Na sociedade atual, com a facilidade ao acesso a
comunicação através da internet e do celular, fala-se e escreve-se muito sobre
sexo e quase nada sobre o amor. Talvez porque o amor, sendo um enigma, não se
deixa decifrar, repelindo toda tentativa de classificação ou definição. Ao
contrário, a literatura nunca deixou de falar do amor, principalmente, nas
poesias, é nesse campo mítico por excelência que aparece a metáfora como
possibilidade de compreender melhor o amor. Todavia, não há como negar que esse
vazio conceitual se deva à dificuldade de expressar o amor no mundo
contemporâneo. Tendo em vista, o desaparecimento das sociedades tradicionais,
cujos costumes envolviam fortes relações entre as pessoas. Entretanto, nossas
cidades com o aumento de suas populações, com seus arranha-céus, estão criando
espaços para a solidão, o chamado fenômeno da “multidão solitária”. As
famílias desintegrando-se e dispersando-se em busca de emprego. Por outro lado,
as pessoas caminham lado a lado, mas suas relações são territoriais e não
sociais. Seus contatos dificilmente se aprofundam, tornando-se mais raro os
encontros verdadeiros e amizades duradouras.
O jovem de hoje tem muito mais possibilidade de
contatos prazenteiros, mas totalmente descompromissados de intimidades
afetivas. Com essa facilidade de ficarem com vários numa única noite, ao mesmo
tempo não estabelecem relações intimas duradouras, porque suas relações são
muito inconsistentes. Os ditos apaixonados se juntam e separam com a mesma
facilidade. Não há amor, não há envolvimento, porque não criam vínculo. Ficam
somente no campo do desejo e do epidérmico. Na verdade, isto não é namoro e sim
encontro casual, puramente físico e sem compromisso. Agradável a principio,
excitante, uma espécie de tiroteio cerrado de desejo, de busca de troca e carência
instintiva. Mas cansativo a longo prazo porque se espera mais do que só a
relação física, portanto, torna-se desapontador para ambos.
Para a jornalista e escritora ítalo-brasileira
Marina Colasanti (1937): “pertencemos à
geração do descartável, desinventamos o duradouro. À navalha, que durava a vida
inteira, hoje preferimos o barbeador que se utiliza só por algumas vezes e se
joga fora. Trocamos o bom e sóbrio tecido que usaríamos durante anos, pela
alucinante cor da moda que durará apenas uma estação. Resistência e boa
qualidade tornaram-se palavras sem sentido, o máximo que admitimos é obsolescência planejada. Parece que o amor ficou fora de moda e o sexo
tornou-se mais atraente. Esse descartismo do amor contaminou os sentimentos,
sem, entretanto, mudá-los por completo”.
Todavia, não é só nas relações entre duas pessoas,
que os encontros afetivos estão empobrecidos. A nossa organização social de
efeito capitalista tem modos de convívio social baseados na competição e
rivalidade. Essa sociedade vê no amor o seu pior inimigo. Fala-se tanto em
cristianismo, onde se prega o amor ao próximo. Foi à classe dominante que
inventou essa história de igualdade, que espalhou esse veneno pelo mundo afora.
E hoje tentam nos mostrar que o amor não é absolutamente a força maior que
fomenta a humanidade. Por conseguinte, vivemos dentro de uma sociedade onde
tratam as relações como superficiais e descartáveis. Estamos às vésperas do
prazo de vencimento das relações afetivas. Os relacionamentos estão cada vez
mais fragilizados e desumanos. A confiança no próximo está cada vez mais perto
de terminar definitivamente. Os seres humanos estão sendo usados por eles
mesmos.
Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman
(1925-2017), os avanços tecnológicos influenciaram muito o ser humano em suas
relações de um modo geral, que o amor líquido (que mal começa e já termina),
representa justamente esta fragilidade dos laços humanos, a flexibilidade com
que são substituídos. É um amor criado pela sociedade atual, a chamada
modernidade líquida, para tirar-lhes a responsabilidade de relacionamentos
sérios e duradouros, já que nada permanece nesta sociedade, o amor não tem mais
o mesmo significado, foi alterado como algo flexível, totalmente diferente do
seu verdadeiro significado de durabilidade e perenidade.
Portanto, para muitos o amor romântico está fora de
moda. O amor verdadeiro em sua definição romântica foi rebaixado a diversos
conjuntos de experiências vividas pelas pessoas, nas quais se referem
utilizando a palavra amor. Principalmente no sexo casual, hoje praticado por
uma parcela significativa, na tentativa de camuflar os impulsos instintivos e
biológicos do ser humano a ser satisfeito, enganando aos seus parceiros,
dizendo “vamos fazer amor”. Entre essas pessoas é muito fácil ouvir “eu
te amo”, pois não existe mais a responsabilidade de estar mesmo amando. A
palavra amor foi rotulada de uma forma, em que as pessoas nem sabem direito o
que sentem, não conseguem definir a diferença entre amor e paixão e mesmo assim
utilizam incorretamente esta palavra, que perdeu sua importância. Contudo, as
pessoas preferem o encontro pela internet, no campo do virtual, porque sendo
assim, quando quiserem podem apagar o que haviam escrito, ou simplesmente
apagar um contato e facilmente dizer adeus. Enfim, ter o sexo é fácil, contudo,
tornou-se difícil ter o amor e com isso estamos matamos um sentimento que
poderia salvar a humanidade.