Morava
numa aldeia um menino pobre que gostava de contar história. Para ele a vida era
uma poesia e por isso, assimilou a sua infância e escreveu uma grande história
de amor e fé. O contador de história se apresentava exatamente como era a sua
vida. Lembro com saudade do menino solitário que vivia na roça e se alimentava
de frutas. Ele gostava de comer “jatobá”,
uma fruta seca com um caroço no meio, que grudava nos dentes e ficava amarelado.
Aquele menino cheio de esperança que escreveu a sua história, contada em verso
e prosa. Dos frutos transformados em semente, fertilizou sua imaginação. Hoje a
minha filha caçula quer ser apresentada ao menino solitário. Aquele menino não
existe mais, só na imaginação das minhas crônicas. Queria muito escrever essa
história, para outras crianças também conhecer o menino que contava história.
Penso
que as histórias para criança deve ser escritas com palavras muito simples.
Poderia contar com pormenores, algumas histórias que o menino inventou. Uma história
contada por um menino solitário, sem dúvida, seria a mais linda de todas as que
já se escreveram, desde os contos de fadas e princesas encantadas. Ele levava a
vida entregando-se a algo que dava muito prazer, que era escrever as histórias
contadas em prosa. São poucas as pessoas que podem fazê-las. O escritor é o
intérprete consciente da “subconsciência
universal”. O seu estilo era mostrar
a fisionomia da alma. Dizia o menino que a alma é menos enganosa do que o corpo
que mostramos.
De
modo que, quem quiser escrever para bons leitores como as crianças, é preciso muita
sensibilidade e percepção. É preciso que a tua alma seja uma antena
ultrassensível, que apanhe as mais ligeiras ondas espirituais que povoava a
mente daquele menino solitário e que percorria por todo o seu universo humano.
Porém, esse menino tinha um sonho e saia todas as manhãs da sua casa, para
estudar no grupo escolar do distrito que ficava algumas léguas de distância da
aldeia. Quando passava pelas ruas do lugarejo as pessoas diziam que ele saia da
aldeia, para fazer uma coisa que era muito maior do que o seu tamanho. Maior do
que todos os tamanhos e sonhos imaginários.
O
menino quando voltava para casa, levava livros para ler em voz alta para todos
da aldeia, que gostavam de ouvir as suas histórias. E agora na minha memória, ele
escreve para aqueles que gostam de ler bons textos e, que nos coloca para
pensar. Em dias de um sol apagado, quantas vezes o menino cansado dormia com a
solidão entre uma leitura e a lição da escola. Ele continuava amando a chuva
que escondia o sol. Antes mesmo do começo já sabia o seu fim, não deveria
acreditar no que se prometia, mas no que estava escrito nas estrelas. Nascia
ali uma história real de uma pessoa extremante humana e religiosa, que o menino
a conheceu e aprendeu admirá-la.
Portanto,
o menino cresceu, virou homem e tornou-se escritor. Cristalizou-se em ideias
conscientes a inconsciente atmosfera das almas boas que nos cercam. Dizia o que
as pessoas já sabiam nas penumbras do seu “eu
interior”, mas não sabiam trazer a luz da consciência vigilante. O menino
nos mostrou que o escritor é aquele que faz nascer o que já era concebido e andava
em gestação. O menino que contava história alegrou a beleza dos rios e dos verdes
campos por onde passou. A canção de amor que ele ouvia no silêncio da noite,
entre uma melodia e outra, o ensinou a ler nas estrelas as suas inspirações. O menino cresceu e continua ouvindo o que as coisas dizem. Sua fala é
a voz das coisas. Ele entrou no universo das coisas e as transformou em
literatura e poesia. Ora, esse menino somos nós. Contudo, compreendo a
esperança como uma dependência simplória e imprevisível, de um “Deus” que adora surpreender. Somos
medo, desejo e esperança.
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