30 de agosto de 2023

É NO SILÊNCIO DA ESCUTA QUE O AMOR NASCE

Amamos uma pessoa não pela beleza que existe nela, mas pela beleza nossa que aparece refletida nos olhos dela. Não amamos uma pessoa que fala bonito. Amamos uma pessoa que nos escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. E é nesta escuta que o amor nasce. E é o não escutar o outro que amor termina.

O amor vive no sutil fio da conversação. Balançando-se entre a boca e o ouvido. Eu te amo porque no teu corpo outro objeto se revela. Teu corpo é lagoa encantada onde reflexos nadam como peixes. O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: “se eu fosse você”.

Cartas de amor são escritas não para dar notícias, não para contar nada, mas para que mãos separadas se toquem ao tocarem a mesma folha de papel. O amor prefere a luz das velas. Talvez seja isso, tudo que desejamos de uma pessoa amada: Que ela seja luz suave que nos ajude a suportar o terror da noite. Sob a luz do amor que ilumina modesta e pacientemente, assim sendo o escuro já não assusta tanto.

26 de agosto de 2023

O CONCEITO DE DEUS EM BARUCH SPINOZA

No “Livro 01 da Ética e no Tratado sobre a Religião e o Estado”, do filósofo holandês Baruch Spinoza (1632-1677) delineia a sua concepção de um Deus despersonalizado e geométrico, contrária a todas as formas de se conceber Deus como uma espécie de entidade, oculta e transcendente, que age conforme os seus desígnios e a sua vontade suprema.

De modo que, Spinoza parte de uma teoria que não compartilha da ideia de um Deus autocrático, que controla a tudo e a todos, e que se refugia em algum ponto distante de uma cobertura celestial. Segundo a crença comumente aceita e bastante difundida, sobretudo, entre os povos e as civilizações de origem cristãs. Motivo pelo qual, o filósofo Spinoza expôs, assim, em sua obra, a sua definição.

 É Spinoza quem diz que as massas: “supõem, mesmo que Deus esteja inativo desde que a natureza aja em sua ordem costumeira; e vice-versa, que o poder da natureza, e as causas naturais, ficam inativas desde que Deus esteja agindo; assim, elas imaginam dois poderes distintos um do outro, o poder de Deus e o poder da natureza”.

Com efeito, a crença de Spinoza era em um Deus baseado no seguinte princípio: “Deus e Natureza são a mesma coisaDeus sive Natura” (Deus e Natureza). Desse modo, Spinoza, em sua explanação, entende Deus como sendo à base de sustentação e a condição subjacente da realidade como um todo. Um Deus imbuído da mais clara evidência e certeza racional, que se auto constitui como sendo a causa de si e de todas as coisas; que se move em função de uma necessidade que lhe é intrínseca e gerada de sua própria essência, a rigor responsável pelo total funcionamento e ordenamento do mundo.

Baruch Spinoza tem uma concepção de Deus e da natureza totalmente diferente da que costumam ter os cristãos mais recentes, pois afirma que Deus é a causa imanente, e não externa, de todas as coisas. Para ele, tudo está em Deus; tudo vive e se movimenta em Deus. E acrescenta, dizendo: “Por ajuda de Deus, entendo a fixa e imutável ordem da natureza, ou a cadeia de eventos naturais. A partir da infinita natureza de Deus, todas as coisas decorrem dessa mesma necessidade, e da mesma maneira, que decorre da natureza de um triângulo, que seus três ângulos são iguais a dois ângulos retos”.

Portanto, O Deus de Spinoza é o Todo, ou seja, é tudo o que é. Dessa maneira o Deus de Spinoza não está no meio de nós. O Deus de Spinoza somos nós. Desse modo são todos os entes em relação. É o mundo em si mesmo. Parecido com os estoicos que é uma corrente de pensamento cuja característica central é o pensamento de que todo o cosmo é regido por uma harmonia que determina todos os acontecimentos. Mas é só parecido. Porque para os estoicos o divino é a relação do corpo com as suas finalidades. Para Spinoza a finalidade é uma ilusão. Contudo, o Deus de Spinoza é o real como ele é. Ou seja, é o mundo em suas relações. O real não morre o mundo não morre o que morre são as partes que o constitui o Todo. Enfim, o Todo porque é o Todo, não se relaciona com nada e, portanto, não morre, não se entristece, não fica deprimido e não causa sofrimento.

18 de agosto de 2023

SAUDADE É O MOMENTO BOM QUE FICOU

Saudade é o momento bom que ficou. Saudade é a poesia que a ausência compõe no coração. A saudade é uma emoção complexa e ambígua que muitas vezes está associada a sentimentos de nostalgia e desejo por algo ou alguém que já não está presente.

É a falta de alguém que se foi e que provoca sensações e experiências profundamente humanas, cheia de emoções complexas e confusas, que testemunha o impacto que alguém teve em nossas vidas e da conexão especial que compartilhamos com ela. Mas embora a dor da perda possa ser avassaladora.

A saudade também pode ser vista como uma forma de honrar e manter viva a memória de alguém que se fez tão importante e fez parte de nossa história. Transformar a saudade em algo bom é ressignificar os pensamentos, permitindo encontrar beleza nas memórias e nas conexões que perduram.

Sendo um eco emocional da alegria passada, e sua existência é uma evidência do impacto positivo que esses momentos tiveram em nossa vida. A saudade não apenas nos lembra do que perdemos, mas também nos conecta as experiências e alegrias vivenciadas ao lado de quem não está fisicamente ao nosso lado, mas emocionalmente nas lembranças!

A saudade só não mata porque tem o prazer da tortura. Saudade é o amor que não foi embora. É imaginar onde aquela pessoa amada possa estar ou se ainda ela gosta daquele vinho. Sentir saudade é a ausência daquela companhia. A saudade é a inconfortável expectativa de um reencontro.

Portanto, se hoje sentimos saudades é porque tivemos na vida, momentos de alegria na companhia de pessoas especiais. Enfim, a saudade que agora nos machuca, nada mais é do que uma dívida sendo paga, pelo amor que um dia usufruímos ao lado de quem amou.

14 de agosto de 2023

CALAR-SE É SÁBIO SE O QUE VOU DIZER AGRIDE ALGUÉM

Precisamos criar essa arte da escutatória e não apenas a arte da oratória. Calar é muito importante, alias num mundo que ninguém se cala quando de fato, o ouro do silêncio for melhor. Porém, calar-se quando existe uma injustiça, calar-se quando algo está acontecendo. Faz-nos lembrar da frase do Evangelho que as pedras falarão no meu lugar, se eu me calar.

Então não se trata de avaliar o silêncio ou a fala, mas sim o silêncio adequando para que eu aprenda algo, reflita e deixe o outro expor a sua característica e expor a sua vontade. Agora, falar é útil quando exatamente a algo a ser dito. Sou eu que tenho que julgar se há algo a ser dito ou não. Toda censura é abominável, mas os limites da liberdade de expressão são dados pela lei.

No entanto, não posso fazer apologia ao crime e não posso fazer da liberdade de expressão um ataque que queira destruir o outro. Para isso estão previstas calúnias, crime de injúria e difamação. Tenho que pensar que ao falar se é necessário, se vai melhorar as pessoas e se vai produzir algo mais verdadeiro. Se assim for, fale bastante, fale mais do que você está falando, sempre medindo se é necessário, se é verdadeiro e se é absolutamente positivo.

Agora ouça bastante, porque ouvir é o grande privilégio dessa arte da escutatória. O que estou fazendo aqui é uma reflexão crítica sobre um ditado. Ditado que é do senso comum e é do senso comum que estabelece um princípio universal. Todas as vezes que você se calou, estava melhor do que quando você falou? Não é porque muitos alemães se calaram sobre o nazismo que a barbárie do nazismo existiu. É porque muitos franceses não se pronunciaram sobre a deportação de judeus na França.

Em outras palavras, essa barbárie ocorreu é porque muitos cidadãos viraram os olhos, quando o homem estava agredindo sua mulher na rua, ou no apartamento de cima, que tantas mulheres vieram a falecer ou ficaram marcadas para sempre no corpo e na alma. Pela violência dessa masculinidade tóxica. Não se cale diante do mal, não se cale diante da falta de ética. Não se cale diante da verdade cristalina.

Não é o ouro ou a prata, mas o bem e a ética. É isso que determina se você deve falar ou não. Para nós cidadãos comuns, calar-se mais é uma boa medida, porque falamos demais e a palavra é ambígua. Pois ela limita o pensamento e nesse sentido calar é bom. Mas, talvez estejamos precisando falar muito mais sobre as coisas realmente grave que ocorre nesse país em que o silêncio nos torna, nesse caso cúmplices.

Calar-se é sábio quando o que vou dizer agride alguém. Calar-se é muito inteligente, quando percebo que o que vou dizer só mostra a minha dor. Não melhora nada, não é necessário e nem verdadeiro. Só para citar essa fórmula apócrifa atribuída ao filósofo grego Sócrates. Calar-se é muito importante quando de fato o ouro do silêncio for melhor.

Portanto, quando atiro uma brasa cheia de raiva em alguém, talvez eu atinja a pessoa com as minhas palavras, que é a brasa incandescente. Mas em 100% dos casos queimo a mão. O problema não está apenas em ser compreensivo com os outros, nem por uma compaixão, mas, por uma educação. Como lidar com pessoas difíceis, todas as vezes que alguém nos enfrenta e ofende? Essa pessoa está sugerindo que eu saia da minha zona de conforto. Ela está sugerindo que a minha vaidade não me domine. Está mostrando que sou limitado em relação ao universo e por fim, está me convidando a crescer. Isto é apenas um sintoma que devemos analisar e pensar, antes de devolver qualquer agressão a alguém.

O MENINO E A ARAUCÁRIA, ÁRVORE SÍMBOLO DO PARANÁ

Araucária ou Pinheiro, essa árvore símbolo, das matas do Paraná, está se acabando por uma simples razão. Porque infelizmente, a gralha-azul ...