Aproveitando esse momento
que antecede o Natal, vamos refletir um pouco sobre as relações humanas.
Afinal, é uma data tão esperada pelos cristãos, onde comemora o nascimento do
menino "Jesus". É uma época do ano em que ficamos mais vulneráveis e
sensíveis a sentimentos nostálgicos. Momento ideal para repensarmos sobre nossa
postura diante do outro. Muito importante para pessoas que se acham perfeita,
julga sem nenhum critério, não enxergam ao seu redor o que estão plantando e o
que poderão colher. Como diz a sabedoria cristã, “quem planta colhe”. Ser cristão
é julgar o outro, sem antes conhecer a sua história? Será que sabemos
compreender a dor e o sofrimento do nosso semelhante? Quantas vezes deixamos de
olhar nos olhos de quem nos fala? Por que não criamos laços afetivos duradouros
se há amor? Por acaso seria por não saber dialogar? Por que pessoas como nós, dormem
na rua? O que é mais fácil, acolher ou abandonar? Somos humanos ou um projeto
de humanos que vivem de aparência? As pessoas arrogantes se acham perfeitas e
dona da verdade. Todas as pessoas que tem certeza são intolerantes. Se ela está
certa sobre suas ideias, por que vai ouvir o outro?
Entretanto, as pessoas não
enxergam o outro, porque fazem fofocas e dão muitas respostas para poucas
perguntas. Mal sabem que a palavra é ambígua, porque limita o pensamento. Quem
fala muito pensa pouco. Diz um ditado popular: “temos dois ouvidos para ouvir mais e, somente uma boca para falar menos”.
Quem fala muito, além de ouvir pouco, acha que falando diz exatamente tudo. Às
vezes os gestos dizem mais do que qualquer palavra pronunciada. Todavia,
palavras foram feitas para dar pedacinhos de diálogos e não o diálogo
propriamente dito. Falando somos muito mais que uma simples frase, porque, para
todo acontecimento existe um contexto e uma circunstância, segundo o filósofo
espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955). Isto só vem confirma a tese de que
voltamos a viver na "Caverna de Platão", ou seja, temos a ilusão de tudo àquilo que
vemos é a realidade dos fatos. No entanto, não avaliamos o contexto, isto é,
estamos todos cegos, vivendo num mundo de opinião e aparência. A gente vê mais
não enxerga. No livro Ensaio Sobre a
Cegueira, o escritor José Saramago (1922-2010), nos da uma reflexão
filosófica profunda: “será que é preciso
cegar todos para que enxerguemos a essência do outro?”
Todavia, a grande
dificuldade das pessoas, ainda é a falta de diálogo. Lamentavelmente, temos uma
tendência a julgar o que vemos, sem antes enxergar o que de fato estamos vendo.
Nem tudo o que vê é realmente o que se vê. Somos levados por um impulso que
chamo de “acorrentados da caverna”.
São aquelas pessoas que inventam um mundo para si e, feito numa espécie de
delírio, sem nem dar razões mais inteligentes ou solidas, decide o que é
aceitável e o que não é o que é certo e o que é errado. O que jamais será bom
para ambos, e muito menos será produtivo para um bom relacionamento amoroso.
Atirar um erro contra o outro, passar a vida acumulando e gastando munições
inúteis, com pessoas infectadas pela serpente do preconceito, é inútil provocar
um diálogo desgastante. Porém, o tempo passa muito rápido para os humanos, e
nada se passou em nossas vidas que as tornassem mais vigorosamente dignas de
ser vividas. Quem pode avaliar o amor se não vive esse amor no outro? As
pessoas falam muito daquilo que elas não são e com isso finge o que não sente.
Vivem como acorrentados da caverna.
A dialética da vida é a arte
de raciocinar e dialogar. É discutir as razões das próprias ações, num pensar
diferente. O diálogo pressupõe reciprocidade existencial e esta pressupõe a
diferença e ao mesmo tempo a semelhança, já que é devido à diferença que podemos
enriquecer com o diálogo. Aqui pressupõe que a relação entre duas pessoas é uma
construção amorosa, isto é, se ambas estiverem abertas a esse diálogo e
dispostas a ouvir um ao outro. Da opinião a verdade, do particular ao
universal. O diálogo é o próprio caminho do pensar crítico. Sendo assim, o
diálogo torna viável o entendimento entre os humanos. No entanto, o diferencial
que marca essa relação são os valores que ambos acreditam e trazem como
experiência de vida. Isto é, pautar sua vivência na ética e nos princípios
morais. Munido dessas duas proposições o diálogo funciona. Na verdade, o
diálogo é racional e os valores estão além da razão. Os valores estão no
terreno da consciência cósmica, na totalidade do ser. Conviver é reconhecer no
outro a minha identidade humana. O que faz realmente uma pessoa ser boa é a
consciência do seu "ser" e a vivência do seu agir no mundo. Fora disso temos um ser
humano egoísta e infeliz na sua subjetividade.
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