Nas aulas de filosofia, depois dos alunos
conhecerem o filósofo grego Platão (427-347 a.C.), mais precisamente a sua obra
“O Banquete”, logo desperta a
curiosidade deles sobre o tal amor platônico, que levanta uma questão
extremamente pertinente para eles: “a
paixão”. Existe algo mais apaixonante, de si para consigo, do que a paixão?
Ao julgar se a paixão vale ou não vale a pena ser vivida, é responder uma
das questões cruciais da filosofia platônica.
Muitas pessoas confundem o amor com paixão.
Quando estão apaixonadas, julgam estar amando. O amor, porém, é uma vivência
mais ampla, é um modo de ser, de viver, que se conquista gradualmente, à medida
que se desenvolve a sensibilidade para com as outras pessoas, isto é, através
de uma amizade constituída. É a capacidade de descentra-se, sair de si, ir ao
encontro do outro, em uma atitude de zelo e respeito que nada quer em
troca. Amar demanda cuidados com o outro, preservar a identidade e as
diferenças do outro, sem perder a sua, evidentemente. É o mesmo que estar
comprometido com a realização do outro, é um querer bem ao seu próximo.
A capacidade de amar pode expandir-se e atingir
um envolvimento e um compromisso com todos os seres vivos e até mesmo com seres
inanimados. Os movimentos ecológicos atestam gestos de amor de pessoas que
lutam pela preservação da fauna, da flora, das águas e do ar, na questão da
poluição, segundo afirma a filósofa e educadora Neusa Vendramin Volpe.
Ao contrário do amor está a paixão. O filósofo
holandês Baruch Spinoza (1632-1677) compreendeu que toda a nossa felicidade e
toda a nossa miséria residem num só ponto: “a
que tipo de objeto estamos presos pelo amor”? Se este suposto amor estiver
centrado no egoísmo do sujeito que se diz amar de paixão, fuja desse amor. Ele
só ama a si próprio. É a carência dele que grita mais alto. Segundo Platão, o
amor perfeito só existe no mundo das idéias, ou seja, idealizamos esse amor e
projetamos no outro. É um gostar de mim mesmo no outro. A partir do momento que
esse não corresponder mais as minhas expectativas, deixo de amá-lo. Esse amor
centrado no egoísmo é a paixão. A idealização projetada no objeto de desejo.
Portanto, às vezes pensamos que gostamos de uma
determinada pessoa, só porque ela nos entende. O que mais precisamos naquele
momento é ser compreendido por alguém, ou seja, alguém com uma percepção
aguçada, para ler nas entrelinhas o que acontece com o nosso sentimento. De
modo que ser amoroso é uma característica da nossa personalidade e pressupõe
toda vivência desde o seio materno. Só quem recebeu o amor é capaz de amar.
Ninguém da o que não tem. Se nunca fomos amados de verdade é pouco provável,
entregarmos totalmente a um grande amor. Vamos estar sempre com um pé atrás.
Vamos buscar no outro aquilo que não temos, aquilo que nos faltam e acreditamos
encontrar na nossa outra cara metade, como afirmava Platão.
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