Invariavelmente, as juras de
amor são acompanhadas do desejo e da exigência de ser amado. O amor pressupõe
reciprocidade. O amor exige amar e cuidar recíproco. Claro, há o amor não
correspondido, mas ainda que sobreviva à ausência do ser amado, mesmo que seja
chamado de amor, o nome mais propício é sofrimento. Na paixão, de fato, também
há sempre um sofrer. Como afirma meu amigo o Professor Antônio Ozaí da Silva da
Universidade Estadual de Maringá: posso continuar a amar, e neste sentido é
incondicional. Mas a recusa do amor ou a impossibilidade de realizar-se o
transforma em sofrer, angústia e dor. Pois o amor exige materializar-se reciprocamente.
Por outro lado, o amor
condicional é possessivo. É típico daquele amor que quer sempre mais, aspirar a
uma fusão total que lhe escapa. Esse amor caminha mergulhado no egoísmo,
impulsionado pelo o ciúme, o desejo de exclusividade. O ciúme pede, como o
antigo Deus de Israel: não terás outro Deus além de mim. O sentimento
exacerbado de posse desconfia de tudo, é fruto da insegurança. Daí a
necessidade de controle. Como argumenta Ozaí: há amores possessivos, amores
angustiados, que se reduz quase que exclusivamente ao controle físico e mental
do outro. Há amores-ódio, amores-poder em que o amante é o carcereiro do amado,
preocupado apenas com que ele possa evadir-se da prisão. O carcereiro teme os
amigos porque estes são janelas por onde o prisioneiro vê a liberdade, e por
onde pode escapar. Começa, então, uma sutil luta contra a amizade. O
amor-paixão é êxtase, mas também pode ser cárcere. O amor condicional requer
algum tipo de troca, é finito. O amor é dado apenas com base em determinadas
condições satisfeitas pelo parceiro, ao contrário do amor incondicional. Que ama
simplesmente sem nada esperar em troca.
Entretanto, no
relacionamento entre um casal, quem tem amor incondicional ama sem ter razões
ou pré-requisitos. Dedica-se totalmente à relação, transformando o amor em uma
ação praticada a todo instante, de variadas formas. O conceito é semelhante ao
amor verdadeiro. Cuide para que não queiras receber mais do que tens a
oferecer, por que há coisas que exigem extrema reciprocidade para que sejam
possíveis. Pauta esse sentimento na confiança e no respeito.
Para que um litro de água
preencha um vaso, é preciso que este vaso tenha espaço para aquele um litro de
água, pois se ele não tiver espaço suficiente, ele transbordará e a água
sofrerá. De modo semelhante, a água precisa estar na medida certa que o vaso
comporta, ou deixará espaço vazio, e aí será o vaso que sofrerá. Com nosso
próximo é preciso proceder da mesma forma; se quer viver um imenso amor, é
preciso que cultives um espaço imenso em teu coração. E, se mais que isso, deseja
um amor incondicional, o teu amor precisa ser incondicional primeiro – sempre,
e sobre todas as coisas, ou ele deixará de ser incondicional.
Portanto, o amor verdadeiro,
maduro, é livre, é incondicional, sabe ceder e perder com serenidade para o bem
da pessoa amada; sabe viver quando tem o bem e também quando não tem; sabe
dialogar e chegar a conclusões maduras e sensatas. O amor não nasce pronto, de
uma vez, tem que haver vibração tem que ser harmônico. Amar é comprometer-se,
como um amigo, companheiro, nas horas felizes e tristes, é ser honesto,
sincero, confiante, verdadeiro em palavras e atitudes. O amor é como uma rosa,
mas para que essa rosa exista, é preciso que existam também espinhos. Mas mesmo
assim, o amor ainda é a maior força que existe em nós, é só o amor que nos
transforma que nos amadurece. Se não aceitarmos de coração aberto à dinâmica
transformadora do amor, estaremos definitivamente negando a crescer e
permanecer sempre infantil. Hoje
posso dizer: o que eu sou é o que me faz
viver.