Até hoje não foi possível
apreender a essência da vida. Por isto a vida é habitualmente definida como
automação ou noção de si mesmo, moção espontânea e imanente. Moção espontânea,
porque se trata de um movimento que o ser vivo produz por si mesmo, por seus
próprios recursos. E moção imanente, porque o termo desse movimento está no
próprio ser vivo. Sendo assim, conhecer é algo que procede de um sujeito
vivente, e o termo do conhecimento é algo que fica no vivente. Alimentar-se é
algo que procede do vivente, e algo cujo termo fica no vivente. Assim o ser
vivo se move, ao passo que o não vivente é movido.
Para maior clareza,
distinguimos movimento ou ação transitiva e movimento ou ação imanente. Ação
transitiva é aquela cujo termo está fora do sujeito que age. Por exemplo: a
ação de aquecer supõe um fogareiro (foco de calor) e o termo do aquecimento (a
água aquecida). A perfeição que o agente produz, não fica no agente, mas vai
enriquecer outro ser. Tanto os seres não viventes quanto os viventes podem
produzir ações transitivas. Ação imanente é, como foi dito acima, aquela cujo
termo fica no próprio sujeito que age. Por exemplo: conhecer com os sentidos ou
com a inteligência, refletir, experimentar um prazer. Aqui me reporto ao amor
entre dois amantes. O amor que dou fica no outro e constituem a sua riqueza e para mim a satisfação em dar e receber esse amor. A ação imanente é própria dos seres vivos e
serve para defini-los.
Quando dizemos que o ser vivo
se move por si mesmo, não queremos afirmar que ele seja o princípio primeiro do
seu movimento. Na verdade, o movimento que parte dele, está condicionado por um
conjunto de causas, das quais depende a cada momento. Por exemplo: a criança
cresce e se desenvolve a partir do seu princípio vital a alma, que lhe é
imanente; mas esse seu crescimento depende da alimentação, do clima e do
ambiente da criança. Por isto podemos dizer que tudo o que se move é movido por
outrem, ao menos no sentido de que depende de outrem para exercer a sua
atividade. A diferença entre o vivente e o não vivente está em que o movimento
não é comunicado mecanicamente ao ser vivo (como no caso do movimento da
pedra), mas resulta, sob a ação das causas que o tornam possível, do próprio princípio
vital, isto é, de dentro mesmo do ser vivo.
Entretanto, existe uma frase
circulando por aí que diz que uma pessoa quanto mais ela vive, mais velha ela
fica. Isto não é verdade, o que envelhece é coisa, objeto, como carro, sapato,
roupa e etc. Ser humano não nasce pronto, como o carro, sapato e roupa. Não nasci pronto e vim me gastando,
mas, vim me fazendo ao longo da vida. Tanto que hoje sou um novo Eduardo,
evidentemente, que não sou inédito. Para ser inédito teria que ser como nunca
fui, mas o modo como sou hoje certamente, nunca fui antes. Todavia, uma das
coisas que quero ser é uma pessoa íntegra, solidaria e fraterna, ainda não sou
por completo, mas, posso sê-lo. Para isso não posso ser arrogante, porque o
arrogante acha que já está pronto, se acha o perfeito, o dono da verdade, se
acha acima do bem e do mal. São pessoas que vivem cheio de certeza. Toda pessoa
que tem certeza são intolerantes. Se ela está sempre certa sobre suas ideias,
porque vai ouvir as ideias diferentes de outras pessoas? Ela não é aberta ao
diálogo e nem as novas ideias. Contudo, vai ficando cada vez mais fechada
dentro de si mesma. Como dizia Rubem Alves (1933-2014), “na vida a gente tem que se lançar
como se lança no abismo. Ter fé é nunca desistir do seu objetivo”.
Portanto, a vida está em
cada ser vivente. Viver é o espírito estar satisfeito consigo mesmo. Isto é
viver. O espírito é a sua fala. Sua fala deve estar de acordo com o que seu
coração está sentindo. Sua fala deve estar verbalizando e se expondo
publicamente, mas não confusa e sim convicta, conforme os valores que você
reconhece como corretos, justos, igualitários e prazerosos. Sendo assim, você deve
armazenar o amor pela vida, a solução ideal dos problemas e carências da
humanidade. Sua mesa de trabalho, suas estantes e aquivos, devem conter sempre
projetos e planos. Podem ser muitos ou alguns poucos. Eles precisam possuir
coerência e estarem bem arquitetados. Esses projetos podem ser pequenos,
modestos ou podem também ser grandiosos, gigantescos. O que importa é que sejam
coerentes e possuam sentido. Contudo, se os elementos descritos efetivamente
performam a sua vida, então sua fala estará sempre deixando o viver
expressar-se de modo completo. E expressá-lo são a ocupação e a essência do
espírito. E isto é viver, na sua acepção máxima e completa. Cuide-se para que
seu viver seja sempre assim. Lembre-se, na essência somos amor compartilhado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário