Como
dizia o poeta, compositor e cantor Gonzaguinha (1945-1991): “há um lado
carente dizendo que sim, e essa vida da gente gritando que não”. O heterônimo
de Fernando Pessoa (1888-1935), Álvaro de Campos, nos da uma pista exata sobre
o significado de escrever uma carta de amor. Isto é, se há amor por que não
contar em verso e prosa? “Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam
cartas de amor se não fossem ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de
amor, como as outras, ridículas. As cartas de amor se há amor, tem que ser
ridículas. Mas, afinal, só as pessoas que nunca escreveram carta de amor é que
são verdadeiramente ridículas. Quem me dera no tempo em que escrevia, sem dar
por isso cartas de amor, ridículas. A verdade é que hoje, as minhas memórias
dessas cartas de amor é que são ridículas. Naturalmente, ridículas são aquelas
pessoas que nunca escreveram uma carta de amor. Ridículas como as outras”.
Sempre
me expressei melhor por escrito. Oralmente não sou muito feliz às vezes falo o
que não devo e o que devia falar, não expresso. Não sei se aconteceu com você
leitor, mas no meu tempo de escola, era proibido falar. Então, escrevia. A
partir daí, acostumei-me a escrever e virei escritor. Adoro escrever. Adoro
ler. Mas, adoro também conversar. Como seria uma carta de amor imaginária a
alguém especial? Sobretudo, se for uma linda história de amor! Começaria mais
ou menos assim: “Conversar com você é
muito bom. Porque você é boa ouvinte. Ouve com atenção e valoriza cada frase ou
pronunciamento da pessoa que conversa com você. Pesa. Pondera. E não fala
precipitadamente. Analisa. E é sincera. Suas colocações são muito inteligentes!
Você escreve, lê e fala muito bem. É sensata. Moderna. Charmosa. Quente. Enfim,
uma companhia muito agradável. Adoro estar com você. Você é maravilhosa como
mulher, como profissional e como amiga. Conviver com você todos esses anos foi
muito bom. Você é dessas pessoas que despertam na gente o prazer de viver”.
Na
verdade, é uma declaração imaginária de amor: “Se eu pudesse não me afastaria nunca mais da sua presença. Mas, não
depende só de mim. E o sentimento quando não é recíproco, não vale a pena! Tem
que ser uma atração mútua. Caso contrário, não compensa. Eu passei uma parte da vida procurando a mulher ideal. E não a encontrei. De repente, você apareceu e
meu anjo da guarda me disse: É esta! Eu sempre errei, mas meu anjo da guarda, jamais erraria. Eu lhe disse,
no nosso primeiro encontro, que não suporto nada forçado. Tudo tem que ser
espontâneo e natural. Apelação não é comigo. Suplicar, nem pensar. Ou é uma
vontade mútua, ou nada poderá acontecer. Posso lhe garantir que da minha parte
é natural. Eu a amaria intensamente. Não sei se por toda a vida, mas seria verdadeiro,
sincero e integral. Um amor exclusivo. Criativo. Moderno. Sensual e Erótico.
Alegre. Irreverente. Provocante. Total. Enfim, maravilhoso. Faria tudo para que
acontecesse assim”. É como imagino uma linda história de amor.
Vou
um pouco além da proposta que traz a carta: “amá-la exclusivamente e intensamente por muitos dias e muitos anos. Não
sei até quando, mas, por um tempo ideal. Se possível, até o fim da vida. Já não
somos jovens, precisamos de alguém para cuidar de nós. Gostaria de cuidar de
você e queria que você cuidasse de mim. Daqui a alguns anos, seremos idosos.
Idoso sozinho é a coisa mais triste que existe, não existe nada pior. A nossa
convivência poderia ser gostosa. Depende de planejamento. Tenho a impressão,
parodiando Guilherme Arantes”: “que o melhor das nossas vidas está para
começar”. De modo que, poesia pertence àquela categoria de palavras que,
durante certo tempo, caíram enfermas, em desamparada exaustão; eram evitadas e
dissimuladas seu uso expunha-nos ao ridículo. E foi tão exauridas que,
enrugadas e feias, transformaram-se em sinal de perigo. Aquele que, não
obstante, se punha a exercer a atividade que, como sempre, prosseguiu existindo
chamava a si próprio “alguém que escreve poesia”.
Portanto,
dedico a todos os românticos e apaixonados essa carta de amor, em verso e
prosa. Como filósofo e poeta, concluo com essa frase: “Se for para esquentar, que seja no sol, de preferência ao meu lado. Se
for para enganar, que seja o estômago. Se for para chorar, que chore de
alegria. Se for para mentir, que seja a idade. Se for para roubar, que roube um
beijo dessa pessoa que te ama. Se for para perder, que se perca o medo de
revelar o amor que sentimos um pelo outro. Se for para cair, que seja na
gargalhada. Se for para existir a guerra, que seja de travesseiros com a pessoa
amada. Se existir a fome, que seja de amor. Se for para ser feliz, que seja o
tempo todo. Se possível ao lado desta pessoa que te emociona. Porque o amor não
é um sentimento qualquer, que se acha solto por aí todos os dias da sua vida.
Se quisermos a felicidade, temos que correr atrás e não esperar que ela bata a
nossa porta”.
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