O que sonhei não foi o que
encontrei pela vida afora. Apanhei da sorte e lutei contra a morte. Sai derrotado
mas, com o coração renovado. Pois, em nenhum momento me senti um fracassado.
Por acreditar no amor que hoje sofro com essa dor. Se um dia isso tudo passar, é
porque de fato não era amor. O poeta e jornalista Guilherme de Almeida (1890-1969),
escreveu um texto maravilhoso falando sobre a vida, do ponto de vista poético.
Não tenho esse texto mais vou puxar pela memória e tentar adaptar suas ideias.
Um sábio me disse: “Esta
nossa existência não vale a angustia de viver. Se fossemos eternos, a ciência,
num transporte de desespero, inventaria a morte. Uma célula orgânica aparece no
infinito do tempo e vibra, cresce e se desdobra e estala num segundo. Homem,
eis o que somos neste mundo”! Falou-me assim o sábio e eu comecei a ver, dentro
da própria morte o encanto de morrer.
Um monge me disse: “Ó
mocidade, és relâmpago, ao pé da eternidade! Pensa, o tempo anda sempre, o rio
anda e não repousa. Esta vida da gente não vale grande coisa. Uma mulher que chora,
o homem que implora o seu amor. Momento em que ambos sofrem da mesma dor. O
riso às vezes, quase sempre o pranto. Depois, o mundo, a luta que intimida,
quatro círios acesos, irmão eis a vida”! Isto me disse o monge e eu continuei a
ver, dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Um mendigo me disse: “Para o
mendigo, a vida é o pão e o andrajo é a proteção que o cobre nas noites mal
dormidas. Não creio muito nessa fantasia de que somos imagem e semelhança Deus.
Até porque, Deus me da fome e sede a cada dia, mas nunca me deu pão e nem me
deu água. Nunca! Deu-me a vergonha, o medo, a mágoa de andar, de porta em
porta, todo esfarrapado. Deu-me esta vida, somente a calçada para descansar e
um pão seco para matar a minha fome”! Foi o que me disse o mendigo e eu
continuei a ver, dentro da própria morte, o encanto do morrer.
Uma mulher me disse: “Vem
comigo! Fecha teus olhos e sonha, pois, será o meu único e grande amor. Sonha
com um lar, uma doce companheira, que a queira muito e que ela também te
queira. Um telhado, um penacho de fumaça e uma rede para juntos balançar. Uma
cortina na janela e passarinhos cantando em volta da casa. Que maravilha viver
e com você aprender. Pois, dentro da nossa casinha a vida acontece de verdade,
como ela é de fato”!
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