Estou
convencido assim como muita gente boa está, de que a resposta que o homem
precisa dar à vida é o sair de si, ter atitudes não egocêntricas e exercitar a
capacidade de amar, de autotranscendência, ter realmente gosto pela vida. No
filme “Tempo de Despertar”, com Robert De Niro, após passar quase trinta anos
de sua vida em estado de inconsciência, ao despertar, nos dá um exemplo do amor
que sente pela vida, dizendo: “Que as
pessoas esqueceram o que é viver, estar vivo. É preciso que lembrem o que tem e
o que podem perder. Sinto a alegria de estar vivo. O dom da vida. A liberdade
de viver. A maravilha que é viver. As pessoas não apreciam as coisas simples,
como trabalho, lazer, amizade e família”.
Comenta
Leo Buscaglia, no livro “Amando Uns aos Outros”, que certa vez soube de um
homem de vinte e poucos anos que foi encontrado morto em seu apartamento no
campus da universidade de Miami, onde estudava. Os jornais disseram que ele
havia sido visto pela última vez no dia de Ação de Graças. Quando o
encontraram, ele já estava morto há dois meses. Sua ausência não foi percebida
por ninguém, sequer no Natal, continua ele. “Cada vez mais somos privados das
oportunidades de contatos pessoais, e a possibilidade de formar relacionamentos
duradouros se torna cada vez mais difícil”. Buscaglia lembra o escritor e o
filósofo Allan Fromme que dizia: “Nossas
cidades, com o aumento de suas populações, seus arranha-céus, estão criando
espaços para solidão. Vizinhança desintegra-se sob escavadoras dos
construtores, e famílias se dispersam na busca de empregos e profissões em todo
lugar”. Eu vou um pouco além, num mundo de rodas de amigos e de altos papos
estão se acabando. Ninguém tem mais paciência para ouvir o outro. As pessoas
não conversam mais, falam como papagaios, cada um com seus problemas. Os velhos
e familiares vizinhos estão sumindo.
Eric
Berne, eminente psiquiatra, que estudou vários aspectos das relações entre
indivíduos, estava preocupado em aproximar novamente as pessoas na intimidade.
Ele nos mostrou como muitos papéis e jogos que desenvolvíamos estavam impedindo
a comunicação, distanciando-nos uns dos outros e destruindo qualquer
possibilidade de nos tornarmos íntimos de amigos e amantes preciosos. Uma das
maiores reclamações entre os jovens de hoje é a de que, apesar de receberem
atenção material, sentem-se privados de um relacionamento íntimo com seus pais.
Nada
melhor que nossa experiência para ilustrar. Sou pai de três filhos: Eduardo
Junior, Danielle e depois de vinte e três anos veio a Maria Eduarda, que hoje
está com seis anos de idade. Quando eles nasceram saudáveis não perguntei por
que. Por que tive tanta sorte? O que fiz para merecer essas crianças perfeitas?
Mas quando eles adoecem, eu pergunto por que. Quero saber o por quê? O que está
acontecendo? Eu me sinto bem quando os vejo, principalmente sabendo que estão
bem. Talvez seja porque no amor há uma alegria. Eu diria um gozo, como se
aquilo que se deseja, dele já se disponha. É por isso que nada podemos fazer
sem amar, nem mesmo aprender com nossos jovens. Começar uma pesquisa, reformar
um país, cultivar um jardim, salvar uma civilização, educar uma criança,
estudar musica.
Para
fazer é preciso desde o início encontrar-se no amor, possuir o futuro que ainda
não existe. Se cultivar um jardim, é preciso desde já gozar desse jardim como
se ele já estivesse cultivado. Se educarmos uma criança, é preciso que nos
transportemos para o fim e nela já vislumbremos o novo homem ou a nova mulher.
Aprender a tirar melodias de um instrumento como se já estivesse fazendo um
grande concerto, para uma calorosa plateia.
Se é a reforma ou a salvação de um país, é preciso ver estas coisas como
possíveis, praticáveis, apesar das dúvidas que nos causam, das nossas
inseguranças nos políticos. A isto se chama amar. Muitos dirão como disse certa
vez uma amiga estudante de psicologia: “isto não é amor, mas sim esperança, fé,
entusiasmo, qualquer outro sentimento, menos amor”.
Sem
dúvida, posso até concordar, mas o amor contém todas essas coisas. O amor é um
sentimento de prazer e felicidade. O amor aplica-se à afeição do homem e da
mulher, imagino que é aí que ele se acha mais encarnado, mais sensível e
figurado pelos movimentos do sangue nos dois corpos. Sinto que as pessoas estão
brincando cada vez mais com coisas tão séria como é o amor. O filósofo Regis de
Morais numa linguagem poética demonstra: “O amor é um rico encontro humano
cuja, a duração não deve ser discutida. O amor está na arte em que duas pessoas
precisam conquistar de um relacionamento feito de compreensão e generosidade.
Tudo dependerá da convivência”.
Acredito
que o amor é fruto de uma amizade constituída, pautada na confiança. Primeiro
construo o alicerce e depois levanto as paredes deste imenso complexo chamado
amor. É muito bom encontrar pessoas que realmente amem a vida. Certa vez ouvi
da minha amiga Aparecida Helena, educadora em Londrina, Estado do Paraná, a
seguinte frase: “Prefiro ser uma pessoa
menos jovem, mas com espírito de adolescente, do que um adolescente com
espírito cansado”. O mistério escondido, a bondade e o sentido de cada
coisa não se alcançam só pelo conhecimento. É preciso ainda uma aposta razoável
de que, atrás do mal tudo é bom, de que atrás das nuvens o sol brilha. Esta
certeza é a fé que tenho de que o amor é necessário, é o alimento da alma,
fundamental para a nossa sobrevivência.
A
minha saudosa mãe Lazara Alexandrina de Jesus, mais conhecida como Dona
Lazinha, que faleceu aos cento e seis anos de idade. Ela disse certa vez uma
frase para um conhecido nosso, que nunca mais saiu da minha memória: ”Não sou ninguém, mas sou muita coisa. O
senhor tem razão, mas eu tenho muito mais”. Penso até hoje na força dessa
expressão. O quanto de fé e amor próprio está contido nesta frase. É como se
ela dissesse: “o primeiro amor da minha
vida sou eu mesma. Primeiro me amo, para depois amar meu próximo”.
Portanto,
o amor é a única resposta ao problema da existência humana. Mas temos a
tendência de considerar o amor uma coisa superficial e basicamente dispensável.
A maioria das pessoas renuncia o amor desde muito cedo na vida. Como se ele não
fosse vital. No entanto, crucificaram Jesus Cristo, deram um tiro em Mahatma
Gandhi, assim como assassinaram Martin Luther King, decapitaram Thomas More e
envenenaram Sócrates. A sociedade tem pouco espaço para a honestidade, a
ternura, a bondade ou o interesse pelo seu próximo. Como disse Gandhi: ”Tudo o que vive é o teu próximo”.
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