Muitas pessoas confundem o amor com paixão. Quando estão apaixonadas, julgam estar amando. O amor, porém, é uma vivência mais ampla, é um modo de ser, de viver, que se conquista gradualmente, à medida que se desenvolve a sensibilidade para com as outras pessoas, isto é, através de uma amizade constituída. É a capacidade de descentrar-se, sair de si, ir ao encontro do outro, em uma atitude de zelo e respeito que nada quer em troca.
Amar demanda cuidado com o outro, preservar a identidade e as diferenças do outro, sem perder a sua evidentemente. É o mesmo que estar comprometido com a realização do outro, é um querer bem ao seu próximo. A capacidade de amar pode expandir-se e atingir um envolvimento e um compromisso com todos os seres vivos e até mesmo com seres inanimados.
Ao contrário do amor está a paixão. O filósofo holandês Baruch Spinoza compreendeu que toda a nossa felicidade e toda a nossa miséria residem num só ponto: a que tipo de objeto estamos presos pelo amor? Se este suposto amor estiver centrado no egoísmo do sujeito que se diz amar de paixão, fuja desse amor. Ele só ama a si próprio. É a carência dele que grita mais alto.
Segundo Platão, o amor perfeito só existe no mundo das idéias, ou seja, idealizamos esse amor e projetamos no outro. É um gostar de mim mesmo no outro. A partir do momento que esse não corresponder mais as minhas expectativas, deixo de amá-lo. Esse amor centrado no egoísmo é a paixão. A idealização projetada no objeto de desejo.
Portanto, ser amoroso é uma característica da nossa personalidade e pressupõe toda vivência desde o seio materno. Só quem recebeu o amor é capaz de amar. Ninguém da o que não tem. Se nunca fomos amados de verdade é pouco provável, que vamos nos entregar totalmente a um grande amor. Vamos estar sempre com um pé atrás. Vamos buscar no outro aquilo que não temos, aquilo que nos faltam e acreditamos encontrar na nossa outra cara metade, parodiando Platão.
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