30 de maio de 2016

INTRODUÇÃO: PARA LER E PENSAR

Quero apresentar aos leitores um breve resumo do nosso próximo livro: “Para Ler e Pensar Com Sabedoria”. Tão logo lançado, estarei visitando escolas, faculdades e Secretarias de Educação dos municípios pelo interior do estado, divulgando mais esse intento. O livro realça a importância da leitura e do pensar crítico de modo geral. Pois ainda sou, um dos poucos educadores que acredita no poder da leitura como ferramenta, para uma educação de qualidade. Todo texto é um conjunto de signos linguísticos codificados, que utilizamos para viabilizar a comunicação entre pessoas. Vale lembrar, que a lógica da educação integral se fundamenta na leitura. Aqui está uma síntese do livro através dessa “introdução”:

Abro esta introdução com um pensamento do escritor Monteiro Lobato (1882-1948), que diz: “quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê”. No entanto, posso dizer que este é um livro intencionalmente breve, muito mais com um tom de prosa do que com jeito de texto pesquisado e redigido com obsessividade lógica. Foi dividido em três partes: “sendo que na primeira parte, trata do prazer e da importância da leitura para nossa vida. Na segunda parte procurei dar um tom mais poético nas reflexões. E finalmente na terceira parte, proponho textos de cunho filosófico para pensarmos”. Portanto, são textos que levam da leitura a uma profunda reflexão.

O que este livro significará para todos os que o folhearem, não sei.  Talvez as inteligências muito exigentes não lhe deem importância; mas a idade ensina uma serenidade que não me deixa preocupar com isso. O que imagino, e isto sim, faz-me bem, é que aqueles que estão atentos quanto a educação dos jovens e aos sofrimentos deste nosso tempo, encontrarão em suas páginas alguns alertas aos quais querão dar atenção. Até porque, a gênese da filosofia é antes de tudo, pensar a vida.

Aprendemos muito mais lendo do que estudando, porque o estudo demanda concentração e desejo de aprender rápido, para melhor memorizar as palavras. Ao passo que a leitura para muitas pessoas, pelo simples prazer de ler, possibilita o entendimento e a clareza dos fatos, nos colocando no núcleo da realidade vigente. Para o escritor e cartunista Ziraldo (1932), ler é mais importante que estudar e   quando se cria o hábito da leitura se ganha em conhecimento e enriquece o nosso vocabulário. De modo que, ler não é matar o tempo e sim fecundá-lo.

O livro procura passar o prazer da leitura e a importância do pensar crítico. Nos mostra que neste momento de reflexão, só o coração deve ditar o que fazer no sentido humano da palavra. Porque através dos sentimentos, quando olhado com o coração, é que está o poder da transformação do conhecimento que nos faz sábio. Só assim encontraremos a paz e viveremos em harmonia com o nosso corpo e nossa alma. Contudo, ser sábio é sentir com o coração o que a razão explica com sabedoria. Foi um prazer incomensurável escrever este livro, porque, a morte do autor é o nascimento do leitor. Portanto, a síntese de todo escritor está na frase do poeta brasileiro Castro Alves (1847-1871): "bendito aquele que semeia livros e faz o povo pensar".    

26 de maio de 2016

OS OLHARES DE DESPREZO AO PROFESSOR

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) disse que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver - vou um pouco além, não só a ver como também enxergar o que se ve. Esta é a primeira tarefa porque é através dos olhos que as crianças, pela primeira vez, tomam contato com a beleza e o fascínio do mundo. Os olhos têm que ser educados para que a nossa alegria aumente. Porém, o olhar de um professor tem o poder de fazer a inteligência de uma criança florescer ou murchar. Ela continua lá, mas recusa-se a partir para a aventura de aprender. A criança de olhar amedrontado e vazio, de olhar distraído e perdido. Ela não aprende. Um professor habilidoso sabe que o olhar tem o poder de despertar ou, pelo contrário, de intimidar a inteligência. É desse olhar de desprezo que vem sofrendo o professor. Nem o seu dia é mais comemorado como antigamente, de tão desgastada que está a imagem desse profissional da educação. O dia 12 de outubro é lembrado como o dia da criança e de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, mas, poucos sabem o que se comemora no dia 15 de outubro.

Durante o ano letivo na educação, o calendário escolar já reserva no inicio do ano as comemorações significativas como, por exemplo, só para citar algumas datas importantes: “o dia do trabalho, o dia das mães, as festas juninas, o dia dos pais, sete de setembro, o dia da criança e dia de finados”, aqui já terminou o ano letivo. Ainda que não citei o aniversário do município, que também se comemora. Aproveito para puxar um dado curioso da história do dia do professor. No dia 15 de outubro de 1827, que é um dia consagrado à educadora Santa Tereza D’Ávila (1515-1582). Dom Pedro I baixou um Decreto Imperial que criou o ensino elementar no Brasil. Pelo decreto, “todas as cidades, vilas e lugarejos tivessem suas escolas de primeiras letras”. Esse decreto falava de bastante coisa: “descentralização do ensino, o salário dos professores, as matérias básicas que todos os alunos deveriam aprender e até como os professores deveriam ser contratados”. A ideia, inovadora e revolucionária, seria ótima para a educação, caso tivesse sido cumprida. Mas somente em 1947, após 120 anos do referido decreto, que ocorreu a primeira comemoração de um dia dedicado ao professor.

O que na verdade se comemora no dia do professor? O melhor é não pensarmos nele, uma vez que seu aspecto não é nada festivo. Digo como professor, nós falhamos, fracassamos, perdemos a guerra contra o analfabetismo, a ignorância, a falsa cultura, a selvageria e a demagogia. Para justificar podemos usar a metáfora da vitória de Pirro, que reuniu em meio às fragorosas derrotas. Pirro de Élis (360-270ª.C) foi um filósofo grego nascido na cidade de Élis, considerado o primeiro filósofo cético e fundador da escola que veio a ser conhecida como pirronismo. A vitória de Pirro de tão sacrificada, desgastada e violentamente conquistada que não valeu a pena alcançar. Ou seja, uma vitória inútil e não tanto uma vitória difícil. Portanto, desprezado professor se quiser continuar nessa trincheira, entre na fila e posicione-se diante do pelotão de fuzilamento.

Falo do sentido primeiro de comemorar antes de tudo, a palavra significa lembrar, resgatar e compartilhar lembranças comuns. E porque a vida repassa antes os olhos dos que estão para morrer e diante de nós estende-se a perspectiva de nossa extinção, este é o momento certo de comemorarmos, de empreendermos uma rememoração coletiva. Que nossa alma coletiva, assim lavada, tornada mais leve, possa então ascender a umbrais mais elevados. Ver nas entrelinhas o que fazem os burocratas conosco. Somos obrigados a  preencher papéis cobertos de perguntas absurdamente óbvias e infantis, cuja a finalidade são invariavelmente uma incógnita e cujo resultado prático é sempre, absolutamente nenhum.

Podemos comemorar também as autoridades deseducacionais de todos os governos que praticam contra o professor. A anti pedagogia da punição vingativa, a mesma que condena e proíbem veementemente se ela é eventualmente imposta na educação de alguma criança ou algum adolescente. Aproveitemos para comemorar também as classes de estudantes que não estudam, que menosprezam ou ignoram nossa presença na sala de aula, que passam o tempo juntando comentários desairosos a nosso respeito e, no final do ano, queixam-se de que não lhes ensinamos nada. Assim como aqueles alunos que, com uma agressividade descabida, vêm nos ameaçar com retaliações por causa da nota recebida, tratando-nos como não se tratam os animais, e diante dos quais temos de nos valer de uma energia descompensadora, pois do contrário perdemos a nossa humanidade.

Portanto, já que não temos pelo o que comemorar, vamos apreveitar para homenagear aos chamados papas da educação ou pedagogos acadêmicos que exigem de nós uma competência que não possuem e querem nos impingir “ex-cathedra” teorias e métodos que eles próprios não dominam e jamais foram capazes de por em prática. Comemoremos, enfim, todos aquelas pessoas que nos desqualificam e ridicularizam, tomando nossa profissão como matéria para seu humor estereotipado e avacalhado, e depois de tudo ainda esperam que o mundo lhes ofereça, urbanidade, civilidade, respeito, em suma, tudo quanto uma boa educação pode propiciar. Contudo, esse desrespeito e desprezo ao professor começa nos altos escalões do Estado, onde atende pelo nome paradoxal de racionalização ou otimização. É sob esse eufemismo que o governo superlota as salas de aulas. E isto não é falta de respeito e desprezo pelo professor? Será que estamos dispostos a abandonar tudo o que conquistamos? Até onde conseguiremos ir quando o caminho exige priorizar coisas tão esquecidas no mundo atual, como a beleza dos rios, os encantos da natureza, a poesia, a arte e a capacidade de aprender com olhos de criança?       

11 de maio de 2016

UTOPIA E RESIGNAÇÃO DE UM PROFESSOR

A palavra utopia foi criada pelo diplomata e escritor Thamas Morus (1478-1535), em 1515 que significa literalmente o lugar nenhum, lugar que não existe, o não lugar. Em outras palavras, a descrição de lugares imaginários, com suas normas ideais de funcionamento e de boa convivência, foi usada ao longo dos séculos para que os pensadores ilustrassem suas teorias sobre como deveria ser a sociedade perfeita, ou mesmo como uma forma de criticar as sociedades existentes. O atual vazio de sujeito e a falta de perspectivas para um futuro imediato têm contribuído para a resignação de muitos à ditadura do presente. Ora, estaria então, a esperança dos professores, hoje, órfã de utopia? Gosto do conceito construído pelo educador e filósofo pernambucano Paulo Freire (1921-1997): “ser utópico não é sair desenfreadamente em busca daquilo que não pode ser realizado. Ao contrário, é saber denunciar as injustiças de uma sociedade desumana e, ao mesmo tempo, anunciar um novo mundo de realizações, de solidariedade e de liberdade para todos”.

Não tenho dúvidas de que a escola é o lugar de excelência para que esse princípio se concretize. E os diretores que cuidam da gestão escolar comprovam isso ao olhar para cada jovem estudante e para a comunidade escolar com a intenção de fazê-lo crescer e ao apontar a aprendizagem como uma forma de libertar-se da violência. Uma parcela significativa de diretores, assim como de professores, que têm uma visão utópica da educação, da cidade em que vivem e da vida como um todo. Inventar e construir a própria história e a história desses jovens é a nossa lição como educadores. Só que a realidade está aí estampada para todos verem, e o quanto tudo isto é cruel para nós profissionais da educação.

Entretanto, os estudos vêm comprovando que a cada ano através do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que mais de dois milhões de jovens, com idade entre 15 e 18 anos, que não sabem ler, escrever e muito menos interpretar o que lê. Consequentemente esse agravante tem como base às leis que asseguram, através da Constituição Federal, o direito a todos os cidadãos ao estudo, mas estas leis não são capazes de garantir uma política educacional eficiente com escola de qualidade para qual o jovem se sinta atraído. Os indicadores são mais que suficiente para mostrar o descaso pela educação no país. A desvalorização ética e a falta de respeito para com o professor. Para piorar ainda mais, um deputado do (PMDB), teve a coragem de criar um projeto de Lei que prevê mudanças na postura dos professores na rede publica estadual de Alagoas. Veja o absurdo, esses mestres serão impedidos de dar opinião, mantendo neutralidade política, ideológica e religiosa na sala de aula. Diz que é necessário para que o professor não expresse sua opinião dentro da sala de aula e, assim, seja imparcial. O texto pretende manter a pluralidade de idéias na escola. Está certo cercear um professor de pensar? Nem o governo e nem a sociedade tratam com respeito nossos professores. 

No entanto, temos acumulado reproduções de modelos, e estas nos têm afastado, historicamente, da realidade, anulando potencialmente o desenvolvimento da capacidade de pensar e criar. É importante que os professores entendam os desafios da educação que não são os mesmos dos governos, que visam à manutenção do poder. Em vez de ficarem discutindo com a direção da escola sobre a disciplina dos alunos, os quais pouco se preocupam com os educadores. A categoria precisa ser mais unida e não participar do intento governamental. Na verdade, ele espera um professor vacilar para colocar a sociedade contra, como se a culpa fosse dos professores. Tornou-se comum caso de desrespeito contra o professor e a educação. Para ilustrar, em Belo Horizonte, um estudante sem razão nenhuma, processou a escola e o professor porque tirou notas baixas, alegando danos morais. Segundo o aluno, passou a noite estudando, portanto, não achou correto o professor ter dado uma nota baixa. Em nenhum momento questionou-se o conhecimento desse aluno. Parece haver uma inversão de valores. Uma lógica perversa por trás dessa violência e desrespeito que vem assolando os profissionais da educação.  

Na verdade, os professores precisam compreender e romper com essa falsa lógica. Rejeitar a cultura da descrença e construí-la dentro de si, como ação política, de crença e esperança. Perceber que o pensamento cada vez mais está sendo dispensado pelos governantes e pela classe dominante, para não serem incomodados. O maior exemplo desse descaso é a política vigente do nosso sistema educacional brasileiro. Descrevo isto com dor no coração. O professor que pensa, questiona e põem em dúvida algumas regras pré-estabelecidas, optando pela busca do conhecimento através da pesquisa. Torna-se, portanto, um sujeito consciente, muito perigoso para aqueles que detêm o poder. Discute-se com certa frequência a respeito de um projeto pedagógico. Que possa atender os anseios dos jovens. Há aqueles os quais defendem o aluno, outros defendem o professor. Ainda existem aqueles favoráveis ao conteúdo que aí está. Acredita-se que no centro do processo educativo esteja um “projeto social”. A sociedade brasileira nesse sentido torna-se democrática e cidadã, fundamentada na igualdade entre os indivíduos e no respeito. Conforme o filósofo francês, Jean Jacques Rousseau (1712-1778), analisou as razões das desigualdades sociais. Segundo ele, o ser humano é naturalmente bom, mas a sociedade o corrompe gerando a desigualdade, escravidão e a tirania.

De modo que, o Ministério da Educação tem quase que exclusivamente, uma obrigação com a instrução e muito pouco de formação integral, ou seja, formar homem na sua totalidade. O discurso do governo é utópico e ideológico. Ele só interessa pela instrução técnica para o crescimento econômico de uma minoria. Pregam uma moral falsa e utópica. No entanto, não se observa avanço na educação, porque não há interesse em bons projetos educacionais. Segundo o filósofo e educador Humberto Rohden (1893-1981), argumenta no seu livro: “Educação do Homem Integral”, que instrução torna o homem erudito, meio que robotizado, só serve para si mesmo. A moralização torna o ser humano altruísta. A erudição e o altruísmo não são ensino verdadeiro, pois, não passam de condicionamento psíquico. Diz Rohden: “basta que haja, na alma de um indivíduo, uma fonte de alta voltagem para que outros seres humanos receptivos sejam por ela beneficiados”.

Portanto, o altruísmo é uma forma de egoísmo sublimado, aquele que espera recompensa após a morte. A erudição torna o homem técnico e conteudista. O homem realmente educado é bom, ele não espera recompensa por ser bom, nem no presente e mesmo após a morte. Contudo, essa resignação crônica que vive o professorado, os políticos tiveram culpa e continua sendo culpados por omissão. Limitaram-se aos fatos, não se interessaram pelos valores. Onde os estudos revelam sem valores, não há educação integral. E quais são esses valores? Verdade, justiça, amor, respeito e honestidade, que para muitos, são valores inalienáveis. É a formação da consciência crítica e não uma simples descoberta científica, nem altruísmo moral que faz a diferença na nossa vida. Foi Albert Einstein que disse: “o homem de ciência, descobre os fatos da natureza, mas o homem de consciência realiza valores dentro de si mesmo”.


8 de maio de 2016

A CRISE NA EDUCAÇÃO PÚBLICA

Em quase vinte anos de magistério na escola pública do Estado de São Paulo venho assistindo a cada ano a degradação da mesma. A educação pública e seus professores vêm sendo tratados com indiferença pelo governo estadual e pela sociedade em geral. Indiferença que se traduz em menosprezo, chacota que é assimilado pelo professor na forma de autodesprezo e vergonha. De modo que, na medida em que a situação vai se agravando ano após ano, esse profissional do magistério passa a interiorizar a depreciação do Estado e da sociedade. Sente-se hostilizado ao perceber que sua categoria é desvalorizada. Para sobreviver cria uma couraça muscular e bota um ar de intelectual e começa então a fazer a política que o governo aprova. Tanto professores como alunos fazem o jogo que o governo quer. Afinal, como se explica essa degradação da educação pública?

Quando olhamos para trás percebemos que a educação brasileira começou com doutrinação trazida pelos jesuítas, quando chagaram aqui no Brasil. Ainda não havia uma educação estruturada, como eles eram cultos cuidaram prontamente da educação a começar pelos índios. Por conseguinte, esse modelo de educação doutrinária começa em 1549, que se arrastou por mais de 200 anos. Com pouquíssimo acesso da classe trabalhadora até ao final do século XIX com índices na educação muito baixos. Vale lembrar, que até o século XIX era proibido publicar livro no Brasil, sem o aval da igreja e o carimbo do governo. Precisava de uma autorização das duas instituições. No entanto, a primeira universidade criada no Brasil foi em 1920. Sendo que a Argentina criou sua primeira universidade em 1613. Ora, de onde vem esse medo dos governantes ao contrapor a educação?

No entanto, no século XX começa uma pequena mudança. Foi na década de trinta que uma grande geração de educadores como: Anísio Teixeira (1900-1971), Fernando de Azevedo (1894-1974), Lourenço Filho (1897-1970), Almeida Júnior (1850-1899), entre outros, lideram o movimento da Escola Nova, que contou com o apoio de muitos intelectuais, entre eles Cecília Meireles (1901-1964). Divulgaram o Manifesto dos Pioneiros em 1932, documento histórico que sintetizou os pontos centrais desse movimento de ideias, redefinindo o papel do Estado em matéria educacional. Continuou com Paulo Freire (1921-1997), Darci Ribeiro (1922-1997) e tantos outros grandes educadores. É neste momento que nasce um movimento com a finalidade de estruturar a educação. Agora precisamos de uma escola que seja voltada para a vida, onde o ser humano seja o centro desse projeto. De modo que, na década de trinta até a década de cinquenta nós tivemos um movimento muito interessante para a estrutura da educação.

Entretanto, nos anos cinquenta o Brasil sentia que precisava se industrializar. Agora o papel da educação muda, e é preciso formar mão de obra qualificada para o novo mercado. Neste momento surge uma nova escola que na visão da filósofa e educadora Viviane Mose (1964), funciona como uma linha de montagem, onde se coloca um ser humano e finalmente sai uma pessoa triturada, pronta para participar do movimento produtivo brasileiro. São pessoas fragmentadas em todos os sentidos, como alguém que passou por um moedor. Todavia, a educação sempre esteve voltada para a economia e nunca para formar cidadãos conscientes. Não bastando, vem junto o regime militar que tira a filosofia e a sociologia da grade curricular das escolas. Esse regime vem para contrapor a inteligência brasileira que queria uma mudança estrutural na educação. Os militares atacavam diretamente a inteligência de quem pensava, como os professores, poetas, escritores e outros intelectuais. Talvez seja essa a maior ferida que sofremos até hoje na educação.

Portanto, o povo brasileiro hoje tem pavor de pensar, porque na época pensar significava ser fichado no DOPS (Departamento de Ordem e Política Social), ser preso e torturado, ser exilado como muitos intelectuais foram. Durante vinte anos foi proibido pensar não somente nas escolas e universidades, mas na sociedade brasileira. Depois do regime militar, agora com a abertura, surge à escola como um lugar de disciplinas. O grande problema das escolas hoje é o modelo pedagógico que aí está. Porque incentiva a passividade e a repetição ideológica. Com isso exclui a inovação, a criatividade e a ação do aluno em seu meio. Contudo, é notório que a escola pública tornou-se um exemplo clássico de descaso político, recheado por interesses de poucos e com uma consequente mediocridade. A informação íntegra do jovem é desvalorizada para que, cada vez mais, o cidadão perca o senso crítico, indispensável para a transformação e reconstrução da sociedade que tem como característica a boa formação do homem na sua totalidade. 

1 de maio de 2016

AS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS

Em meio a tantas mudanças, das novas tecnologias de informáticas e telecomunicações, o ensino superior enfrenta um grande desafio. As rápidas transformações do mundo impõem uma nova estrutura educacional e mais empenho dos governantes e professores comprometidos com o ensino de qualidade, com novos equipamentos e com remuneração mais compatível. Na verdade, o sistema universitário brasileiro pouco mudou nos últimos séculos. A começar pela sua estrutura física, são prédios formatados dentro da concepção de salas reclusas, períodos semestrais, quatro a seis aulas diárias, a comunicação é unilateral, alunos displicentes e passivos, currículos estanques, programas idênticos ano após ano. É um modelo neo-liberal, que na visão da filósofa e educadora Marilene Chauí (1941), “o neoliberalismo opera no encolhimento do espaço publico e no alargamento do espaço privado”. Quando a universidade pública é inserida neste contexto, desaparece o modelo original de formação e pesquisa e surge uma nova universidade operacional, ou seja, faculdades de resultados.

De certo modo, mesmo que os números demonstrem que está havendo crescimento no ensino superior, o Brasil precisa crescer ainda mais. Estima-se que há apenas 13,5% de estudantes matriculados na universidade pública. Em comparação com a Argentina que é de 52,7% e a Venezuela que é de 31,6% da população, nós estamos muito abaixo neste ranking. Nesse sentido, duas característica diferem e aproximam a universidade publica brasileira de outras situadas na America Latina. No Brasil há um alto número de matrículas em universidades privadas. No entanto, grande parte das pesquisas brasileiras e da América Latina ainda acontecem nas universidades públicas. A Argentina é o único país que possui três Prêmio Nóbel de ciências, todos ligados a professores e pesquisadores de instituições públicas. Porém, aqui no Brasil as melhores universidades são as públicas, que ainda são responsáveis por 95% das pesquisas.

Há muitas perguntas a serem feitas sebre a nossa educação. De quem é a culpa do ensino público superior estar caminhando devagar no Brasil? Os estudantes estão preparados para competir neste mundo cada vez mais desconfortável e exigente? E a qualidade do ensino? Essas são algumas das perguntas fundamentais e norteadoras do ensino no Brasil. Pois, nas promessas de campanha, a meta do governo era justamente colocar a maioria da população na sala de aula e com ensino de qualidade. Por isso, a formação dos professores tornou-se uma tarefa prioritária que infelizmente não foi levado a sério. Um mercado que absorve mão de obra qualificada, a titulação de mestres ou doutores já não é mais suficiente. O professor não pode parar de estudar e aprender, o aperfeiçoamento tem que ser permanente.   

Cabe à universidade brasileira, seja particular ou pública, a missão de comandar e humanizar a modernidade, oferecendo mais cursos de Pós Graduação para mestres e doutores, fomentando o incentivo a pesquisa nas varias área do conhecimento. Penso que se a universidade não marchar nesta direção, à modernidade será imposta de cima para baixo e de fora para dentro, pela via da produção industrial, do consumo e dos meios de comunicação. De modo que, o papel do conhecimento e da informação torna-se cada vez mais central e exige uma boa articulação da educação universitária. Para nós a noção de educação superior como direito do cidadão e como inclusão social é algo muito recente e temeroso, porque busca romper com a visão de uma universidade elitista. A finalidade do exame nacional do ensino médio (ENEM), tem como proposta acabar com a industria do vestibular. A começar pelos cursinhos.     
    
Por outro lado, uma universidade sem visão mais ampla, com propostas ultrapassadas, vai, fatalmente, perdendo a relevância e com certeza chegará o momento de ser “tombada”. No entanto, vejo a universidade como um centro de produção e transmissão de conhecimento fundamental, pois, além de fazer cultura e o saber científico, também socializa o conhecimento e preparar recursos humanos, a universidade tem a função de discutir e intervir nos rumos do modelo de desenvolvimento econômico, político e social do país. Ao invés de temer essa função, deve capacitar-se e aproveitar para participar da definição desse crescimento. Precisa renascer e voltar-se sobre si mesma, com autocrítica. Caso contrário nunca vamos ter pesquisadores de renome internacional, dignos de Prêmio Nobel.

Portanto, é preciso não perder nunca de vista os pilares do ensino, pesquisa, extensão e o direito inalienável a uma universidade pública, gratuita e de qualidade. Mas esses antigos propósitos das universidades estão perdendo espaço para as discussões sobre excelência, eficiência, taxas de retorno, quase de acordo com receituários econômicos inflexíveis e que estão conduzindo o país para uma verdadeira armadilha da dependência e do subdesenvolvimento. Nós merecemos um destino melhor. A produção intelectual e científica é um direito de todos nós cidadãos.  

AS COISAS SÃO OS NOMES QUE LHE DAMOS

O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofri...