A vida é uma evolução perpétua. Aprendemos até a morte, isto
é, no momento da ultima respiração em que fechamos o ciclo de vida neste mundo.
Por outro lado, nada se obtém sem trabalho. Como diz o filósofo e físico
francês Blaise Pascal (1623-1662): “A
natureza está sempre em movimento”. Nós somos um ser vivo de movimento em
eterna transformação. Não se vive plenamente, não se progride, não se é feliz,
não se chega a lugar algum, se não labutando nesta busca incessante. É
fundamental acolhermos todos os acontecimentos como portadores de algo novo,
tirando aproveito das lições que eles nos oferecem.
Um dos elementos fundamentais da situação humana é a
necessidade que as pessoas têm de valores que as orientem nas suas ações e
sentimentos. É claro que normalmente existe uma discrepância entre o que as
pessoas consideram que sejam seus valores e os valores efetivos que as dirigem
e dos quais não estão conscientes. Na sociedade moderna em que vivemos, porém,
ainda sobrevivem os valores oficiais e conscientes que são os da tradição
religiosa e humanista, aqueles como: o amor, a compaixão, o respeito, a
esperança, ou seja, pensar em um mundo mais humano, mais afável, prazenteiro,
tendo em vista que somos um projeto de humanidade e nem sabemos se um dia
faremos jus a esse título “humanidade”.
Proclamamos o ódio e condenamos o amor.
Entretanto, para a grande maioria dos seres humanos, esses
valores transformaram-se em ideologia e não são eficazes na motivação do nosso comportamento.
Na verdade, os valores inconscientes que a mídia prega diariamente nas cabeças
vazias (especialmente a televisiva), são aqueles criados dentro do sistema
social da sociedade capitalista e burocrática como: os de posse e propriedades,
consumo desenfreado, posição social, o chamado status quo (uma expressão latina que designa o estado atual das
coisas). Entre outras coisas, visitar Shopping Center como objeto de fetiche e
diversão em busca de novas emoções, para ver se encontramos alguns dos valores
reais para nossas vidas. Assim como também, esta busca pode acontecer através
da exposição do corpo e da promiscuidade sexual, ou refugiando-se nas redes
virtuais a procura de algo que não se sabe muito bem o que é. Todavia, é nessa
mesma discrepância que nossa jovem geração percebeu e contra a qual tomou uma
posição tão inflexível. Quantos jovens hoje em dia, vão às igrejas? Não aceita
a autoridade de um Deus como base dos princípios e valores espirituais.
Os valores do budismo e do taoísmo não se baseiam nas
revelações por parte de um ser superior. Entretanto, no budismo,
especificamente, a validade dos valores deriva de um exame da condição humana
básica – o sofrimento, o reconhecimento da sua origem, isto é, a cobiça que
nutrimos, e o reconhecimento das maneiras de vencer essa cobiça, que segundo a
tradição budista são oito caminhos a seguir, para se alcançar a purificação.
Por essa razão, a hierarquia budista de valores é acessível a todo aquele que
não tenha qualquer premissa materialista, a não ser a do pensamente racional e
da experiência humana autêntica.
Todavia, aprendemos com os orientais, que a solidão
no sentido de estar sozinho comigo mesmo, em algumas horas do dia, muitas vezes
é essencial para qualquer profundidade de meditação ou de caráter. Quando
ficamos a sós conosco mesmo em processo de meditação, percebemos a presença de
uma beleza e de uma grandeza natural que nos leva ao êxtase espiritual.
Entregamo-nos ao berço dos pensamentos e aspirações, pela qual a Divindade se
revela e despertar os valores que nos faz humanos.
Vencer sua própria cobiça e preconceitos, amar o seu
próximo, buscar o conhecimento da verdade, que é muito diferente do
conhecimento não crítico dos fatos. São as metas comuns a todos os sistemas
humanistas filosóficos e religiosos tanto no Oriente como no Ocidente. O ser
humano só pode descobrir esses valores quando atingir certo desenvolvimento
social e espiritual. Que lhe tenha dado o tempo e a energia suficiente para lhe
permitir pensar exclusivamente para além dos propósitos da simples
sobrevivência física. Não há dúvida de que, nesta fase da sociedade
praticamente desumanizada desses valores, torna-se cada vez mais difícil,
precisamente porque o homem materializado experimenta pouco da vida e, além disso,
segue princípios que lhe foram programados pela máquina. A maioria das pessoas
vacila entre vários sistemas de valores e, por isso, nunca progride plenamente
em uma ou outra direção, estão sempre insatisfeitas com tudo e com todos, são
infelizes na sua subjetividade. São pessoas que não tem personalidade e nem
identidade própria, mas teme e não querem fazer essa descoberta.
Por conseguinte, essa nova procura de uma vida mais
significativa não surgiu apenas entre os grupos pequenos e isolados do mundo oriental,
mas se tornou um movimento completo em alguns países de estrutura social e
política inteiramente diferente, bem como dentro das Igrejas Católicas e
Protestantes. O importante numa pessoa não é o conjunto de ideias e opiniões
que ela aceita porque lhe foi ensinado desde a infância ou porque são padrões
convencionais de pensamento. Mas, pelo caráter, a atitude e a raiz visceral das
suas ideias e convicções.
Portanto, o grande diálogo é baseado na ideia de que
interesses e experiências compartilhadas são mais importantes do que conceitos
compartilhados. Conceito é uma ideia que tenho e da qual não abro mão, mesmo
que seja para depreciar ou destruir o outro. Se uníssemos pelo o amor
compartilhado, talvez tivéssemos muito mais em comum e, força suficiente para
cultivar valores que nossa essência carrega. Enfim, não se pode viver neste
mundo sem ser religioso e sem se relacionar com o Universo em
harmonia. A alma precisa de silêncio e prece, pois no
silêncio e na prece nada tememos. Pela a experiência e o contexto em que
estamos, aprendemos que o tempo converte
mais que a razão.
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