No século XVI havia uma preocupação com o amor romântico. O poeta português,
Camões escrevia sobre o amor e a dor que ele pode causar: “Amor é fogo que arde sem se ver; é ferida que dói e não se sente. É um
contentamento descontente. É dor que desatina sem doer. É um não querer mais
que bem querer. É solitário andar por entre a multidão; é nunca contentar-se de
contente. É cuidar que se ganha em se perder”.
A
nossa sociedade de consumo não expulsa do seu interior, evidentemente, as
experiências da paixão, mas, olha com desprezo esse sentimento tão nobre.
Homens e mulheres continuam a aspirar tanto como antes à intensidade emocional
de relações amorosas, mas, quanto mais forte é a expectativa, mais raro parece tornar-se
o milagre da fusão dos amantes e concretizar o amor tão desejado. Estamos
vivendo a “era do vazio”, como que enaltecendo
a parte negativa desse nobre sentimento. Poucos acreditam no amor e os que
acreditam, desistem por medo de sofrer.
Amar
significa ser capaz de não se deixar atrofiar pela pressão social onipresente
das falsas mediações ao tratar o outro como mercadoria substituível: “Para certas convenções tal pessoa me serve,
para outras não é conveniente aparecer ao seu lado”. Aqueles que amam são
visionários de outros mundos, reinventores da felicidade perdida na monotonia
dos dias de trabalho. São guardiões do amor, por ser o amor transcendência de
tudo aquilo que se supõe realizá-lo. O desejo quer sempre outra coisa, assim
como o amor quer dar o que não tem, recebendo em troca a mesma falta.
Por
isso os verdadeiros amantes só se colocam problemas que não podem resolver. O
poeta aparece como um mediador, para assim amenizar essa dor que nos torna impotente:
“Ó bem-aventurada com o eterno sabor de
lábios e beijos. Que tudo que tocamos se transmuta em frutos aromáticos, nesses
corpos macios e formosos, matando desejo e alimentando a excitação nesta voluptuosa
paixão”. Isto é o que sente os amantes quando se encontram.
Portanto,
o amor é portador de um mistério abissal. E parece que precisa ser assim mesmo
para existir. Transcende toda capacidade de explicação racional. Podemos perfeitamente
explicar a simpatia que nutrimos por esta ou aquela pessoa por causa de suas
qualidades morais, pela beleza, pela determinação em perseguir a realização dos
sonhos, pela competência profissional. Nada disso ocorre com o amor. Nada
explica por que entre todos os homens e
mulheres, um elege o outro como parceiro insubstituível da sua vida, do seu
desejo, dos seus projetos, dos seus prazeres eróticos. Como argumenta meu
amigo, filósofo e educador José Luiz Furtado: “não podemos imaginar nenhuma razão que justifique amar”. Simplesmente
amamos. A eleição do amado destrói a própria liberdade de escolher. Não escolhemos quem amar. Contudo, escreveu o poeta acerca da mulher amada: “Liberto-me tornando-me seu escravo”.
Afinal, o que aconteceu com o amor romântico?
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