Investir
numa didática afetiva é a saída para estimular o autoconhecimento dos alunos e
formar seres autônomos e saudáveis. Se quisermos mudar o mundo, temos de
investir em educação. Não mudaremos a economia, porque ela representa o poder
que quer manter tudo como está. Também não mudaremos o mundo por meio da
diplomacia, como querem as Nações Unidas – sem êxito.
Para
ter um mundo melhor, temos de mudar a consciência humana. Por isso me interesso
pela educação como processo de mudança. É mais fácil formar a consciência dos
jovens. Podemos conceber uma educação para a consciência, para o
desenvolvimento da mente. Uma educação que prepare os professores para que eles
se aproximem dos alunos de forma mais afetiva e amorosa.
Precisamos
de professores que sejam capazes de conduzir as crianças ao desenvolvimento do
autoconhecimento, respeitando suas características pessoais. Os estudos nessa
área da educação vêm demonstrando, que esse é o caminho para formar pessoas
mais benévolas, solidárias e compassivas. Hoje a educação é despótica e
repressiva. É como se educar fosse dizer faça isso e faça aquilo. Não há uma
educação para o amor.
A
palavra amor não tem muita aceitação no mundo da educação. Na poesia, talvez.
Na religião, talvez. Mas não na educação. O tema inteligência emocional é um
pouco mais disseminado. É usado para que os jovens tomem consciência de suas
emoções. É bom que exista para começar, mas não tem um impacto transformador. A
inteligência emocional é aceita porque tem o nome inteligência no meio.
Tudo
o que é intelectual interessa. Não se dá importância ao emocional. Esse aspecto
é tratado com preconceito. É um absurdo, porque, quando implementamos uma
didática afetuosa, o aluno aprende mais facilmente qualquer conteúdo. Uma
parcela significativa de professores concorda com esse ponto de vista, mas na
prática não fazem nada. Pode ser que isso ocorra por causa da própria inércia
do sistema.
O Ministro
da Educação é como um visitante que passa pelos ministérios e consegue apenas
resolver o que é urgente. Ele mesmo não estabelece prioridades. Precisamos de
uma mudança de consciência e o melhor caminho é a transformação da educação,
por meio de uma nova formação de educadores – orientada não só para a
transmissão de informações, mas para o desenvolvimento de competências
existenciais.
A
verdadeira crise é uma crise das relações humanas, a crise de um mal antigo das
relações humanas, uma incapacidade fraternal, de verdadeiras relações amorosas,
um mal antigo que agora se tornou crise porque se tornou insustentável. É, pois
uma crise de amor e o que fracassa é um modelo de sociedade atual, que ainda
permeia o modelo patriarcal.
Concluo
com um belíssimo poema de Rubem Alves: “Há
escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas
existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados
são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde
quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de serem pássaros.
Porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros
engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros
coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já
nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado”.