29 de abril de 2016

SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO

A educação brasileira deveria sem dúvida alguma, encontrar-se numa grande encruzilhada para debater o momento presente que o país atravessa. O problema é que não se encontra, e nem se quer tem um projeto educacional que possa apresentar a sociedade. A educação no Brasil está na mão única da exclusão social. Não temos um projeto social para uma educação de qualidade, que é o centro do processo sistêmico e faz toda a diferença na formação do pensamento crítico. Vivemos uma economia excludente e assistimos um Estado corrupto. Que esperança nos resta diante dos fatos?

Do ponto de vista dos países ricos, o sistema educacional brasileiro é visto como formador de consumidores, onde o povo é adestrado para não pensar. A lógica, o conteúdo claro e oculto da educação é este: “saber para dominar, dominar para enriquecer, enriquecer para desfrutar”. Sendo assim, a educação deixa de ser um compromisso social. Tudo é consumo, até as pessoas estão sendo coisificadas, é a vanguarda da mecanização do homem. Subir na vida significa que muita gente, muitos povos sirvam de escada para alguns poucos que tem esse privilégio. É possível uma alternativa para este quadro atual? Seguramente que sim! Educação não é privilégio, é compromisso social. Como podemos começar? Mudando a mentalidade vigente e enfrentar com realismo esta situação excludente que perpassa a todos.

Entretanto, uma indústria que se moderniza é aquela que enxuga sua mão de obra descartando pessoas, apostando na robotização, na informatização e na automação. Ou seja, a espiritualização das máquinas. A consequência disto é o desemprego em massa crescente e o aumento do mercado informal e clandestino na sociedade. A pergunta que ninguém se atreve a fazer é: será que a máquina necessariamente leva a criação de pessoas descartáveis? Todos sabem qual é a resposta. Neste sentido eu pergunto: para que estudar? Para ser engolido por esta estranha máquina de entortar e triturar pessoas que é a atual economia mundial?

O grande problema da educação brasileira como um todo, é que ela, claramente, diz formar pessoas para a vida e, ocultamente, vai selecionando, classificando as pessoas para serem excluídas e só uma minoria incluída, isto é, aqueles poucos privilegiados. É o que a educação pública faz, sobretudo, através de avaliação escolar que nada mais é do que um processo de seleção e classificação das pessoas. Assim, existem os aptos e os inaptos. Para nós educadores captar, perceber este mecanismo já é uma possibilidade de mudança. Adianta sim e muito, garantir escolas de qualidade para todos. Se possível garanti-la numa outra perspectiva, que não a de exclusão social.

Portanto, sou a favor da tecnologia, mas, como meio, nunca como fim. Ela não nasceu (pelo menos não deveria) para substituir pessoas, criar sofrimento e divisões. É possível olhar a educação por outra perspectiva que não seja esta. A educação não existe somente para as pessoas subirem na vida e sim para formar cidadãos, seres humanos. Povo civilizado, teoricamente é um povo educado. Se nossos jovens não refletirem sobre isto, continuaremos criando cidadãos de segunda categoria, sem dignidade, propenso a violência. Contudo, em vez da lógica da exclusão, porque não criarmos a cultura da solidariedade. Isto a educação sabe fazer e muito bem. Ainda temos uma gama enorme de professores lúcidos no Brasil.

26 de abril de 2016

EDUCAÇÃO NA CULTURA CAPITALISTA

Segundo o escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900): “a educação é uma coisa admirável. Mas é sempre bom lembrar, de tempos em tempos, que nada daquilo que realmente vale à pena saber pode ser ensinado”. Isto porque no mundo globalizado a educação perdeu o seu sentido. Neste contexto macro-econômico a educação não é prioridade. Parece que é importante se preocupar em assegurar a abertura da economia mundial e reverter gradativamente os índices de desemprego. Por conseguinte, o que o mundo globalizado pede hoje dos povos e dos governantes, é que se esforcem para preparar mão-de-obra qualificada. Ninguém se preocupa hoje em dia em ser culto, educado, com boa formação em humanismo e com um pensar crítico, para sabermos o que é prioridade para nós, na atual globalização mundial.

Lendo alguns desses autores, que discutem a economia mundial, criou-me certa indignação, ao dizerem que conhecimento não é para o povo e não garante realização e satisfação pessoal a ninguém, mais do que poder consumir que na opinião deles, é mais importante que o saber. Bens de consumo é uma meia verdade! Haja visto, as produções culturais em cinemas, músicas e televisão norte-americana. Abastecem com 70% a programação mundial de TVs. Na verdade, é 70% de besteirol puro, a chamada cultura das massas! É isso que o povo consome e quer consumir? Com esse raciocínio recheado de tabelas, índices e percentuais que certos políticos saem por aí disseminando um pensamento que é só dele. Com um tom seguro e veemente de quem faz ciência, de quem fabrica a realidade. A contragosto é visto pela massa como sendo natural que os governos não invistam em educação, para conter a inflação, gerar investimentos e garantir a inserção no mercado global. Pura sandice, não passa de uma ideologia barata.

Entretanto, acredito com meu corpo e com minha mente que no Brasil, existem pensadores e teóricos mais lúcidos, e que eles estão, em grande parte, trabalhando na educação. São pesquisadores, filósofos, cientistas, artistas, ativistas, ou seja, pessoas sérias e que levam a educação a sério. São os educadores de hoje que estão na berlinda dos tempos, resgatando e promovendo valores que humanizem, ao menos um pouco, o que não tem volta que é essa corrida para a globalização. Ainda nos resta uma esperança de salvaguardar, de um lado, um campo epistemológico, e de outro, a qualidade dos processos coletivos de produção da cultura, dos valores e da beleza. É preciso restabelecer a saúde do nosso idioma que é mal falado. Penso que a humanidade como um todo precisa se responsabilizar por acudir urgentemente este empobrecimento global da subjetividade, onde se prefere ler Harry Potter (uma série de sete romances de fantasias que narra as aventuras de um jovem bruxo cheio de problemas -  cultura de massa), em detrimento do que vem do saber popular e dos grandes nomes da literatura, da música, da pintura, etc.

Precisamos resgatar uma humanidade que pensa, que sente e que cria, pois, é uma tarefa de todos, mas nesse processo, o condutor especial e privilegiado ainda é o professor. O agenciador dos focos coletivos de enunciados, principalmente quando rejeita o papel de formador de homogeneidade. O professor é o fio condutor na rede dos processos de formação do saber e da cultura. Principalmente no contexto acadêmico, na escola, que se constrói na ação com outros. Pois é ali que a criança se exercita, adolescendo e formando-se adulto. E quem ajuda muito nessa transformação e construção ainda é a figura do professor. Mas não cabendo mais ao professor o papel de detentor e transmissor de conhecimento pronto e acabado, o que se espera hoje daquele que conduz o aluno na busca do conhecer-se e de conhecer o universo é muito mais do que só transmitir. É despertá-lo para uma nova realidade.

Portanto, um só professor não move um oceano de eventos e fatores. Mas, cada um na lida cotidiana com a educação, com as equipes, com os alunos e com toda a comunidade acadêmica, agenciando pontos de partida e viabilizando o percurso, de modo a enriquecer todo o processo. Movemo-nos nas micro-políticas. Plantamos a dúvida em alguns, deixamos outros encontrarem certezas, outros tantos se descobrirem através dos próprios erros. Acompanhamos atentamente o surgimento de brotos de conhecimento e de sabedoria na alma dos nossos alunos. Eu sei que ocorre assim, pois carrego comigo até hoje, claramente sonoras ainda, palavras que ouvi dos meus mestres e que falam comigo, mostrando, instruindo, asseverando, alertando-me, instigando a dúvida, amparando minhas descobertas mais importantes, nos meus quase vinte anos como educador. Hoje saem das sombras da minha mente essas lembranças, que trazem a voz viva daqueles que fizeram eco em minha formação educacional. Contudo, através dos meus mestres, revela o que sou hoje e os sonhos que plantaram em mim. Acredito que a convivência no amor nos transforma e recria um ao outro.

17 de abril de 2016

É NA ALMA QUE O AMOR MORA

Ao falar de amor, a ideia que vem a nossa mente é que vamos falar de coisas do coração. De certo modo, um pouco é isso mesmo. Mas, não é no coração a morada do amor, e sim na alma. O coração bate solto dentro do peito. Mas, a alma é uma rocha branca onde estão crivados os sinais indecifráveis da nossa existência. Afinal, o que é a alma? É o que resta depois de tudo o que fizemos e dissemos. No momento em que alguém dizer uma coisa, que nunca ouvimos, mas que reconhecemos como algo pessoal. Em que mergulhamos sem querer, como se estivéssemos a visitar uma verdade que desconfiávamos existir, de onde desconfiamos ter vindo, mas aonde nunca tínhamos conseguido voltar. Só sabemos que o coração ama, mas, é na alma que o amor mora.

As almas gêmeas quase nunca se encontram, mas, quando se encontram, abraçam-se. A alma é de tal maneira que é aquilo, exatamente, de que não se pode falar. A não ser que se encontre uma alma gêmea. Gêmea não é igual. É parecida. Não é um espelho. É uma janela. O desejo de encontrar uma alma gêmea não é o desejo de reafirmarmos a unidade da nossa existência através de outro que é igual a nós. Muitos duvidam que tenham uma alma. A alma gêmea é a prova de que não estamos sozinhos. Assim como também a prova de que a alma existe. Basta o amor fazer eco, para uma alma começar um curto-circuito com os fusíveis do corpo, coração e razão.

De modo, que o estado normal de duas almas gêmeas é o silêncio, não é preciso falar, basta um olhar. Não é a paz dos amantes e nem a cumplicidade muda. Duas almas envolvidas não precisa de amor e nem de amizade para se entender. As almas acham-se. Não tem passado. Não se esforçaram. Simplesmente estão. Esse estar é a maior paz do mundo. Como é que um ninho pode ser ninho de outro ninho? Duas almas gêmeas podem ser. No entanto, como que se reconhece a alma gêmea? No abraço. O coração para de bater. A existência é interrompida. No abraço dos amantes, há sensação, do corpo, do tempo e do coração. No abraço de duas almas gêmeas, quando se amam, o abraço parece o fim. A pessoa sente-se, ao mesmo tempo, protegida e protetora.

Entretanto, a paz é inteira neste momento. Nenhum outro gesto, nenhuma outra palavra é precisa para completá-la. Pode passar a vida toda, não importa. As almas gêmeas se falam mesmo na distância dos corpos. Quando duas almas gêmeas se abraçam, sente-se o alívio imenso de não ter que viver. Não há necessidade, nem desejo e muito menos pensamento. A sensação é de sermos uma alma no ar que reencontrou a sua casa, que voltou finalmente ao seu lugar, como se o outro corpo fosse o nosso que perdemos desde quando nascemos. De modo, que quando nos apaixonamos, o amor nos levanta pela alma e põe-nos a cabeça a voar, tonta de tão feliz e feliz de tão tonta. Não importa onde se está ou o que se está a fazer. O que importa é estar ao lado do seu amor. O amor nunca fica resolvido nem se alcança. Cada pormenor é dramático. De cada um tudo depende. Não é qualquer gesto que pode ser romântico ou trágico. Todos os gestos são. É assim o amor. 

Portanto, se o amor for grande, a espera não será eterna, os problemas não serão dilemas, e a distância será vencida. Se a compreensão insistir, as brigas enfraquecerão, os fatos farão nos rir e os diálogos marcarão este amor. Se o respeito prevalecer, os caminhos serão doces e suaves, os beijos profundos e cheios de amor, assim como os abraços calorosos e confortantes. Porém, se a confiança existir, a dúvida se extinguirá, as perguntas serão respondidas e, as palavras poderão ser ditas. Talvez não seja um amor eterno. E não é um amor doentio, nem um amor ideal. Mas um amor verdadeiro. Para aquele que vence as barreiras impostas pela vida e pelas ocasiões. Para aquele que não teme a escolha. E faz a opção de simplesmente ser intensamente vivido. Para alguns mortais, a alma gêmea é o palácio do amor.  

14 de abril de 2016

A REALIDADE SUPERA A FICÇÃO NA POLÍTICA

É difícil de acreditar no que estamos assistindo na política brasileira em pleno século XXI. Estamos todos a assistir uma luta pelo poder, ou seja, uma luta de classe política, todos agarrados como um bando de macacos numa penca de banana. De certo modo, o discurso que vem aumentando a cada semana é que não deve ficar nem a presidente e nem o seu vice no poder. Vamos raciocinar um pouco, usando a lógica. Se todos são corruptos em Brasília, por que fazer o impeachment só de um presidente? Neste caso, como ficam os outros dois presidentes, no congresso e no senado? O que assistimo é um atacando o outro. Isto não é luta de classe, ou seja, disputa pelo poder? A conversa batida sem muito efeito da presidente é: o que culminou no golpe foi o juiz deixar vazar as informações sobre os supostos envolvidos. É evidente que não foi isso.

O que está gerando golpe é o aparecimento de algumas verdades. E isto incomoda muito o governo. Dizer que esse mal estar no congresso está atrapalhando o bom andamento da presidente, é remendar uma situação em detrimento de outra. De modo, que tudo isso não passa de uma mentira. Porque a inclusão social que o governo implantou está virando fumaça. As pessoas estão na miséria, e agora pior, estão voltando a morar na favela. O que estamos assistindo é uma subversão de valores morais de tudo que era moral. Uma briga de poder onde todas as bases estão usando o mesmo argumento. Uma briga de poder muito forte. Como dizia o bordão: “o povo que se exploda”, na caricatura do personagem político Justo Veríssimo que odiava pobre. Vivido pelo saudoso Chico Anysio, entre outros tantos personagens político, que encaixa perfeitamente no momento atual. A realidade superando a ficção criada pelo nosso saudoso humorista. É quase uma profecia política.

Todavia, o Palácio do Planalto, é o lugar onde se governa o país, e que virou palanque de comício e promoção do ego de alguns, isso é quase uma improbidade administrativa. Jogo de poder. E os fatos vão se sucedendo e vão atropelando a política. Este processo político está totalmente politizado de todos os lados. Até parece que é uma vocação da democracia politizar tudo. Quando o povo chega a esse ponto por culpa do governo, estão todos mergulhados numa crise de representação, nesse sentido, a politização é total. O que fazem os presidentes em Brasília? Absolutamente nada! Alguma coisa sim! Fazem fofocas um do outro.

Está patente que existe abuso de poder. Não saberia precisar se isto é crime de responsabilidade política ou quebra de decoro dos presidentes e parlamentares em exercício. Mas, do ponto de vista ético posso dizer que todos estão encrencados, pelo menos diante da opinião publica. Exatamente porque há um conflito de interesses. Nesse sentido, estão usando um espaço que não deveria, para fazer suas campanhas políticas em benefício do seu ego. E o povo como fica? É uma discussão específica. O papel do deputado nestes casos não é dizer com quem está a verdade. Seu papel é explorar através de argumentos e chegar à veracidade dos fatos. Digo mais, explorar com maestria e dignidade. É sair da obscuridade e se revelar um profundo pesquisador político, com bons argumentos que vai prevalecer perante a opinião publica. E não essa vergonha e descaramento nacional que assistimos. Somos povo, mas, não somos burro. Com todo respeito que tenho pelo animal, mas, senhores deputados, ficam espertos nos seus currais, que seu tempo está terminando.

Curiosamente o presidente da câmara dos deputados em Brasília, tentou barrar os depoimentos ao pedir a impugnação de oito testemunhas de acusação. A defesa dele até recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas o pedido foi negado pela ministra do Supremo. Este episódio causou um mal estar dentro do Conselho de Ética. Houve reclamação do presidente da casa, pelas manobras política do deputado da câmara. Parece que nada abala esse homem, tamanho o cinismo. Se ele vier a ser presidente da republica, será uma situação kafkiana. Acho que nem Franz Kafka (1883-1924) imaginou uma situação desta na política. O cara é um gênio do mal, pois, com toda a comprovação documental contra ele, que é beneficiário de milhões de dólares no exterior, que nunca declarou esse dinheiro, mesmo assim, continua presidindo a câmara dos deputados.

A minha pergunta é a seguinte: Até quando a justiça vai tolerar esse comportamento? Há um pedido do procurador geral da justiça, solicitando seu afastamento. Há uma denuncia oferecida contra ele. É um escárnio continuar essa situação, típico de um fisiologismo clássico. No entanto, este presidente que desempenha dentro desse Circo que é a câmara dos deputados em Brasília, um papel importante desde o ano passado (2015). Paira nesse congresso um clima de tensão e desconforto. Muito parecido com uma panela de pressão pronta para explodir. Acredito que ele deve ter uma malha de poder constituída internamente, que se ele cair arrasta mais gente junto. É importante pontuar que a política tem figuras como esse e que faz parte do seu universo político todo tipo de manobra e safadeza. Belo exemplo esses canalhas estão dando para o país e seu povo. 

Portanto, quando uma sociedade perde suas referências morais, tanto no campo da política, como no campo religioso, a intolerância assume o lugar da Ética. Nós povo, estamos sendo enganados, estamos todos sendo acachapados pelos nossos representantes políticos. Mas, cada povo tem o governo que merece. Só depende de nós aceitarmos ou não. Essa corja foi colocada lá por nós. Em vez das pessoas assumirem esse protagonismo de torcida de futebol, um atacando o outro porque pensa diferente. Ainda tem aqueles mais ignorantes, que vão para as redes sociais atacar outros grupos, como se fossem rivais. O imbecil não percebe que estamos todos no mesmo barco, só falta afundar. Ninguém pergunta: o que os canalhas do congresso estão fazendo conosco? Os malandros do picadeiro de Brasília estão se divertindo com a nossa cara de palhaço. Contudo, o idiota ainda vai para as redes sociais encher o saco daquele que pensa. Esquece que somos todos brasileiros. Será que ninguém acredita que estamos todos ferrados? Por que não perguntamos nas redes sociais, como vamos sair dessa? A Arca de Noé não afunda só para aqueles que governam, junto com eles vai toda uma geração de brasileiros. A primeira lei da natureza é a tolerância, já que temos uma porção de erros e fraquezas. Enfim, não quero fome e nem desemprego. Quero mais é educação. 

10 de abril de 2016

DA PROSA AO POEMA

Para fundamentar essa prosa e transformá-la posteriormente em poema, recorro-me ao filósofo alemão e crítico cultural Friedrich Nietzsche (1844-1900), que diz: “qualquer pessoa que ao pensar na possibilidade de casamento ou de morar juntos, cada um deveria fazer a seguinte pergunta: você acredita que será capaz de conversar com prazer com esta pessoa até o fim dos seus dias?” A propósito, o casamento além de transitório, ele não foi feito para a felicidade humana e sim para a organização social das famílias. Na questão sexo, a situação é ainda mais complicada, sobretudo, pelo seu prazo de validade, que dura em média de um ano a um ano e meio, como afirma a psicanalista e escritora Regina Navarro Lins (1948), autora do livro: “A Cama na Varanda”. Segundo ela o casamento é o lugar onde menos se faz sexo. Todavia, a preocupação de Nietzsche vai além, pois, uma relação intima é recorrente de uma boa conversa. Sendo o amor uma amizade constituída.

Nesta perspectiva, vamos examinar de perto uma das coisas mais linda que a natureza criou que é o encontro amoroso. Esse contato vivo de intimidade profunda, de total embriaguez de espírito. O fato de estar encantado por alguém que nos prendeu primeiro pelo olhar e depois pela conversa agradável é um dos momentos que transcende. A boa prosa é o fermento para a preservação dos encontros afetivos. Quantas qualidades boas se manifestam nesses encontros a começar pelo carinho, admiração e a ternura. Pois, uma das coisas que mais gosto de fazer na vida é conversar e conversar com a pessoa amada, é caminhar de mãos dadas pelo paraíso ao encontro da divindade. Não é sempre que temos companhias tão ilustre como da pessoa que amamos. É como se o amor estivesse de braços dados com a alma. Nesse sentido, a pessoa que amo torna-se moradora cativa dos meus pensamentos. Por exemplo, enquanto estou aqui escrevendo, você está aí lendo o que acabei de escrever. Estamos conectados um ao outro. Você é fonte inesgotável da minha inspiração, que se materializa nos meus escritos, como a representante máxima do meu coração.

No entanto, a prosa torna-se aproximação física do que já existe na forma espiritual. São atribuições que trago desde criança. Sobretudo, o gosto pela prosa que herdei da minha saudosa mãezinha. Mas, foi através desse amor que afinou a nossa prosa. Agora posso dizer que é uma longa conversa para a vida toda, com um toque refinado de amor, que ganhou ritmo e harmonia dessa prosa em poema. Neste sentido, a tese de Nietzsche reforça a importância do diálogo nas relações afetivas, afirmando que trilhar por esse caminho é andar lado a lado até o fim dos nossos dias, brindado por esse amor. Passei quatro anos e meio pensando num verso que traduzisse a alma desse sentimento. No entanto, esse amor está dentro de nós inquieto e vivo, como uma flor presa ao galho da sua árvore. Mas, isto que brota do meu coração, está prestes a virar poesia nos seus lábios e inundar a nossa alma, numa correnteza de emoção.

Da prosa ao poema a gente compreende que pode entristecer-se com o outro por vários motivos ou nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la. Se pelo caminho como já aconteceu, encontrares uma alma que te queira bem, aceita em silêncio o suave ardor da sua benquerença. Mas, não lhe peça coisa alguma, não exijas e não reclames nada do ente querido. Receba com amor o que com amor lhe é dado, porém, quanto mais querida te for essa alma, tanto mais lhe serve, sem nada esperar. Pois duas almas que se tocam não impõe dever e nem obrigação. Se não for assim, colocará em risco o amor, começando pela agonia dos corpos até a separação das almas. Só num clima de absoluta espontaneidade poderá sobreviver esta plantinha tão delicada que é o nosso amor.

Entretanto, ainda que seus caminhos os separem conduzindo aos confins do universo, talvez a mais extrema distância do calor corpóreo dessa plantinha. Se entre essa alma e a tua existir afinidade espiritual, não há distância, não há no universo espaço bastante grande que de você possa alhear essa alma. Mas, se não vigorar afinidade espiritual entre ambos, poderá essa alma viver contigo sob o mesmo teto e contigo sentar-se à mesma mesa, não será tua, nem haverá entre vós verdadeira união e felicidade. Para uma pessoa apaixonada viver na paz, a proximidade espiritual é tudo. A distância material não é nada diante de uma grande afinidade amorosa. É isto que denota uma grande história de amor. Reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar autor da própria história.

Portanto, pior que a convicção do não e a incerteza do talvez, seja a desilusão de não viver um grande amor. O que mais nos incomoda e nos entristece é saber que tudo poderia ter sido e não foi. Basta pensar nas oportunidades que escapam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de protelar. Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. A resposta nós sabemos, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos cumprimentos. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Para aquilo que não podemos mudar resta-nos somente a paciência. Porém, para os erros há o perdão e para o fracasso novas oportunidades, para um amor impossível existe o tempo, nosso mestre. Pois só o tempo é capaz de entender um grande amor.   

5 de abril de 2016

A ARTE DE ESCREVER

Ao ler o livro: “A Arte de Escrever”, do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), é preciso levar em conta o contexto em que os ensaios foram escritos, mais precisamente em 1851. Muitas das críticas ainda são presentes até hoje no universo literário, enquanto outras não servem tanto para os leitores brasileiros, visto que o índice de leitura em nosso país e a cultura literária é menor do que na Alemanha. É preciso ler Schopenhauer com critério de profundidade para não confundir o seu pensamento, sobretudo, quando ele afirma que o excesso de leitura e aprendizagem é prejudicial ao próprio pensamento, assim como a escrita e o ensino, ambos podem atrapalhar o saber e a compreensão de um pensamento. Entendendo o contexto dessa afirmativa, observamos que na Alemanha a educação sempre foi prioridade, além de ser melhor do que no Brasil.

Em outras palavras, devido aos interesses da época, por obras de filosofia, literatura clássica e de pensadores, esse conselho de Schopenhauer, pode ser mal interpretado pelos leitores, por passar a ideia de ler menos, enquanto um dos principais problemas no nosso país é o alto índice de pessoas incapazes de ler e interpretar textos corretamente. Todavia, seus textos fazem sucessos entre os autores e interessados no conhecimento transmitido pelo filósofo, porém, como ele próprio ressalta ao longo do livro, cabe a cada um reservar um tempo livre, para pensar e desenvolver suas próprias conclusões. Para Schopenhauer, o excesso de leitura atrapalha pelo simples fato de pensar o que o autor pensou e não o que pensamos de fato sobre o mundo. É razão para que nos julguemos vivendo um tipo de vida incomum. A atmosfera de nossa vida de pensamentos está povoada de ideias de filósofos, que acumulamos ao longo da vida, sem ter a menor consciência disto.

Todavia, corremos o risco de virar um conteudista, sobretudo, por não criar nossos próprios pensamentos. O livro aborda ainda a diferença entre quem buscou o conhecimento através da literatura e quem aprendeu com o mundo. Tendo em vista, que a espécie humana da muita importância à instrução e a verdade como absoluta. Nesse sentido, as aparências também podem nos enganar. Existem professores na sua maioria que ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo critério que ganham dando a impressão de possuí-la. Sendo assim, os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir, mas, para ganhar ares de importantes.

O livro aborda ainda, alguns aspectos da visão de Schopenhauer sobre a linguagem, por exemplo: “como a imperfeição das traduções, a literatura de consumo, problemas com o estilo de escrita e a importância de desenvolver seu próprio pensamento”. Tentando solucionar a questão da educação, o filósofo alemão, sugeri que antes de cursar a graduação escolhida na universidade, os alunos deveriam ser obrigados a estudar filosofia no mínimo por um ano. Schopenhauer argumenta que: “só é possível pensar com profundidade sobre o que se sabe, depois de aprender algo sobre o mundo. Mas, também só se sabe aquilo sobre o que se pensou com profundidade”. Vale lembrar que o filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804), mostrou ao mundo que o fundamento do conhecimento humano reside no próprio homem e não nas coisas que ele julga conhecer. Esse foi o ponto de partida para Schopenhauer construir a sua filosofia.   

O filósofo alemão Arthur Schopenhauer, conclui seu raciocínio classificando os escritores em três modalidades: Aqueles que escrevem sem pensar e sem planejar. Escrevem a partir da memória, das reminiscências, ou mesmo diretamente dos livros dos outros, em função do assunto (pensamento e experiências). Esta classe é a mais numerosa. Em segundo lugar, vêm aqueles que pensam enquanto escrevem. Ou seja, pensam escrevendo. São muito vulgares porque escrevem por escrever ou para informar sobre algo (por dinheiro). Em terceiro lugar, temos aqueles que pensaram antes de começar a escrever. Escrevem simplesmente porque pensaram e planejaram seus ensaios. Sendo esse último o mais raro e o mais valioso dos escritores. São poucos os escritores que pensam seriamente antes de começar a escrever. A maioria pensa simplesmente em acumular o maior número possível de livros publicados, sobre qualquer assunto. Necessitam do estímulo e ideias produzidas por outras pessoas para conseguirem pensar. São temas imediatos, de modo que ficam constantemente sob a influência e, consequentemente, nunca alcançaram a verdadeira originalidade dos seus escritos.

Portanto, para Schopenhauer, só vale a pena ler obra daquele que escreve diretamente a partir da sua própria cabeça. Ficou claro que as revistas literárias que valorizam o mercado editorial em vez da qualidade literária são criticadas pelo filósofo, bem como os críticos anônimos, ocupação que deveria ser considerada proibida para ele. Enfim, entre os conselhos de como escrever e produzir textos, deixado por Schopenhauer estão: “sempre evitar a prolixidade; ter estilo próprio; aprender com os erros de outros autores; aprender a usar metáforas; ter algo a dizer; planejar o texto antes de escrevê-lo”. Só posso dizer que a leitura desse livro “A Arte de Escrever”, em muito vai ajudar, aqueles que dele fizerem uso. Contudo, aprendi muito sobre a arte da escrita e o estilo literário a ser seguido. Neste livro o filósofo alemão sutilmente faz uma denuncia, mostrando um dos mais recorrentes subterfúgios de escritores e pensadores, que é rebuscar o texto para fazê-lo aparentar ter estilo e conteúdo. Ele aborda as limitações das traduções, dando como exemplo a dificuldade de se traduzir poemas e a importância de aprender mais sobre os diversos elementos que compõem a escrita.

2 de abril de 2016

O PRAZER PARA QUEM ESCREVE

Começo essa reflexão citando o escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924): “escrever significa abrir-se em demasia. Por isso, não há nunca suficiente solidão ao redor de quem escreve; jamais o silêncio em torno de quem escreve será excessivo, e a própria noite não tem bastante duração”. Sendo assim, escrever é um trabalho dos mais difíceis, não são todas as pessoas que têm coragem suficiente para enfrentar esse tipo de empreitada prazerosa, o gosto pela escrita. No entanto, a escrita reflete a personalidade de quem escreve. Pessoas que escrevem bem têm algo de diferente no brilho pessoal. Abusando um pouco das metáforas, elas são charmosas e possuem um dom que quase da para ouvir o que escrevem. Somos parte de tudo o que existe no mundo. Quando conseguimos compreender esse fato, veremos que não estamos escrevendo, e sim deixando que todas as coisas escrevam através de nós.

Escrever é uma ocupação bastante absorvente e, não raro, exaustiva. Mas sempre me considerei muito feliz por poder levar a vida entregando-me a algo que da prazer. Pouquíssimas pessoas podem fazê-lo. O meu estilo é mostrar a fisionomia da alma. Ela é menos enganosa do que o corpo que mostramos. Imitar o estilo alheio significa usar uma máscara. Por mais bela que esta seja, torna-se logo insípida e insuportável porque não tem vida, de modo que mesmo o rosto vivo mais feio é melhor do que a máscara. Sou o que escrevo e do jeito que escrevo. Só tenho certeza de uma coisa, o que escrevo é melhor do que eu. O que escrevo quero que some de alguma forma na vida de quem lê. Tranquilizar-me talvez seja a principal razão porque escrevo. É quase inacreditável o quanto a frase escrita pode acalmar e domar o ser humano. Um texto sem alma não se sustenta, não sobrevive. Não pode comover e, portanto, não pode criar nenhum laço minimamente catártico com o leitor. Um bom diálogo através da linguagem escrita é como fazer sexo; tem que ter ritmo, sedução e ser envolvente.

Entretanto, o trabalho do escritor é oferecer uma história que envolve, fascina, provoque e, acima de tudo registra-se como única e absoluta. Tendo em vista, que escrever é prolongar o tempo, é dividi-lo em partículas de segundos, dando a cada uma delas uma vida insubstituível. Nesse sentido, a história e o romance, a ideia e a forma, são como a agulha e o fio, e não existe alfaiate que recomende o uso do fio sem a agulha, ou da agulha sem o fio. Um bom texto parte como uma onda, movendo-se pela superfície do mar. As ideias irradiam da mente do autor e colidem com outras mentes, desencadeando novas ondas que retornam ao autor. Estas geram outras reflexões e emanações e assim por diante. O talento é algo maravilhoso, mas não é capaz de carregar quem dele desistir. Por acaso, não seremos nós aquela folha de papel em branco de que fala o filósofo e empirista inglês John Locke (1632-1704), que um dia alguém vai nos ler?

Portanto, a literatura é para mim uma mimese da vida, com contornos de todos os valores e temas que rodeiam a nossa realidade. É uma forma de tentar entender o processo de formação do ser humano, único capaz de empreender raciocínios imaginativos. Foi através da literatura que brotou em mim o amor por uma mulher e transformou a nossa vida num poema. Hoje podemos dizer que, realmente, vivemos uma história de amor. Olhando para trás sinto que algumas fontes começam a jorrar apenas quando estamos sós. O artista precisa ficar só para criar; o escritor para elaborar os seus pensamentos; o músico para compor; o cristão para rezar e o poeta para escrever nossa história de amor. Só escrevo porque me sinto compelido a botar para fora o que penso e sinto. Durante muitos anos a solidão foi minha mola propulsora. Concluo essa reflexão citando o escritor José Saramago (1922-2010) que diz: “ser escritor não é apenas escrever textos ou livros, é muito mais uma atitude perante a vida, uma exigência e uma intervenção”. A minha exigência é o amor que trago no meu coração e a intervenção é essa paixão louca que me leva feito vento na sua direção.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...