Certa vez li a seguinte frase: “em que momento os amantes
entram na mais completa posse de si mesmo se não quando estão perdidos um no
outro?” Penso que essa frase é do filósofo francês e padre jesuíta Pierre
Teilhard de Chardin (1881-1955). Sobretudo, porque o assunto sexualidade nunca
foi tão discutido e pesquisado como está sendo nesse século. Tamanha a
importância que vem alcançando e quebrando tabus, pois se trata da nossa extensão
física e espiritual. Eu sou um corpo informado de uma alma, segundo a tradição
cristã.
A fusão de dois corpos na intimidade sexual é,
fisiologicamente, o mais íntimo de todos os relacionamentos de que o ser humano
é herdeiro. É uma união das partes mais sensíveis de cada um com uma intimidade
ainda maior do que é possível com quaisquer outras partes do corpo. Fazendo
dessa intimidade sexual o caminho supremo pelo qual nos tornamos parte um do
outro; a pulsação do coração da outra pessoa é sentida como nossa. É como estar
nos braços da divindade. No entanto, ansiemos por essa libertação de intimidade
sexual e por um principio de medo ou insegurança, acabamos por frustrar e
amputar a manifestação desse amor no momento do encontro.
Outro erro grave que muitos cometem é a idéia de que, como a
intimidade sexual é às vezes recreação, trocas de carícias em momentos
prazenteiros, onde ambos exploram e experimenta o êxtase dos seus corpos, confunde
isso como apenas um simples momento de prazer. Contudo, ninguém se torna íntimo
da pessoa com quem está encantada. Tal posição ignora não apenas o significado
da intimidade sexual, mas também o poder do deus Eros. Entretanto, não é de admirar que o verdadeiro erotismo em
nossa sociedade esteja sendo inexoravelmente substituído pela pornografia.
O grande escritor e romancista russo, Fiódor Dostoievski
(1821-1881), nos oferece uma síntese desse uso do sexo. Em “Os Irmãos
Karamazov”, que narra o pai bêbado e bufão, voltando para casa de uma festa, à
noite, aceita o desafio dos amigos e pratica sexo, com uma mulher idiota que
está caída na vala. O resultado dessa cópula gera um filho que mais tarde mata
o pai. O uso desse símbolo narrado por Dostoievski tem um significado poderoso
para os adeptos do sexo livre e sem cumplicidade. Esse ato sexual, que é o sexo
sem intimidade levado ao ponto mais extremado, resulta em última análise na
própria morte. Todavia, uma das coisas mais tristes em nossa cultura é esse
tipo de relação descartável e compulsiva, parece ser fruto da desvalorização da
pessoa humana que vem disseminando a potencialidade do amor.
Portanto, o perigo é que tais pessoas alienadas, que tem
medo da intimidade, se encaminhem para uma existência de robôs, anunciada pelo
estancamento de suas emoções não apenas nos níveis sexuais, mas também em todos
os níveis, apoiadas pelo lema de que sexo não envolve qualquer intimidade.
Assim, não é de admirar que esses casais que se encontram nas noites aos finais
de semana e vão para cama com certa facilidade. Depois de um esforço medonho
para mostrarem desempenho e na maioria das vezes bêbados. Após essa relação
sexual de péssima qualidade e angustiante, para não dizer deprimente é, que vem
pergunta. “Qual é o seu nome, querida?” E assim, cada um com o seu medo, vagando
pela noite e vivendo uma vida descartável.
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