para aventureiros. É para profissionais,
homens e mulheres que, além dos conhecimentos na área dos conteúdos específicos
e da educação, assumem a construção da liberdade e da cidadania.