Somos
muito criticados por pessoas próximas, que deveriam nos conhecer como ser
humano que somos e tratar com amor e respeito tudo que fazemos e produzimos, em
qualquer esfera profissional, inclusive no mundo literário, que é o meu caso.
No entanto, por pensar e ser diferente, não somos aceitos nem nosso próprio
convívio. Lamentavelmente, o ser humano é mesquinho e egoísta, pronto para
apontar o dedo sobre os erros dos outros. Fazem uso da razão para difamar e
destruir o outro, só porque pensa e faz diferente dele. E com isso as relações
humanas vão apodrecendo aos poucos. Na verdade, o ser humano não é flor que se
cheire. Somos um misto de maldade e bondade, muito pouco aproveitamos da boa
convivência. Estamos mais predispostos a destruir que construiu. Não respeitamos
a arte de pensar diferente daquele que convive de perto conosco. Em dez mil
anos de história, nunca tivemos um ano de paz na terra. Há uma desconfiança e
ódio espantoso da espécie humana. Fazemos pouco da humildade e da compaixão em relação aqueles menos favorecidos.
A
título de ilustrar, certa vez um homem caminhava pela praia, quando viu um
menino brincando na areia. O homem ficou um tempo observando a brincadeira do
menino e notou que ela se repetia. A criança pegava no mar um pouco de água num
copinho e trazia até a areia e jogava num buraco. Fazia isso diversas vezes.
Aproximando-se do menino, o homem perguntou o que ele pretendia com aquela
brincadeira. O menino contou que sua intenção era tirar toda a água do mar e
colocar naquele buraquinho. Ao ouvir a explicação do menino, o homem não se
conteve e começou a rir. Disse sem muito pensar que seria impossível ele pegar
a imensidão do mar e colocar naquele tão minúsculo buraquinho. Ao que o menino
respondeu que acontecia a mesma coisa com as pessoas que insistem em colocar
Deus, uma verdade tão imensa, em uma cabecinha tão pequena.
Quando
ouvi, na faculdade de filosofia essa estória, contada num texto de Santo
Agostinho, percebi que, para entrar no mundo do pensar diferente, deveria me
desarmar e colocar em cima da mesa o meu orgulho e a minha arrogância. De que
adianta ganhar o mundo inteiro se você está desprovido de amor. O orgulho e
minha arrogância é uma visão distorcida do mundo, são apenas armas de minhas
defesas, armas de conceitos e preconceitos, são valores e convicções já
cravadas dentro de mim. Talvez o correto fosse nos desarmar e despir para
enfrentar o choque que o novo nos proporciona.
Portanto,
a nossa proposta é um convite a discutir a vida, que na verdade é um convite a
importância do saber viver. É dar a cada um, diversos caminhos e ter a certeza de
que aquele que escolher será o que lhe levará mais próximo da felicidade, pois
como dizia um velho amigo e mestre: uma
má decisão é melhor que a indecisão, e pior que seguir um caminho errado é
ficar na janela e ver o tempo passar. Encerro esta reflexão com uma história
de Rabi, contada pelo filósofo judeus Martin Buber (1878-1965), “A Árvore
Genealógica”. Quando o Rabi Ber tinha cinco anos, a casa de seu pai pegou fogo.
Ao ouvir sua mãe lamentar-se, perguntou: - Mãe,
precisamos ficar tristes por termos perdido uma casa? – Não é pela casa que choro – disse a mãe –
mas pela nossa árvore genealógica, que se
queimou. Começava com Rabi Iohanã, o
sapateiro, mestre do Talmud. – Bem e
o que tem isso? Exclamou o menino. – Eu
te arranjo outra árvore genealógica, que começa comigo. Não queira ter
razão, seja feliz com o que a vida lhe oferece, que é o seu presente precioso!