Na
peça escrita pelo filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980): “Entre Quatro Paredes”, três personagens
muito diferentes morrem e vão para o inferno. Lá não encontram o capeta, nem
fogo, nem dor, nada do que imaginamos ou prega algumas religiões, ser um
inferno. O castigo será a convivência entre eles, por toda a eternidade. Um
detalhe interessante é saber que lá não existe espelho, dessa forma o outro
será meu reflexo e minha identificação.
Quer
situação mais infernal que esta? Pois tem! É saber que estamos nesse inferno, diariamente.
Em nome da chamada relações humanas, abrimos mão de nossa verdadeira felicidade
para viver em função de algo, e agimos por aparências. Muitas vezes, deixamos
de fazer o que realmente nosso interior pede, por achar que vamos ferir
convenções e costumes. Realmente, não machucamos os costumes, mas nos ferimos
profundamente, principalmente por saber que aqueles que nos impõem seus olhares
reprovadores também possuem as mesmas angústias existenciais que a nossa. Fui
notando que, por não terem a liberdade e força para lutarem por suas
felicidades, imputavam-nos o castigo de não sermos felizes, como deseja a nossa
divindade.
Ao
entregar nossa vida para que o outro nos comande, estamos nos coisificando,
perdendo a razão do nosso existir. Esse sentimento de lutar por nossa
liberdade, para que nossa vida tenha um sentido, sempre aparece quando morre alguma
pessoa próxima, querida por nós. Sempre falamos que, a partir daquele instante,
vamos viver de forma diferente, vamos fazer tudo o que for possível para ser
feliz. Essa é uma postura existencialista. Para o existencialismo, não somos
nada por definição, vamos nos fazendo na medida que vamos construindo no
presente o que queremos para o nosso futuro. Dessa maneira nos diferenciamos
das coisas, pois as coisas estão concebidas e nós, humanos, nos lançamos na
caminhada do viver.
Entretanto,
o grande mistério da vida é perceber que não existe um projeto de vida
estabelecido para nós. Somos nós que criamos o existir. O que serviu para minha
mãe ou para meus filhos, pode não servir para mim. A grande descoberta da vida
é saber estar com quem a gente ama e que não somos robôs, fabricados em uma
mesma forma, mas ao contrário somos criados para a liberdade que só o amor nos
traz.
Portanto, a angústia surge quando esse sentimento de liberdade bate de frente com o outro que tenta nos formatar. Liberdade é escolha e amar é sentimento inato. Podemos fingir que aceitamos tudo pronto e assumir o papel que foi escrito para nós, ou tomar o comando de nossa existência e tentar escrever a nossa própria história. Um bom exemplo a ser seguido é o de Jesus, que não se deixava levar por aqueles que queriam lhe apedrejar e muito menos por aqueles que queriam coroá-lo. Na maioria das vezes a gente diz que ama, quem na verdade, a gente gosta. São duas coisas distintas. Gostar é querer estar junto, do latim = "gustare", sentir o sabor, provar, ou seja, fazer coisas juntos como: passear, dançar, estar numa roda de prosa ao lado de boas companhias. Ao contrário de amar. Amar é morrer pelo outro. Noventa por cento do mundo não sabe o que é amar e também não quer amar. Basta olhar para Jesus Cristo pregado na cruz, para entender o que é amar. Contudo, Sartre captou essa indiferença do ser humano pelo seu semelhante e construiu seu pensamento sobre o inferno criado pelo homem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário