O amor nasce com o surgimento da própria vida. Antes mesmo
de nascer, experimentamos no útero materno sensações de extremo conforto e
acolhimento, que coincidem com o prazer proporcionado pela paixão e que
procuramos repetir pela vida afora, sempre buscando no outro.
Com o amor é igual tanto quanto se está dentro do útero,
quando se está apaixonado por alguém passamos a nos sentir protegidos,
envolvido por uma sensação de prazer, de ausência de qualquer necessidade é,
como se o outro fosse a minha pele, sinto-me protegido. Para sentirmos isso,
não precisa de muita coisa, basta estar ao lado da outra pessoa, para nos
acharmos completos e protegidos. Essa sensação de completude vivida na paixão é
muito parecida com aquela experimentada durante a gravidez.
Quando a criança nasce ocorre à primeira separação do amor.
Ela sai de uma situação de conforto e proteção, para enfrentar o mundo que, num
primeiro contato, se apresenta para ela de forma gelada, gerando uma sensação
de desproteção e abandono que coincide com aquela que ocorre quando acaba um
relacionamento amoroso, fica um vazio, abre um buraco no chão onde pisamos,
parece um abismo. A vontade que se tem é de voltar ao útero materno. Temos a
impressão de que nunca mais voltaremos a sentir tudo aquilo de novo. E isso
provoca um sentimento de perda e de desespero, a chamada “dor do amor”.
Todavia, esse sentimento não implica só numa perda, mas numa
dor, que é a maior de todas as dores. Não há dor que se compare a esta, causada
pela separação do amor. Não é só algo dos poetas, não é só quem fala de amor
como os filósofos, de uma maneira geral, que consegue perceber isso. Todos que
estão apaixonados, que se entregam de verdade, correm o risco de sofrer a dor
do amor.
Entretanto, parece que todos nós nascemos com uma espécie de
“tatuagem invisível” da primeira dor de amor. O momento da separação de uma
situação ideal que, ao longo da vida, sempre tentamos repetir. Só que precisa
ter muita coragem para tal ousadia, depois de sofrer a dor do amor, conseguir
amar novamente não é uma tarefa fácil. Por conseguinte, todos nós nascemos, em
tese, com dificuldade de amar. Ficamos sempre na expectativa de que o outro se
mostre apaixonado e interessado primeiro por nós, para certificar de que não
vamos sofrer a dor do amor. Isto é péssimo para os amantes e, impossível de
constituir-se numa relação estável, onde a dor do amor não seja inevitável. Não
temos essa certeza. Quem pode garantir que vai dar certo ou não?
Portanto, quando a gente encontra alguém que nos olha com
encantamento, admiração, interesse e gosto, desperta em nós espontaneidade e
solicita aproximação. O estado mais gostoso da vida é quando esse amor aparece.
Porque quem eu amo torna-se o meu Guru. É com esta pessoa que tenho que
aprender coisas da vida, trocar abraços e caricias. São essas necessidades
vitais, importante e fundamental para a nossa sobrevivência. Concluo essa
reflexão com uma frase do poeta Vinícius de Moraes, que traduz bem esse
sentimento: “Que não seja imortal posto o
que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”.
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