Precisamos
criar essa arte da escutatória e não apenas a arte da oratória. Calar é muito
importante, alias num mundo que ninguém se cala quando de fato, o ouro do
silêncio for melhor. Porém, calar-se quando existe uma injustiça, calar-se
quando algo está acontecendo. Faz-nos lembrar da frase do Evangelho que as
pedras falarão no meu lugar, se eu me calar.
Então
não se trata de avaliar o silêncio ou a fala, mas sim o silêncio adequando para
que eu aprenda algo, reflita e deixe o outro expor a sua característica e expor
a sua vontade. Agora, falar é útil quando exatamente a algo a ser dito. Sou eu
que tenho que julgar se há algo a ser dito ou não. Toda censura é abominável,
mas os limites da liberdade de expressão são dados pela lei.
No
entanto, não posso fazer apologia ao crime e não posso fazer da liberdade de
expressão um ataque que queira destruir o outro. Para isso estão previstas
calúnias, crime de injúria e difamação. Tenho que pensar que ao falar se é
necessário, se vai melhorar as pessoas e se vai produzir algo mais verdadeiro. Se
assim for, fale bastante, fale mais do que você está falando, sempre medindo se
é necessário, se é verdadeiro e se é absolutamente positivo.
Agora
ouça bastante, porque ouvir é o grande privilégio dessa arte da escutatória. O
que estou fazendo aqui é uma reflexão crítica sobre um ditado. Ditado que é do
senso comum e é do senso comum que estabelece um princípio universal. Todas as
vezes que você se calou, estava melhor do que quando você falou? Não é porque
muitos alemães se calaram sobre o nazismo que a barbárie do nazismo existiu. É
porque muitos franceses não se pronunciaram sobre a deportação de judeus na
França.
Em
outras palavras, essa barbárie ocorreu é porque muitos cidadãos viraram os olhos,
quando o homem estava agredindo sua mulher na rua, ou no apartamento de cima,
que tantas mulheres vieram a falecer ou ficaram marcadas para sempre no corpo e
na alma. Pela violência dessa masculinidade tóxica. Não se cale diante do mal,
não se cale diante da falta de ética. Não se cale diante da verdade
cristalina.
Não
é o ouro ou a prata, mas o bem e a ética. É isso que determina se você deve
falar ou não. Para nós cidadãos comuns, calar-se mais é uma boa medida, porque
falamos demais e a palavra é ambígua. Pois ela limita o pensamento e nesse
sentido calar é bom. Mas, talvez estejamos precisando falar muito mais sobre as
coisas realmente grave que ocorre nesse país em que o silêncio nos torna, nesse
caso cúmplices.
Calar-se
é sábio quando o que vou dizer agride alguém. Calar-se é muito inteligente,
quando percebo que o que vou dizer só mostra a minha dor. Não melhora nada, não
é necessário e nem verdadeiro. Só para citar essa fórmula apócrifa atribuída ao
filósofo grego Sócrates. Calar-se é muito importante quando de fato o ouro do
silêncio for melhor.
Portanto,
quando atiro uma brasa cheia de raiva em alguém, talvez eu atinja a pessoa com
as minhas palavras, que é a brasa incandescente. Mas em 100% dos casos queimo a
mão. O problema não está apenas em ser compreensivo com os outros, nem por uma
compaixão, mas, por uma educação. Como lidar com pessoas difíceis, todas as
vezes que alguém nos enfrenta e ofende? Essa pessoa está sugerindo que eu saia da
minha zona de conforto. Ela está sugerindo que a minha vaidade não me domine.
Está mostrando que sou limitado em relação ao universo e por fim, está me
convidando a crescer. Isto é apenas um sintoma que devemos analisar e pensar,
antes de devolver qualquer agressão a alguém.