Eram aproximadamente oito horas da noite, do dia vinte e
cinco de agosto de dois mil e dez, quando caminhava com a minha filha Maria
Eduarda, que contava na época com cinco anos de idade. De repente ela parou
olhando para o céu e apontando de tal forma para uma estrela que brilhava e
disse: “pai, aquela estrelinha é avó
Lazinha”. Emudeci por alguns minutos, sem saber o que responder. O mais
impressionante é que fazia somente dois dias que a minha mãe havia falecido.
Minutos depois, retomei a conversa com ela, fazendo- lhe a seguinte pergunta:
“Como sabe que aquela estrelinha é a avó Lazinha? Ela não teve dificuldade para
responder. “Sabe pai, quando a gente morre, a gente vira estrelinha”. Foi então
que me dei conta de que ela havia assistido ao filme do Walt Disney “A Princesa
e o Sapo”. O filme traz um personagem curioso chamado Ray, um vagalume, que
vive um amor platônico por uma estrelinha chamada Envagelini. Num dado momento,
Ray morre e minutos depois se transforma em outra estrelinha e aparece ao lado
da estrela Envagelini. A mensagem que fica desse personagem Ray é que
toda pessoa ao morrer torna-se uma estrela e estarão todas as noites brilhando
no céu. Nunca esqueci essa cena com a minha filha. O brilho em seus olhos ao
mostrar aquela estrelinha. Como diz Rubem Alves: “a morte é onde mora a saudade”.
Certa vez li uma crônica de Millôr Fernandes, que trazia
como título: “A morte da tartaruga”. Conta a história de um garoto que foi ao
quintal de sua casa e voltou chorando. A tartaruga de sua estimação tinha
morrido. O menino não se conformava com a cena do bichinho morto. A mãe foi ao
quintal com ele, mexeu na tartaruga com um pau e constatou que a tartaruga
tinha morrido mesmo. Diante da confirmação da mãe, o garoto pôs-se a chorar
ainda com mais força. A mãe a principio ficou penalizada, mas logo começou a
ficar aborrecida com o choro do menino. “Cuidado, senão você acorda o seu pai”.
Mas o garoto não se conformava. Pegou a tartaruga no colo e pôs-se a
acariciar-lhe o casco duro. A mãe disse que comprava outra, mas ele respondeu
que não queria, só interessava aquela, viva! A mãe lhe prometeu um carrinho
velocípede e lhe prometeu uma surra, caso não parasse com aquela choradeira.
Mas o pobre menino parecia estar mesmo profundamente abalado com a morte do seu
animalzinho de estimação.
Entretanto, com tanto choro, o pai que estava descansando
depois de uma longa noite de trabalho, acordou com o barulho. Levantou para
certificar o que estava acontecendo. O garoto prontamente mostrou-lhe a
tartaruga morta. A mãe disse: “já conversei com ele e até prometi outra
tartaruga, mas não adianta ele continua berrando desse jeito”.
O pai examinou a situação e propôs o seguinte: “Se a
tartaruga está morta não adianta mesmo você chorar filho. Deixa-a e vem aqui
com o pai, pois tive uma idéia”. O garoto colocou cuidadosamente a tartaruga
junto ao tanque de água e seguiu o pai, pela mão. O pai serenamente sentou-se
na poltrona, botou o garoto no colo e disse: “Eu sei que você sente muito a
morte da tartaruguinha. Eu também gostava muito dela. Mas nós vamos fazer pra
ela um grande funeral”. O menininho parou imediatamente de chorar. “O que é
funeral?” O pai lhe explicou que era um enterro. “Olha, nós vamos à rua,
compramos uma caixa bem bonita, com bastante bala, bombons, doces e voltamos
para casa. Depois botamos a tartaruga na caixa em cima da mesa da cozinha e
rodeamos de velinhas de aniversário. Convidamos os seus amiguinhos, acendemos
as velinhas, cantamos o Feliz Aniversário pra tartaruguinha morta e você
assopra as velinhas. Depois pegamos a caixa, abrimos um buraco no fundo do
quintal, enterramos a tartaruguinha e botamos uma pedra em cima com o nome dela
e o dia em que morreu. Isso é funeral! Vamos fazer isso?”
Depois de ouvir o pai, o garoto já estava com uma carinha
melhor. “Vamos papai, vamos! A tartaruguinha vai ficar contente lá no céu, não
vai? Olha, vou buscar ela”. E saiu correndo. Enquanto o pai trocava de roupa,
ouviu um grito no quintal. “Papai, papai, vem ver, ela está viva!” O pai sai
correu para o quintal e constatou que era verdade. A tartaruga estava andando
de novo sem nenhum problema. “Que bom heim?” Disse o pai. “Ela está viva! Não
vamos ter que fazer o funeral”. “Vamos sim, papai”, disse o menino ansioso,
pegando uma pedra “Eu mato ela com uma pedrada”.
Portanto, como toda história tem a sua moral e com essa não
poderia ser diferente. Ou seja, o mais importante não é a morte, mas o que ela
nos tira. Seja uma pessoa, seja um animalzinho de estimação ou mesmo a morte de um grande amor que
não temos mais e que hoje nos faz muita falta. Contudo, o que fica é a saudade
na lembrança de algo que nos foi tirado.
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