26 de novembro de 2016

PODE SER QUE UM DIA O TEMPO PASSE

Pode ser que um dia deixemos de nos falar, mas, enquanto houver amizade sempre há a possibilidade de fazermos as pazes novamente. Certamente um dia o tempo vai passar, mas, se a amizade permanecer, um ou outro há de se lembrar. Pode ser que um dia nos afastaremos, mas, se formos amigos de verdade a amizade nos reaproximará. Pode ser que um dia não mais existamos, mas, se ainda sobrar amizade, nasceremos de novo um para o outro. Pode ser que um dia tudo se acabe, mas, com a amizade construiremos tudo novamente. Cada vez de forma diferente. Sendo único e inesquecível cada momento que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.

Seria maravilhoso conviver se as pessoas tivessem mais respeito em um mundo cheio de dor e injustiça. Quantas pessoas são infelizes na sua subjetividade. Algumas dizem que amam e tem fé em Deus e são incapazes de cultivarem amizades solidas e duradouras. Presume-se também que a amizade é um gesto de amor fraternal. Às vezes me pergunto! Depois de anos de convivência, por que tem que odiar ou perseguir o outro? Agora que aprendemos um pouco um do outro, que tal uma amizade alicerçada na confiança? Ninguém é culpado porque ama ou deixou de amar. Se cuidar bem do amor, às vezes ele dura um bom tempo, muitas vezes até o fim da vida. Se não cuidar ele acaba mais ou menos depressa. As pessoas realmente precisam conhecer o verdadeiro significado do que é amar e ter fé em Deus. Por que não resolver as coisas naturalmente, com serenidade e sabedoria? Ninguém pode garantir que amará a vida inteira. Quem pode fazer esta promessa? Acabou-se o interesse entre duas pessoas, nem por isso precisam se maltratar ou ficar inimigas. Seria uma infantilidade dispensar a amizade depois de anos de convivência. Quantas intimidades não trocaram.

O nosso amor é uma miséria. Amamos na proporção do “quociente de inteligência” (Q.I.) de uma ostra (com todo o respeito às ostras) e achamos que isto é um grande amor. Um amor que só serve para provocar brigas e aborrecimentos. Somos egoístas até no momento de amar. Esquecemos que amar é doação, um entregar-se constante ao outro. Há duas formas para viver a vida: uma é acreditar que não existe milagre e a outra é acreditar que todas as coisas boas da vida são milagres. No livro: “A Identidade” do escritor tcheco Milan Kundera (1929), afirma que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. E vai além dizendo: “que toda a amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos”.

Portanto, amigo é aquele individuo que o tempo não apaga, que a distância não esquece e que a maldade não destrói. É um sentimento que vem de longe, que ganha lugar no seu coração e você não substitui por nada. É alguém que você sente presente, mesmo quando está longe, que vem para seu lado quando você está sozinho e nunca nega um sentimento sincero. Amigo não é coisa de um dia, são atos, palavras e atitudes que se solidificam com o tempo e não se apagam mais. O que fica para sempre, como tudo o que é feito com o coração aberto. Contudo, precisamos de um amigo para conversar com o coração. Se não quisermos, não pudermos, não soubermos, com palavras, nos dizer um pouco de nós para o outro, senta ao lado dele assim mesmo. Deixa os olhos se encontrarem vez ou outra, até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta apenas ao lado dele e deixa o silêncio de ambos conversarem espiritualmente. Às vezes, a gente nem precisa mesmo de palavras. Um olhar é capaz de traduzir o que sente e diz um coração.  

23 de novembro de 2016

O HOMEM SONHA COM A PAZ

Já dizia o poeta: “desde o começo do mundo que o homem sonha com a paz, ela está dentro dele mesmo. Ele tem a paz e não sabe, é só fechar os olhos e olhar para dentro de si mesmo”. E o poeta vai além: “tanta gente se esqueceu que o amor só traz o bem, que a covardia é surda e só ouve o que convém”. Na verdade, quando a paz foi ensinada, pouca gente escutou. Baseado no texto dessa música de Roberto Carlos (1941): “todos estão surdos”, reitero esta afirmativa citando uma experiência minha, que só o amor nos transforma. Há cinco anos atras numa bela noite de setembro, as véspera da primavera o ar se encheu de amor em todo o seu esplendor e os anjos cantaram. O seu canto ecoou pelos campos, subiu as montanhas e chegou ao universo dos nossos corações. Naquela noite uma estrela brilhou no céu mostrando qual seria o caminho a seguir. Através desse caminho descobrimos o amor e a paz de espírito que hoje nos preenche. Se vamos ou não seguir adiante, só depende de nós.  

Mas, temos que lidar com as barreiras do orgulho. Talvez isso explique muita coisa. Por exemplo, por que nos machucamos tanto, a ponto de magoar um ao outro? Certa vez um sábio indiano, fez a seguinte pergunta a seus discípulos: - Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas com o outro? – Gritamos porque perdemos a calma, disse um deles. – Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado? Questionou novamente o mestre. – Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça, retrucou outro discípulo. E o mestre insiste na pergunta: - Então não é possível falar-lhe em voz baixa? Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o sábio hindu. Então ele esclareceu: - vocês sabem por que se grita com uma pessoa quando se está aborrecido com ela? O fato é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância.

Por outro lado, continua o mestre, o que sucede quando duas pessoas que se amam estão em harmonia? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque seus corações estão muito perto e suas almas interligadas. Não há distância entre elas. Muitas vezes estão tão próximos os seus corações, que nem falam, somente sussurram, estão entorpecidas de amor. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e basta. Seus corações se entendem. É isso que acontece quando duas pessoas que se amam, estão próximas. Por fim, o sábio conclui, dizendo: “Quando vocês discutirem, não deixe que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta”.

Portanto, foi graças a uma amarga experiência, a única suprema lição que tive que aprender: “é saber controlar a ira”. E do mesmo modo que o calor conservado se transforma em energia, assim a nossa ira controlada pode transformar-se em uma função capaz de mover o mundo. Não é que não fico irritado ou perco o controle. O que não posso é dar espaço para a ira. Cultivo a paciência e a mansidão, de modo que, pelo menos tento. Mas quando a ira me assalta, limito-me a controlá-la. Será que consigo? É um hábito que cada um deve adquirir e cultivar com uma prática assídua. Concluo esta reflexão citanto o sábio e idealizador indiano Mahatma Gandhi (1869-1948), que dizia: “tenha sempre bons pensamentos, porque os seus pensamentos se transformam em suas palavras. Tenha boas palavras, porque as suas palavras se transformam em suas ações. Tenha boas ações, porque as suas ações se transformam em seus hábitos. Tenha bons hábitos, porque os seus hábitos se transformam em seus valores. Tenha bons valores, porque os seus valores se transformam no seu próprio destino”. É por esse caminho que procuro trilhar, na paz e no amor de Cristo.

21 de novembro de 2016

O SEGREDO É TREINAR O CORAÇÃO

Sabe qual o grande problema quando nós não estamos nessa luta pessoal para resolver os problemas da nossa vida intima, o mais grave é que não resolvemos. Não resolvemos porque nós não explicitamos a Deus nas nossas orações, aquilo que verdadeiramente precisamos. A nossa realidade, a nossa vida em geral, seja lá o que for, ela nunca é aquilo que a gente vê ou mostra. Perdemos com facilidade a admiração pelos humanos e, contudo, o amor cai junto. Quando olhamos para o outro, sempre olhamos com os olhos que fomos treinados para ver. O segredo é treinar o coração para ver e enxergar. No livro “O Pequeno Príncipe” diz a raposa: “só se  bem com o coração”. E sabe por quê? Porque o essencial é invisível aos olhos.

O que significa que a raposa ao dizer para o pequeno príncipe, que só se vem bem com o coração ela estava dizendo que os olhos vêem a realidade do mundo das aparências e não dos fatos. Nunca olhamos para as pessoas, e quando olhamos não as enxergamos e sim projetamos nela as nossas fraquezas e frustrações. E quando a vemos projetamos as coisas negativas do nosso passado, da nossa história de vida. De modo que a luta pessoal para resolver os problemas da vida intima, exige muita paciência, perseverança, persistência, é um cair e levantar constante, sem desistir. Só os covardes desistem, para tudo sempre tem uma saída jeitosa. Neste caso o amor é mais falado do que vivido e por isso vivemos um momento de secreta angústia.

Enquanto não enxergarmos aquilo que é, somos um cego diante da vida. Um texto fora do contexto, vira pretexto. Somos treinados a olhar para as pessoas e isolamos o momento, fechamos a lente e não concentramos na visão do nosso coração. Contudo, estamos todos numa solidão e ao mesmo tempo cercados por uma multidão. A pessoa não é aquilo que gostamos, então levamos essa imagem para os outros (fulano não vale nada, é um canalha mentiroso, um insensível desalmado). Se quiser enxergar uma pessoa como realmente ela é se afaste um pouco e a visualiza de fora, procurando ver e analisar o contexto dela. Pessoas pessimistas só deturpam a realidade dos fatos. De modo que vivemos uma sociedade desfigurada, fragmentada com grande necessidade de fé em Deus. Só um milagre pode provocar uma grande mudança coletiva dos humanos.

Portanto, o milagre precisa acontecer dentro do coração de cada um de nós. Só para usar uma linguagem platônica, tudo que existe de concreto na vida, começou primeiro no mundo das ideias. Porém, antes de existir na nossa cabeça, já era gestado no nosso coração. No entanto, não experimentamos milagres fora, porque não pensamos em milagres dentro, no coração. Pior, pensamos em desgraça, pensamos mal do outro, pensamos que nada vai dar certo, que tudo vai dar errado e ficamos jogando a culpa nos outros, no governo, no mundo, etc. Ninguém é culpado pelo mal que você está vivendo. Pare de culpar pessoas, pare de culpar seu passado. Comece a pensar num milagre, mas para pensar num milagre gesta primeiro o milagre no seu coração. O grande milagre foi quando aqui chegamos, geramos e transformamos vidas. Isto é milagre, pois aprendemos a enxergar com o coração o amor que ainda não conhecíamos. Aprendi com a vida, que para amar é necessário reconhecer que temos necessidade do outro.  

16 de novembro de 2016

UM CASAMENTO ROMÂNTICO E PRAZENTEIRO

O tema casamento teve uma atenção especial pelo saudoso psiquiatra e educador Flávio Gikovate (1943-2016), que nas suas analise sobre as relações afetivas entendia o quanto as pessoas se machucam quando estão envolvidas e tomadas de amor pelo outro. Quando na verdade, poderia ser ao contrário. Do ponto de vista teórico, os casamentos com altos e duradouros lances de romantismo deveriam ser muito mais frequentes que aqueles baeados em uma sexualidade rica e exuberante. Mas, na prática, isso não ocorre. Não que seja tão comum às uniões sexualmente satisfatórias, mas que são raríssimos os casais que conseguem viver, ao longo de vários anos, uma experiência sentimental iluminada e prazenteiro, daquelas de encher o coração de alegria e os olhos de lágrimas, de tanta emoção.

Por outro lado, as coisas costumam ser mal colocadas desde o começo. A grande maioria dos casamentos ocorre entre uma pessoa apaixonada e outra que prefere ser objeto da paixão. Enquanto a primeira, talvez mais generosa, oferece a segunda que é mais egoísta, o seu amor, sendo que a mais generosa tem a coragem de amar. A egoísta tem medo de sofrer e se protege da dor do amor ao não se abrir demais para a relação.

Os casamentos desse tipo apresentam momentos iluminados e muito prazenteiros, é claro. Possibilitam até mesmo uma vida sexual de permanete conquista. Sim, porque o egoísta nunca se entrega totalmente ao outro, de modo que o generoso estará sempre tentando conquistá-lo. Esse fenômeno costuma gerar alguns instantes de profundo encontro, mas são momentos, que logo se desfazem. E o corre-corre das brigas e da luta pela conquista volta. No entanto, esse é apenas um dos aspectos da questão em pauta.

Outro fator de peso está nas diferenças de temperamento, de gosto de interesses. Na vida prática, no dia a dia, as divergências de opinião e a falta de um projeto comum provocam irritação permanente. E isso não vale só para as grandes diferenças. O cotidiano se faz realmente nas pequenas coisas: “Onde vamos jantar? Que amigos vamos convidar? Onde vamos passar as férias? A que filme vamos assistir?” E assim por diante. São justamente estas pequenas contradições que provocam a irritação, a raiva e, portanto, a maioria das brigas. As afinidades aproximam as pessoas, enquanto as diferenças as afastam. Além do mais, a oposição é a raiz da inveja: “o baixo inveja o alto; o gordo, o magro; o preguiçoso, o determinado; o introvertido, o sociável”. Em outras palavras, a inveja é inimiga do diálogo. Nesse tipo de união, as brigas serão o normal e os momentos de encontro e harmonia serão exceções cada vez mais raras.

Argumenta Gikovate que do ponto de vista teórico, a felicidade romântica no casamento poderia ser bastante comum porque o amor não padece do desejo de novidade que tanto agrada ao sexo. Ao contrário, o amor é apego, é vontade de aconchego, de tranquila intimidade. Trata-se de um sentimento que floresce e frutifica melhor quando tudo é exatamente igual e antigo. Gostamos da nossa casa, daquela velha roupa que nos agasalha tão bem. Gostamos de voltar aos mesmos lugares do passado, da nossa cidade, terra querida como Botucatu-SP e Marília-SP, isto é um casamento perfeito. Queremos também sentir essa solidez e estabilidade com o nosso parceiro amoroso. Amor é paz e descanso e deriva justamente do fato de uma pessoa conhecer e entender bem a outra. Por isso, é importante que as afinidades, as semelhanças, predominem sobre as diferenças de temperamento, caráter e projetos de vida.

Portanto, seres humanos que se afinam na relação amorosa, poderão viver uma história de amor rica e de duração ilimitada. Não terão motivos para divergências. Não sentirão inveja. Dos raros casais que vivem em harmonia, só podem tirar lições das experiências, na perspectiva de que cada um deve procurar se unir para o bem comum do casal. Só assim o amor não será um momento fugaz. Para que a intimidade não se transforme em tédio e continue a ser rica e estimulante, é necessário que o casal faça planos em comum e que depois se empenhe em executá-los. Contudo, a vida é um veículo de duas rodas: só se equilibra em movimento. Para que duas pessoas se tornem uma unidade é preciso criar um objetivo: ter um ideal de vida. Seja qual for, é a cumplicidade que transforma o amor em algo fundamental. Fazer planos é sempre uma aventura excitante. É sobre eles que mais adoramos sonhar juntos. 

13 de novembro de 2016

AMAR É UMA VIRTUDE E UM ATO DE FÉ

Vivemos em um mundo de incerteza, extrema insegurança em relação à duração e à estabilidade de cada individuo dentro da sociedade. São tempos de relações sociais frágeis, que cada vez mais se tornam relações mercantilizadas e individualizadas. Não há mais um referencial moral, um lado a seguir, parece estar todos jogados à responsabilidade e risco de seguirem e construírem suas vidas sem porto seguro nenhum.

Para o pensador e sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925), nesse contexto a relação social, pautada em uma responsabilidade mútua entre as partes que se relacionam, é trocada por outro tipo de relação que Bauman chama de conexão. Ele tira esta palavra das análises de relacionamentos em sites de encontros. Em suas pesquisas ele percebe que o grande agrado dos sites de encontros está na facilidade de esquecer o outro, de se desconectar. Com esta facilidade as relações afetivas que poderiam ser de boa qualidade, estão se perdendo, aumentando cada vez mais o distanciamento entre os humanos.

Sem pressão para estabelecer responsabilidade mútua entre os envolvidos, o relacionamento se torna frágil, uma mera conexão, nova forma vigente de se relacionar na modernidade líquida. Todos podem, sem o menor remorso, trocar seus parceiros por outros melhores. Desta forma, a maior utilidade do termo “conexão” é evidenciar a facilidade de se desconectar. Para Bauman, quando a qualidade das relações diminui vertiginosamente, a tendência é tentar recompensá-la com uma quantidade absurda de parceiros. Talvez um bom exemplo seja a quantidade de amigos que as pessoas costumam ter em redes sociais. São números que ultrapassam a casa dos 300 a 500 amigos, algo que seria irreal para uma convivência cotidiana de boa qualidade.

Bauman em seu livro “Amor Líquido”, afirma que até mesmo a afinidade está se tornando algo pouco comum em uma sociedade de extrema descartabilidade. Não há razão para buscar na afinidade, sendo que não há o menor objetivo em firmar laços que sejam próximos do familiar. Não há objetivo de fixidez. As relações se desenvolvem com aquilo que “já se tem”, não com aquilo que ambos estão “a fim de ter”. Não se arrisca, por exemplo, a amar sinceramente a ponto de se entregar um ao outro. É na falta do verdadeiro amor que as pessoas se perdem. Não há amor pela causa, não há tentativa de manter um relacionamento com o programa de um coletivo.

No entanto, essa fixidez é renegada a favor da livre escolha, da decisão individual, que obriga o indivíduo a estar sempre disponível para voltar atrás. Com facilidade para descartar qualquer um que se atreva a contrariar. Sendo assim, será mais um descartável nesta relação líquida. A dificuldade em lidar com o outro está na falta das ferramentas necessárias para se iniciar um relacionamento verdadeiramente genuíno. O contato via rede social tomou o lugar de boa parte dos solteiros que iriam para bares em busca de parceiros, no entanto, os poucos que ainda os frequentam, não sabem mais como se relacionar em tal ambiente.

A situação de extrema insegurança e incerteza também se relaciona com a incapacidade de amar o próximo. O que quero dizer? Se o outro é sempre um possível inimigo, alguém que nos tira a possibilidade de aproveitar a vida de maneira plena, então não há sentido em amá-lo – no sentido pleno da palavra amor – em confiar na sua presença, em ter certeza que ele vale nosso amor. Bauman diz que o amor-próprio é resultado de ser amado. Esta é uma relação infinita e incessante: “quando a pessoa percebe que sua voz é ouvida, que sua opinião é importante ou que sua presença será sentida, ela entende que é única especial e digna de amor”. Só o outro pode dizer que somos dignos de amor. Que maravilha viver se todos soubessem conversar, mesmo depois de romperem um relacionamento de anos de intimidade e cumplicidade. Que é o mínimo que deveriam fazer um pelo outro. Atitudes adulta impera o respeito.

Vale dizer que num processo de identificação com aquela pessoa que nos amou, também entendemos que a necessidade de amor existe nela. Nós nos amamos quando nosso ego se identifica com o outro e, desta forma, amamos a nós, merecedores de amor, e amamos o outro identificado. O que compromete as relações são as fofocas, vindo de fora, que muitas vezes destrói um relacionamento que poderia ser de boa qualidade. O casal alvo da fofoca se parte ao meio, acreditando na possível conversa maledicente. De modo que, ficam remoendo uma dor que não deveria existir. Espalhando ressentimento um contra o outro, que toma conta do corpo e da alma de ambos. Passa a ver todos como inimigos. Este é o caminho mais direto para uma sociedade líquida.

Quando o veneno da fofoca alcança o espírito do casal o relacionamento desmorona, comprometendo uma relação de anos de caminhada juntos. O problema é que o casal têm uma forte tendência a embriagar-se neste veneno, porque são incapazes de confiar um no outro depois de anos de convivência. Estamos contribuindo para a difusão do amor líquido. O instinto de preservação não é suficiente para a sobrevivência de ambos. Contudo, estamos encurtando as relações afetivas ao descartar a pessoa que tem a chave do nosso coração. É necessário haver uma instância moral atuando nas definições do meu “Eu” e do “Outro”, para que haja uma relação humana que seja algo mais que uma relação puramente animal. Somos humanos na essência e na atitude.

Por conseguinte, viver em uma sociedade de pura incerteza em relação ao outro, o amor nos é negado. Sendo assim, é negado a dignidade de ser amado. Não há amor-próprio e não há injunções sociais que prescrevem o amor ao próximo, fazendo dele algo fundamental na vida em sociedade. Amar o próximo não é natural, é na verdade, algo contra nossos instintos mais básicos: “por isso é o ato fundador da moralidade”. Contudo, se nossas ferramentas de relacionamento estão engajadas com nossa época fluida e se as prescrições para amar ao próximo estão cada vez mais formais e estabelecidas por códigos penais, então o caminho da sociedade é a autodestruição após um longo definhamento. Se você não quer cair na vida, aprenda a ajoelhar. Mostre que seu coração está tomado de amor.       

6 de novembro de 2016

EDUCAÇÃO PARA ALÉM DO CAPITAL

Para o filósofo e educador húngaro Istvám Mészáros (1930), nos da uma rica lição sobre o papel da educação. Ele discorre sobre a educação e o quanto ela pode contribuir na mudança social, bem como na manutenção da sociedade. Com a sabedoria de seus longos anos de estudo, citando de Paracelso a Fidel Castro, entre outros, mas principalmente recorrendo aos argumentos de Karl Marx (1818-1883) e o filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937), que defende a ideia de que para resgatar o sentido estruturante da educação e de sua relação com o trabalho, as suas possibilidades criativas e emancipatórias, é preciso colocar fim à separação entre “Homo faber” e “Homo sapiens”. De modo que, Mészáros, propõe dois eixos principais: o primeiro relaciona-se ao que alcançam as reformas educacionais e o segundo diz respeito ao imperativo de romper com a sociedade presidida pela lógica do capital e de estabelecer estratégias de transição para outra sociedade onde a educação para além do capital adquire significativa importância. Contudo, relativiza o papel que a educação tem no processo de mudança social. Procura demonstrar que a educação, por si só, não é capaz de transformar a sociedade rumo à emancipação social.

Mészáros considera que a escola reforça a internalização do modo de sistema social capitalista, contribuindo para impedir a transformação do entendimento dominante. O filósofo húngaro demonstra desprezo pela educação formal, cuja finalidade é a reprodução do capital. Neste sentido, a educação das escolas somente pode se tornar significativa na constituição de outra sociedade, caso seja associada à educação em sentido amplo, isto é, educar para a vida. Dessa maneira, a educação em “lato” sentido é enfatizada para o alcance de outra sociedade onde a lógica do capital tenha sido superada. A educação formal, contudo, não é dispensável, desde que se associe à educação para a vida toda, pois sem um progressivo e consciente intercâmbio com os processos de educação abrangentes como a nossa própria vida, a educação formal não pode realizar as suas muito necessárias aspirações emancipadoras. Mészáros chama a atenção para a necessidade de que sejam elaborados planos estratégicos para uma educação que vá além do capital, pois essa sociedade qualitativamente diferente e a educação livre dos propósitos do capital caminham juntas: “uma não é possível sem a outra”. A educação no sentido amplo é considerada imprescindível ao propósito de superação da sociedade.

Portanto, para esse fim, a universalização da educação e a universalização do trabalho são peças fundamentais, sem as quais não pode haver solução para a autoalienação do trabalho. Tal realização pressupõe necessariamente a igualdade verdadeira, substancial e não apenas formal de todos os seres humanos. Apenas na perspectivas de ir além do capital essa universalização e igualdade podem ser vistas, porque a educação para além do capital almeja uma ordem social qualitativamente diferente. O nosso dilema histórico definido pela crise estrutural do capital global, época onde se evidencia uma condição histórica de transição, define-se também um espaço histórico e social aberto à ruptura com a lógica do capital e à elaboração de planos estratégicos na direção de uma educação para além do capital. Nesse ambiente, a tarefa educacional é uma tarefa de transformação social, ampla e emancipadora. A educação deve ser articulada e redefinida no seu inter-relacionamento com as condições cambiantes e as necessidades da transformação social emancipadora e progressiva em curso. Contudo, para Mészáros a universalização da educação só poderá ocorrer com a universalização do trabalho, pois tais dimensões têm caráter indissociável. 

2 de novembro de 2016

A FÉ É UMA GRAÇA

A fé faz com que enxergamos com o coração. A fé é a ligação de tudo. Liga-nos a Deus, liga-nos a Jesus Cristo, liga-nos com o Santo de nossa devoção. É preciso ter fé para ver as coisas acontecerem. Quem tem fé, pode-se dizer que tem Deus no coração e a alegria de viver. É preciso ter fé para mais tarde não sofrer. A fé é um sentimento capaz de reunir gerações e povos diferentes, mas com o mesmo objetivo e assim são os devotos que tem fé em seu santo do coração. Em novembro de 2015, visitamos a Basílica de Nossa Senhora da Aparecida, para agradecer uma graça alcançada. Faz exatamente um ano. Ainda na rodovia Presidente Dutra ao ver o Santuário de Aparecida, a emoção tomou conta dos nossos corpos. Chegando à Basílica, vimos pessoas e romeiro de todos os cantos do país, pobres, ricos, jovens e velhos, todos envolvidos num único sentimento, a “”. Naquele momento tive a certeza de que a Fé toma conta de nós, nos tornando mais fortes e confiantes.

Olhando para aquela imagem simples e aparentemente frágil, parecia que ela usava de alguma força para concretizar o impossível aos nossos olhos, “A Fé”. Ali naquele momento de oração, ficava evidente que não importa o que aconteça, nada pode espedaçar e destruir aquilo que acreditamos. Foi nessa atmosfera, que senti que nós seres humanos não estamos sozinhos neste mundo, a mercê de forças ocultas. A fé é a ligação de tudo. Vale lembrar, que aquela imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, exposta na Basílica de Aparecida, tem 36 cm de altura e pesa 2 kg e 550 gramas. Ela ficou por muitos anos na capela do porto de Itaguaçu. Construída em 1745, a Basílica velha foi a primeira a abrigar a imagem de Nossa Senhora Aparecida, sendo considerada símbolo de fé e devoção. Mas, um jovem de 19 anos, que passa diante da imagem em 1978, quebrou o vidro de proteção e retirou a mãe Aparecida e saiu correndo com ela nos braços. Aconteceu o que não poderia, ele caiu e no momento da queda soltou a imagem que se partiu em 200 pedaços. O coração dos fies e de muitos brasileiros ficaram espedaçados, quando em nota os padres comunicaram a população.

A tristeza tomava conta de todos aqueles que presenciaram a cena. O episódio se deu em 1978, quando os fragmentos foram levados ao “Museu de Artes de São Paulo” (MASP), para a escultora e restauradora “Maria Helena Chartuni” (1942), uma mulher que se considerava não religiosa e cética. Ao todo foram 33 dias e noites em contato muito próximo a imagem. Segundo a ilustradora brasileira Maria Helena, em depoimento afirmou, que ao contrário do que pensavam seus colegas e religiosos, foi Nosso Senhora Aparecida que restaurou sua vida. Que lhe deu uma volta de satisfação. O entendimento da sua vida após esse contato com a Santa lhe trouxe mais tranquilidade e hoje se sente mais amparada. Isto é, o entendimento da vida mudou completamente. Revelou em uma de suas entrevistas para a TV Aparecida, que hoje a Nossa Senhora toma conta da sua vida.   

Depois de se passar 41 dias do atentado, exatamente no dia 31 de julho de 1978, foram concluídos a restauração, devolvendo a imagem da mãe na suas características originais, fortalecendo ainda mais a nossa fé. No entanto, poucos sabem que a imagem foi encontrada em 1717 nas águas escuras do rio Paraíba, por três pescadores: “João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia”. Eles entraram para história da Igreja Católica, por ter pescado na rede as duas partes da imagem. Primeiro veio o corpo e em seguida rio abaixo veio à cabeça da Santa. Os três pescadores foram os primeiros agraciados pela ação divina em Nossa Senhora Aparecida. Com a imagem já no barco, eles que até então não tinham conseguido pescar nenhum peixe, de repente puxaram a rede pela terceira vez e notaram que agora estava pesada e cheia de peixes. Não souberam explicar o fenômeno que desafiou as leis físicas da natureza. São inúmeros os milagres registrados até hoje em Aparecida.

Concluo essa reflexão sobre a Fé, com um versinho do jornalista e escritor brasileiro Caio Fernando de Abreu (1948-1996): “Porque a vida segue, mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga. E a gente lembra. E já não dói mais, mas da saudade. Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar para trás”. Contudo, faz um ano que visitamos o Santuário de Aparecida. Querida Nossa Senhora Aparecida, que nunca nos falte sonhos. Que nunca nos falte sobriedade. Que nunca nos falte a fé e esperança. O restante que nos seja dado por acréscimo.

UMA HISTÓRIA DE AMOR QUE SÓ O TEMPO ENTENDE

Vou dividir com você essa História de Amor, porque ela tem muito do que vivi nesses últimos anos e mais precisamente nos últimos meses. Até ...