Atualmente nos
encontramos num momento de ambiguidade, falta de valores éticos e morais,
ninguém presta mais atenção no seu semelhante, percebemos uma rapidez nas
ações, tanto produtivas quanto sentimentais. As relações afetivas estão
perdendo o significado. Estamos vivendo uma espécie de ressaca ética. Estamos
vivendo o descartável, o arbitrário. Há uma insatisfação geral do povo. Mas,
afinal o que é ética? Ética é um conjunto de valores e princípios que nós
usamos para decidir as três grandes questões da vida que são: "quero, devo e
posso". Isto é ética. E quais são os princípios morais que usamos na nossa vida
diária: Tem coisa que eu quero, mais não devo. Tem coisa que eu devo, mais não
posso. E tem coisa que eu posso, mais não quero.
No entanto, quando
vamos ter paz de espírito, sem ressentimentos e sem culpa? Quando aquilo que
nós queremos, for aquilo que podemos e devemos, ai teremos realmente, serenidade
e paz de espírito. Todos nós temos um principio ético, que é não pegar o que
não nos pertence. E o nosso comportamento moral é que vai dizer se eu roubo ou
não. Todavia, o principio ético se traduz numa moral que se fundamenta na
obediência aos costumes e hábitos recebidos de uma determinada cultura. Ou
seja, a moral é a prática e a ética é a reflexão desses costumes.
Entretanto, quando
falamos em moral de um povo, parece que se vai restringir a liberdade humana.
Moral na mente comum, significa proibição, censura. De fato, muitas vezes a
moral é uma imposição de grupos dominantes e tolhe a nossa liberdade. Mas a
moral também pode ser feita por nós e, é fruto de nossa liberdade, fator de
afirmação e de felicidade. Para entender isso, vamos fazer uma distinção entre
ética e moral. Dos muitos livros que tratam desse assunto os temas são
intercambiáveis. Nós fazemos essa distinção apenas para favorecer o entendimento
daquilo que queremos dizer.
Todavia, a ética
deve ser entendida como reflexão, o estudo, o debate sobre o comportamento
moral dos seres humanos. Ética é mais a teoria, o estudo, os escritos, os rumos
que se pretende dar a conduta humana. Enquanto a moral é mais a prática.
Trata-se daquilo que existe como norma de comportamento num determinado lugar e
numa determinada época. Por exemplo, não matar, não roubar, não mentir, são
normas morais existentes nas mais diversas culturas. Quanto as normas citadas
acima, todos estão de acordo. Mas quanto aos detalhes e outras normas morais,
as coisas não são tão fáceis assim. Há muitas discussões e muita inconformidade.
Seguir regras morais
é justamente discutir e propôr normas validas para todos. É fazer a seguinte
pergunta: “a pena de morte é um bem ou um mal?” “O aborto é uma boa ou uma má
conduta?” E assim estamos fazendo ética a fim de estabelecer uma boa conduta
entre os humanos. Não é necessário que se trate de questões graves somente.
Pode-se tratar de questões simples como a regulamentação da vida em comum num
colégio. Digamos que estudantes e professores discutem como devem ser o
comportamento deles durante o ano letivo, já estão fazendo ética. Se
estabelecer princípios de conduta, também está fazendo ética.
Por conseguinte, se
os alunos e professores chegarem à conclusão de que, durante o ano letivo,
deverão relacionar segundo os princípios da solidariedade, da compreensão, da
entre ajuda, do diálogo, da liberdade e da igualdade entre as pessoas, estão
fazendo ética e estabelecendo normas morais. E isso é muito bom, por favorecer
e criar um clima de confiança e compreensão entre professores e alunos. Com
certeza vai aumentar a produtividade e a criatividade dos estudantes. Esse
exemplo deveria ser seguido em todos os lugares e ambientes, entre pais e
filhos, patrões e empregados. Isto significa que fazer ética é democrático e
que as normas morais devem ser estabelecidas de modo democrático. O que vale
são os argumentos em torno do combinado.
No Brasil nós temos
uma moral machista e autoritária, propriedade daqueles que têm o dinheiro e o
poder. O que é muito ruim para todos, pois só cria escravos. Precisamos de uma
moral democrática. E para isso é preciso fazer ética. É preciso pensar
diferente e discutir a vida. Neste país, pouca gente leva a sério ou faz ética
de verdade. Ora, sem fazer ética, através de diálogo aberto e franco, sem
modificar essa moral autoritária, não se pode falar em democracia. É evidente
que não se trata de liberar a conduta humana. Trata-se de regulamentá-la dentro
de padrões honesto, mas democraticamente estabelecidos. Penso que só assim
todos assumirão com mais responsabilidade e haverá menos transgressões. Nós
somos um país de muitas normas morais rígidas e autoritárias, de muitíssimas
leis, mas com muito descumprimento das mesmas. Isso porque não temos
consciência moral, talvez porque as normas morais existentes foram impostas
pelas elites dominantes. Nunca fomos convocados para decisões, sobretudo, a
respeito da nossa conduta humana.
Segundo o filósofo e
educador Olírio Plínio Colombo (1937-2010), a moral se refere as normas
concretas. Ela diz diretamente o que é uma boa ou má conduta. A ética aborda
mais os princípios gerais da conduta humana. A norma moral diz não mate,
enquanto a ética fala do respeito ao nosso semelhante. Os dez mandamentos são
regras que orientam a nossa moral. Por outro lado, as bem-aventuranças, são
exemplos de ética. A nossa moral é feita de normas. Penso que poderia ser feita
através de princípios e valores que herdamos ao longo da vida.