Caminhamos na vida como se tivéssemos vendados os olhos do
corpo e da alma. A pretensão de tudo isso leva-nos ao orgulho, que é um entrave
à nossa evolução. Na verdade, o orgulho leva à desavença, além da incompreensão
entre as pessoas, porque cada um julga-se superior ao outro, lutando entre si,
em lugar de se darem as mãos e se compreenderem. Como disse o filósofo e padre
dominicano francês Henri Dominique Lacordaire (1802-1861): “O orgulho divide as pessoas, a humildade os
une”. A modéstia é uma das virtudes que enobrece a alma no conhecimento de
si mesmo, no limite do pouco que se sabe e do muito que ainda resta a
apreender. Quando a pessoa está mergulhada na vaidade, julga saber tudo, quando
na verdade, tudo ignora.
Entretanto, esta pretensão manifesta-se mais nos jovens, no
início dos seus estudos, sobretudo, na desobediência aos seus professores e
familiares. A situação chega a tal ponto que os jovens ignoram a lei para
demonstrar que não há nenhuma autoridade acima da sua. Neste caso a liberdade
da democracia, alvo de tantos abusos, conduzirá diretamente à escravidão e à
tirania. Pessoas orgulhosas de suas falsas aptidões atiram-se pela vida afora
em busca de alguma coisa, como no caso de um relacionamento amoroso, de um
trabalho e sonhando grandes sucessos, que muitas vezes resultam em grandes
fracassos e decepções, por falta de conhecimento básico. Como disse o filósofo,
matemático e pintor italiano Leonardo Da Vinci (1452-1519): “Ó miséria humana, de quantas coisas, por
dinheiro és escrava”. É aqui que a reflexão, a modéstia e a humildade devem
surgir como orientadoras dos passos que damos na vida e para qual direção
seguir, principalmente no campo afetivo das relações amorosas.
Há pessoas que sabem ter atitudes discretas, falam pouco e
ouvem mais, se conservam amáveis, escutam com paciência, aprovam ou criticam
sem ressentimento, porque depois de ter aprendido e meditado muito, a pessoa
tem consciência de sua pequeneza em face da imensidade no domínio das coisas
desconhecidas. Nossa má conselheira é a falta de modéstia, porque nos leva a
criticar o outro, a propósito de coisas insignificantes. Nosso desejo é dominar
o outro com virtudes e conhecimento que muitas vezes não temos. Todos os
grandes santos falaram e nos ensinaram as grandes virtudes da humildade. Com
certa frequência não somos humildes, vamos a Igreja aos domingos (cujo símbolo
cristão é o perdão e o amor ao próximo), nos redimimos dos pecados e comungamos
no Corpo de Cristo, dias depois
crucificamos o nosso semelhante sem piedade e sem dó, mostrando o quanto temos
de crueldade e rancor no coração. Matamos o outro moralmente, convicto de que
estamos eliminando uma erva daninha do nosso meio. Será que alguém ainda
acredita totalmente inocente, a ponto de julgar o outro pelo fim de uma amizade
ou de um relacionamento amoroso? Quando buscamos motivos para execrar o outro é
porque não o amamos suficientemente, quando amamos verdadeiramente, buscamos
razões para continuar nos braços desse amor.
Segundo o padre e teólogo espanhol Josemaría Escrivá de
Balaguer (1902-1975), foi fundador da Opus Dei na Espanha. Em 1992 foi
beatificado e em 2002, João Paulo II o canonizou como São Josemaría Escrivá de Balaguer. Ele nos da um precioso conselho
sobre a humildade: “Conseguirá mais com uma palavra afetuosa do que com três
horas de briga. Modera a tua ira. Não discutas. Da discussão não costuma sair à
luz, porque é apagada pela paixão. Procura encontrar diariamente uns minutos
dessa bendita solidão, que tanta falta te faz, para teres em andamento a vida
interior”. E nessa profunda reflexão, mais adiante ele continua: “Não queiras
julgar, cada qual vê as coisas do seu ponto de vista e com o seu entendimento,
bem limitado quase sempre, e com os olhos obscuros ou enevoados, com trevas de
exaltação muitas vezes. Não julgues sem colocar o teu juízo na oração”. Pela
vivência deste santo homem, poderíamos dizer que a simplicidade é irmã gêmea da
humildade. A simplicidade é a que há de mais difícil no mundo, é o último
resultado da experiência, a derradeira etapa do gênio, seja em qualquer área,
quero acreditar que sempre vai existir um gênio da humildade entre nós.
Portanto, o sábio conhece que a posse das mais altas
verdades o obriga à extrema discrição e à maior modéstia, porque o poder que se
proclama se perde; a verdade que se vulgariza se apaga; a felicidade que se
anuncia se esvai. Entre outras coisas que a verdade pede é que não a condene
antes de conhecê-la. Sobretudo, porque a humildade é condição essencial ao
progresso individual e proporciona felicidade aos seus possuidores e consolida
no amor. Contudo, nós humanos não somos um ser simples, mas composto de duas
substâncias e, o amor em si mesmo tem dois princípios: o ser inteligente e o
ser sensitivo. O apetite dos sentimentos tende ao bem estar do corpo e o amor
ordena o bem estar da alma. Se este amor for bem desenvolvido e maduro o
suficiente para segurar as turbulências da vida, ele está seguramente no plano
da consciência Cósmica. Compreender
e entender o outro são sinônimos de humildade e compaixão. Sobretudo, por ser o amor a essência da alma.
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