Ter
utilidade para alguém é uma coisa muito cansativa. Humanamente falando a pessoa
se realiza sentindo-se útil na vida de alguém. Mas, acredito que a utilidade é
um território muito perigoso. Confesso que demorei algum tempo para entender
essa fala do Padre Fábio de Melo, sobre o perigo da gente ser somente útil na
vida de alguém, seja ele filho, amigo ou a pessoa com quem relacionamos
afetivamente. Não queremos só ser útil na vida das pessoas. Queremos ser o
significante e o significado ao mesmo tempo. Por que será que a utilidade é um
território muito perigoso?
A
resposta parece simples, mais não é. Muitas vezes achamos que o outro gosta de
nós pela nossa utilidade ou talvez porque nos ama de verdade. Mais não é bem
assim! Na sua maioria ele está interessado naquilo que fazemos por ele. Com o
passar dos anos a velhice chega e o idoso torna-se um fardo muito pesado para
quem ele foi útil. Passado a utilidade, ficou somente o seu significado como
pessoa. Este é o momento de purificação da vida. É o momento de saber quem nos
ama de verdade.
Desse
modo, só vai ficar do nosso lado até o fim, aquele que depois da nossa
utilidade, descobriu o nosso significado. O que mais desejo para a minha vida
hoje, é poder envelhecer ao lado das pessoas que tenham amor por mim. Falo
daquelas pessoas que podem proporcionar a tranquilidade de ser inútil, mais sem
perder o valor para elas. Peço a Deus a graça, de sempre ter alguém que me
coloca no sol, mais sobretudo, que venha me tirar depois. De modo que todo
idoso deseja ser acolhido, deseja alguém que saiba da sua inutilidade e mesmo
assim lhe acolhe.
Portanto,
quero alguém que saiba que já não sirvo para muita coisa, mas, que continuo
tendo o meu valor. Porém, se quer saber se o outro te ama de verdade é só
identificar se ele é capaz de tolerar a sua inutilidade. Quer saber se ama
alguém, pergunte a si mesmo: “Quem nesta vida já pode ficar inútil, sem
que eu sinta o desejo de jogá-lo fora?” É assim que descobrimos o
significante amor. Contudo, só o amor nos dá condições de cuidar do outro até o
fim. Feliz daquele que tem no final da vida, a graça de ser olhado nos olhos e
ouvir a seguinte frase: “Você não serve para nada, mas, não sei viver sem
você”. Aqui está o paradoxo da essência do amor.
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