Abro esta
reflexão com uma frase do filósofo e educador Paulo Freire (1921-1997) que
dizia: “A opressão, que é um controle esmagador, é necrófila. Nutre-se do
amor à morte e não do amor à vida”. Isto quer dizer que para as elites
dominadoras, este modelo de educação é uma ameaça a elas, tem o seu remédio em
mais dominação, na repressão feita em nome, inclusive, na liberdade e no
estabelecimento da ordem e da paz social. No fundo, paz social não é outra
senão a paz privada dos dominadores. As duas citações estão no livro “Pedagogia
do Oprimido”, um dos mais importantes livro de Paulo Freire, que virou um
dos alvos preferidos do governo Bolsonaro, durante a campanha presidencial, o
atual mandatário do país chegou a falar em “entrar com um lança-chamas no
MEC (Ministério da Educação) para tirar Paulo Freire de lá”.
Seus
aliados seguem a mesma linha e, como era de se esperar, exaltados aderiram ao
discurso e também passaram a atacar o estudioso. Mas, será que todas essas
pessoas conhecem mesmo Paulo Freire? Será que todos eles leram a sua obra? Pois
bem! O educador é um dos brasileiros mais respeitados no mundo todo,
principalmente, na Europa. Tanto que recebeu mais de 40 títulos de doutor “honoris
causa” e, na Academia, é o terceiro pensador mais citado em trabalhos
escritos em inglês, um feito excepcional. Só isso já nos dá uma dimensão de sua
importância. Primeiro vão estudar Freire, para falar sobre sua obra. Falta
leitura para certos políticos. Nem notícia se teve, no Brasil, do Dia
Internacional do Livro, na terça-feira (23/04/2019). Só na Catalunha, com a
festa centrada na feira de livros de Barcelona, 400 autores autografando, os
espanhóis estimularam a venda em sete milhões de exemplares. Entre nós, de
janeiro a março deste ano a venda caiu 1,2 milhão de livros. O que a diferença
significa no presente é quase nada se comparada ao que diz do futuro por aqui,
e ainda querem acabar com a Filosofia e a Sociologia, porque faz pensar.
Pelo que
estamos vendo na chamada nova política bolsonaristas, faz todo sentido alguém
dizer com todas as letras, que espera que nossas escolas formem pessoas menos
politizadas e, contudo, ainda querem privar milhões de jovens que desejam
estudar Ciências Humanas. De modo que, para Paulo Freire a palavra liberdade,
diálogo, revolução e principalmente o amor pela educação, estão entre as
palavras que servem de pilares para a sua obra “Pedagogia do Oprimido”,
aonde ele se dedica a estudar os esfarrapados do mundo e depois argumenta que
nenhuma ordem opressora suportaria que os oprimidos todos passassem a usar a
maiêutica socrática do: “Por quê?”, Também mostra que seu olhar não é
ingênuo, que não é desses que acredita que os subjugados possuem uma espécie de
bondade inata.
Portanto,
através da manipulação, essas elites dominadoras vão tentando conformar as
massas populares a seus objetivos. E, quanto mais imaturas, politicamente,
estejam elas (rurais ou urbanas), tanto mais facilmente se deixa manipular por
eles, que não podem querer que se esgote o seu poder. A manipulação se faz por
toda a série de mitos a que nos referimos. O modelo que a burguesia se faz de
si mesma às massas com possibilidade de sua ascensão. Para isto, porém, é
preciso que as massas aceitem sua palavra. Muitas vezes esta manipulação,
dentro de certas condições históricas especiais, se verifica através de pactos
entre as classes dominantes e as massas dominadas. Pactos que poderiam dar a
impressão, numa apreciação ingênua, de um diálogo entre elas. Na verdade, estes
pactos não são diálogos, na profundidade de seu objetivo, está inscrito o
interesse inequívoco da elite dominadora. Os pactos, em última análise, são
meios de que se servem os dominadores para realizar suas finalidades.
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