Vivemos num mundo de ilusão
e contaminados por uma falsa ideologia. Consumimos diariamente o mortífero
veneno da serpente do preconceito. De quantas destruição são capazes os preconceitos.
Talvez a maior deformidade e defeito moral da sociedade de todas as épocas
tenham sido, as personalidades preconceituosas. Vejo o preconceito como uma
espécie de “loucura mansa”, nem
sempre tão mansa em razão da sua carência de motivos justificáveis. Certas
pessoas e classes sociais, inventam um mundo para si e, feito numa espécie de
delírio, sem nem dar razões mais inteligentes ou solidas, decidem o que é
aceitável e o que não é, o que é certo e o que é errado. Elas se vestem,
algumas usam roupas nada comportadas, calçam sapatos finos e se enchapelam em
suas ideias preconcebidas, tornando-se arbitrários como os fanáticos e os
loucos.
Na mitologia grega, Medusa
era uma deusa muito bonita, que quando lançava seu olhar sobre as coisas vivas,
as transformava em pedra. Por esta razão o filósofo francês Jean-Paul Sartre
(1905-1980), dizia que nos seres humanos, os preconceitos funcionam como “olhares de Medusa”: as pessoas olham
para seus semelhantes lá de dentro dos seus valores e, segundo as suas
predições e neuroses, petrificam-nos num rótulo, num preconceito. Hoje em dia é
preciso estar bem atento para que não se caia no doce engano de que mudar de
preconceitos seja alguma forma de libertação. Para o escritor que vive da
observação e tem uma boa história para contar, pode encontrar com uma Medusa e
ter sua obra petrificada.
Está claro que todos os
tipos de preconceitos são armas mortíferas contra o bom relacionamento humano.
Grande parte das pessoas mais velhas, tende a avaliar o mundo dos jovens de
dentro da mentalidade que sua história de vida lhe legou. Afinal, nem sempre é
fácil acompanhar os tempos e passar, na vida, por infindáveis adaptações. O
primeiro impulso psicológico é medir os outros por nós mesmos. Daí os mais
velhos tenderem a ver, no modo de pensar e agir do que estão chegando para a
vida mais socializada, traços de irresponsabilidade, de mau gosto, quando não
de decadência mesmo. Parece que a juventude ameaça criar um mundo ruim, porque
é diferente daquele idealizado pelos de mais idade. Às vezes alguns chegam a
desconfiar de que os adultos nutrem, no profundo de si, uma secreta magoa de já
não poderem ser tão jovens e audaciosos como os rapazes e moças. Em muitos
lares e instituições de ensino, instala-se uma autêntica guerra entre novos e
idosos ou mais vividos.
Por outro lado, o que há de
problemático é que os jovens encontram quase sempre, para si, o mesmo caminho
vicioso. Desenvolvem de seu lado, outra quantidade de preconceitos contra o
modo de ser dos da geração anterior. Esses jovens são afiados na inventividade
linguística e no bom humor. Nos chamando de “tio dinossauro, careta, quadrado,
surfista de banheiro, etc”. O humor até que é bom, mas a agressividade não é.
Parece para muitos jovens que o mundo está embolorado pelos coroas. Aqui está
uma expressão cruel para os idosos.
Entretanto, sentimos vontade
de questionar: “Será que para combater preconceitos o caminho seja inventar
outro? O remédio para um vício seria assumir outro igual e contrario? Quem conseguirá escapar assim, dos terríveis olhares
de Medusa?" Se o erro de um provoca o erro dos outros, esse caiu no encantamento
da serpente. Roda-se e volta sempre ao mesmo lugar de onde se quer saiu. É
preciso que coloquemos com muito cuidado, o problema de como quebrar os
encantos da serpente dos preconceitos, que tanto envenena a humanidade. É bom
lembrar que o preconceito nasce da insegurança e da fraqueza humana, pode nascer
até de um certo medo de enfrentar a vida. Sobretudo, para aqueles que estão
atras do fácil, e não se importam com a construção de boas relações
interpessoais.
Portanto, a vida acaba nos
colocando ante duas possibilidade. Ou o preconceituoso que nos provoca é um ser
humano frágil, embora inteligente e sensível – e aí está nossa tarefa de
dar-lhe concreta ajuda em questioná-lo; ou por outro lado, o preconceituoso que
cruza nossa estrada é um desinteligente, que nunca saberá ouvir argumentos
alheios. E neste caso cabe-nos somente deixá-lo com seu mundinho. O que jamais
será bom, o que nunca será produtivo para ninguém, é atirar um erro contra o
outro, passar a vida acumulando e gastando munições inúteis, com pessoas
infectadas pela serpente do preconceito. Contudo, depois o tempo passa, nós
passamos, e nada se passou em nossas vidas que as tornassem mais vigorosamente
dignas de ser vividas.
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