A fé
é uma palavra de origem latina que significa “fides”, e quer dizer: fidelidade, confiança, credibilidade. A fé é
um sentimento de total fidelidade por alguma coisa ou por alguém. Somente a fé
pode nos mover na direção da esperança. A esperança é um elemento intrínseco da
estrutura da vida, faz parte da dinâmica do espírito humano. De modo que, a fé
convive com a dúvida e elimina a possível certeza que alguém possa vir a ter.
Assim como crer não é a mesma coisa que ter fé. Crer é algo incerto e vago. Por
exemplo: quando digo, creio que vai chover hoje, não estou afirmando. Crer em
Deus, não é a mesma coisa que ter fé. Quem tem fé ou fidelidade para com Deus,
estabelece perfeita sintonia de pensamento com esse “Eu divino”. É na verdade, um salto no abismo, isto sim é ter fé.
Todas
as pessoas que tem certeza são intolerantes. Estão sempre certas sobre seus
pensamentos. Por que iria ouvir ideias diferentes de outras pessoas? As pessoas
que têm certeza não são abertas as novas ideias. Não são abertas ao diálogo e
não estabelecem relações duradouras por acharem que estão sempre certas, no seu
conceito e ideal de vida.
Por
outro lado, nos foi ensinado no catecismo dominical, que o mundo criado por
Deus tem muito mais coisas boas do que ruins. Nós achamos os desastres da vida
desconcertantes não apenas porque são dolorosos, mas também porque são
excepcionais. A maioria das pessoas se sente bem disposta para ir a luta
diariamente. Com o avanço da medicina muitas das doenças hoje são curáveis.
Diariamente os aviões decolam, pousam em segurança. A maior parte das vezes que
enviamos nossas crianças para brincar, elas retornam para casa sãs e salvas.
Os
acidentes, os roubos, o tumor que não pode ser operado, com raras as exceções,
nos despedaçam frente a vida. Quando se é golpeado por algum desses fatos é
muito difícil mantermos a calma. Quando se está próximo de um objeto muito
grande, tudo que se pode ver é o objeto em si. Somente quando nos afastamos do
problema é que podemos perceber dentro do contexto que os monstros criados pelo
nosso universo simbólico, não são tão assustadores assim.
Quando
somos desnorteados por alguma tragédia, só podemos ver e sentir a tragédia.
Quem tem um ente querido morto, vítima da criminalidade, vai desejar a pena de
morte a todos os bandidos e delinquentes. Apenas com o tempo e a distância
veremos a tragédia no contexto da vida inteira e do mundo inteiro.
Na
tradição judaica, a oração especial conhecida como Kaddish não é sobre a morte,
mas sobre a vida. Ela louva a Deus por ter criado um mundo basicamente bom, em
que se pode viver. Recitando aquela oração, a pessoa de luto é lembrada de tudo
o que é bom e digno de ser vivido. Para o rabino Harold S. Kushner (1935), a
oração Kaddish é uma afirmação de vida e esperança.
Que
diferença faz a fé em nossa vida? Para que serve Deus em nossa vida se Ele nem
cura e nem mata? Parece que Deus não interfere no mundo físico dos vivos. Mas,
Deus faz coisas muito nobres, inspirando pessoas a se ajudarem, principalmente
aquelas que foram feridas pela vida e a protegê-las do perigo quando se
sentirem as sós, abandonadas ou julgadas pelo seus opressores.
Deus
faz com que algumas pessoas queiram tornar-se educadores, engenheiros, médicos
e enfermeiros, aplicando-se noite e dia, com sacrifício e intensidade que
nenhum dinheiro pode compensar, à tarefa de sustentar a vida e aliviar a dor.
Fazendo com que as pessoas se inclinem às pesquisas, focalizando sua
inteligência e energia sobre as causas e as possíveis curas de algumas das
tragédias imposta pela vida.
Através
da história humana ocorreram pestes e epidemias que varreram cidades inteiras.
Os casais sabiam que tinham de ter muitos filhos para que algum deles
sobrevivesse até a idade adulta. A inteligência humana chegou a uma compreensão
maior das leis naturais no que diz respeito ao sanitarismo, aos germes, à
imunização, aos antibióticos, conseguindo eliminar muitas daquelas doenças. E até
hoje a humanidade agradece.
Deus,
que não causa e nem elimina as tragédias, ajuda inspirando as pessoas a
ajudarem-se. Como o rabino ortodoxo Harold S. Kushner, certa vez observou: “os seres humanos são a linguagem de Deus.
Deus demonstra sua oposição ao câncer e aos defeitos de nascença, não
eliminando-os ou fazendo-os acontecer apenas às pessoas ruins, mas, convocando
amigos e vizinhos para aliviar o fardo e preencher o vazio”.
Portanto,
para quem perguntar por que ter fé ou confiar em Deus, eu diria que Deus não
pode evitar as calamidades da natureza física, mas pode dar-nos inteligência,
sabedoria, coragem e perseverança para superá-las. Onde mais iriamos conseguir
essas qualidades que antes não tínhamos? Contudo, concluímos que Deus não pode
fazer tudo, mas faz coisas muito importantes para o nosso espírito. Tudo
depende da nossa fé. É a partir dessa fé que inventamos um mundo mais seguro e
mais humano para se viver.
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