28 de novembro de 2014

ERRANDO QUE SE APRENDE

Os tropeços e os fracassos fazem parte da vida. Agora como nós lidamos com os erros é que vai acabar por nos definir. Segundo o zoólogo e compositor brasileiro, numa das suas músicas “Volta por Cima” Paulo Emílio Vanzolini (1924-2013), diz: “reconhece a queda e não desanima, levanta sacode a poeira e da volta por cima”. Por conseguinte, errar é importante e inevitável ao mesmo tempo. É errando que se aprende, sempre digo isso a minha filha caçula de nove anos: “não fique triste, é através dos erros que se aprende”. O erro nos mostra que estamos fazendo coisas novas e procurando acertar. Se não tem erros não há crescimento, não há evolução, tudo muito certinho aí vira mesmice, não tem mais nada que aprender. Estagnou, não crescemos e nem evoluímos. É graças aos erros e acertos que se deu a evolução da humanidade.

Durante a vida estamos em processo de construção. Não existe vivência sem ensaio e, o erro é necessário para orientar nossas decisões. A experiência nos convida a abandonar as visões distorcidas sobre o assunto. Julgar um erro pontual como algo ruim, nos afasta da essência, da aquisição, do conhecimento, que está em constante movimento. E isso vale para quem lida com pesquisa científica, para o bebê que está descobrindo como falar, para os jovens estudantes, para o empresário que quer ver sua empresa crescer, o bailarino que ensaia oito horas por dia. Mas quem de nós é capaz de admitir que erramos, com a mesma tranquilidade?

Para ilustrar lembrei-me da história de um empresário que estava com problemas na sua empresa. O diretor chegou para ele e disse: “vamos precisar demitir 20% dos funcionários, você tem algum critério que queira aplicar para essas demissões?” Prontamente respondeu o empresário: “sim, demita os que não erram esses não fazem falta”. Aqui temos o outro lado da moeda, nunca mostrar o erro como algo negativo, isso pode ser traumático, principalmente, para a criança. O erro da educação é focalizar no erro. Quando o professor avalia o trabalho escolar do aluno ele procura saber quantas questões acertou, segundo os seus critérios de avaliação, como se isso fosse o mais importante. Quando na verdade, o mais importante é o desempenho e o esforço do aluno, para continuar errando sem ser estigmatizado. É assim que se da o processo de ensaio e aprendizagem do conhecimento.

Evidentemente, que tudo tem a ver com a formação e valores que trazemos da infância. Quando a pessoa é punida pelo erro, ela tende a ficar mais retraída. Existem duas maneiras de ensinar alguém. Alias, os adestradores de animais dizem que geralmente o animal aprende melhor quando ele é gratificado pelo acerto do que quando é punido pelo erro. Ao ensinar alguma coisa para criança aplauda quando ela acertar, ao invés de ficar criticando o erro. Esta criança quando chegar à sua fase adulta é muito mais capaz de lidar com os seus erros do que aquele que foi reprimido quando crianças. É dever dos pais e professores evitar passar para a criança a ideia da falta de amor. Sobretudo, por fazer muito mal para a autoestima da criança. E a auto estima é fundamental para a saúde mental de todos nós. A felicidade está na capacidade da gente fazer as coisas, independente de acertar ou errar. O único modo de aprender neste mundo é errando e quanto mais erros cometermos, maior será o sucesso no futuro.

Portanto, a experiência é a soma dos erros e acertos que cometemos durante a vida. Com os erros aprendi mais sobre os acertos. Com as pessoas vivi e revivi o significado de uma bela amizade. Com o trabalho percebi o quanto amo o que faço. Com o amor me senti grande, realizado e descobri o quanto é maravilhoso ter alguém do nosso lado, para dividir nossos momentos prazenteiros. Os caminhos às vezes são confusos, dolorosos e questionáveis, porém, nunca sem saída. Os erros nos tornam mais humildes e com eles aprendemos a acertar e nos desculpar, e por que não, perdoar? Diante dos acertos ou dos erros, diante das alegrias ou tristezas, diante de qualquer coisa que seja sempre vou amar. Não tenho medo de envelhecer, só tenho medo de não ter tempo de viver esse amor. Minha racionalidade justifica que a cada dia envelhecemos mais um pouco. Sinto uma injusta contradição: envelheço quando meu espírito está mais aguçado, minha lucidez parece plena e minha ansiedade dominada. Sinto a dialética da vida, minha alma está serena e calma. Meu corpo já da sinais de sua finitude. Contudo, quanto mais eu sei, mais eu sei que nada sei. Há erros que cometemos. Verdades que não conhecemos. Mas, entre erros e verdades, encontrei o amor. Talvez esse amor fosse entre os erros que já cometi, o maior acerto. Mas hoje com certeza, posso afirmar que esse amor é a minha maior verdade.   

25 de novembro de 2014

ENTRE O BEM E O MAL

Por acaso alguém já viu nos filmes, novelas, livros de contos, ou numa peça teatral, o mal e o bem conviverem numa boa? Muito complicado, não é mesmo? Como diz a sabedoria popular: “a arte imita a vida ou a vida imita a arte?” Bom, o fato é que se torna difícil para as pessoas conviverem com estes dois atributos, suas virtudes e seus defeitos. No entanto, numa das histórias que ouvimos quando criança, sobre a origem do mundo, parece que vamos encontrar essa problemática.

No Jardim do Éden vivia um casal que só fazia e pensava coisas boas, até que uma cobra personificada, ou seja, uma persona não grata representando o mal, o lado pecaminoso (desejo sexual) e imperfeito do homem até então adormecido, que essa peçonhenta conseguiu vencer o seu lado bom, puro, assexuado, segundo alguns preceitos. Esse passo em falso do casal originou a perda da mordomia do paraíso e a expulsão para esse mundo inferior e de aparência, chamado planeta terra.  

O problema é que esse pecado teve desdobramento significativo e até hoje, como bons filhos, parece que assumimos a culpa pela má conduta dos nossos pseudo pais e muitas vezes acreditamos não sermos merecedores dos prazeres existenciais. Para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), em sua obra “Além do Bem e do Mal”, ressalta que “a vontade de poder do ser humano é o que determina o que é belo, bom e verdadeiro, sendo, portanto, tais atributos, mutáveis”. O exemplo disso mostra que para os judeus, enquanto povo dominador, ao tempo de seus primeiros grandes reis, bom era tudo o que fosse vigoroso, alegre e que transmitisse confiança.

Se pensarmos que os meios de comunicação e aqui também falo das redes sociais, funcionam como veículos de transmissão de modelos sociais, podemos dizer que as nossas dificuldades serão maiores em aceitar o lado sentido como imperfeito. A grande questão do mal é que ele está presente no inconsciente coletivo das pessoas que se diz ser do bem. Como argumenta o escritor, romancista e poeta José Saramago (1922-2010), que “nossas vidas são feitas de pequenas e grandes mentiras”. E para mim o maior mal da humanidade não está somente na mentira ou na traição, mas, na humilhação que infligimos a aquele que supostamente dizemos amar. Nas redes sociais essa humilhação torna-se mais explicita. Temos uma forte tendência a formar juízo de valor sobre pessoas que mal conhecemos. E o mais grave é que continuamos insistindo e acreditando nesse personagem sem rosto que se apresenta como um "fake", no mundo virtual. Na verdade, o propósito é causar dor psicológica naquele que convive de perto conosco e, que nos conhece na intimidade e no coração. Não é elegante e nem racional humilharmos quem a gente ama. Talvez esse seja o maior veneno da humanidade, a falta de respeito pelo seu semelhante.

Nossas dificuldades e os insucessos serão vivenciados no papel da vitima, arranjamos sempre um culpado para tudo de ruim que fazemos ou que acontece conosco, para ser o "bode expiatório" – expressão usada quando alguém acaba pagando pelo que não fez. Que não deixa de ser uma ideia maquiavélica da classe dominante, que é mestre em justificar os fins sem se preocupar com os meios para alcançá-lo. Para citar Nietzsche, será que em algum momento nos questionaremos: O que é bom para nós? Para o bem de quem são proclamados esses valores relativos? Considerar o outro como a soma de suas qualidades e defeitos, como algo pronto e acabado, é enquadrá-lo como objeto e ignorar suas possibilidades. É assim que se pode rotular o outro e vê-lo como: “prostituta, homossexual, pobre, ignorante, negro, vagabundo e velho”.

Por outro lado, as pessoas não juntam ideias. Não aprenderam que a única maneira de se ter um amigo é ser um deles. Se essa moça pudesse naquele momento, enxergar na outra pessoa não aquilo que a vida e a sociedade dela o fez, e sim olhar com o coração, haveria a possibilidade de humanização permanente das relações e da própria sociedade. Isto é, dar ao outro e a si mesmo uma nova chance e apostar sempre na compaixão como um bem maior. Tendo em vista, que o poder que se proclama se perde a verdade, vulgariza o outro, apaga a felicidade que se anuncia e causa dor e sofrimento para ambos. Entre outras coisas que a verdade pede é que não a condene antes de conhecê-la. Sobretudo, porque a humildade é condição essencial ao progresso individual e proporciona felicidade aos seus possuidores e consolida no amor.

Portanto, nós humanos não somos um "ser" simples, mas composto de duas substâncias, corpo e alma. E o amor em si mesmo tem dois princípios: o ser inteligente e o ser sensitivo. O apetite dos sentimentos tende ao bem estar do corpo e o amor ordena o bem estar da alma. Se este amor for bem desenvolvido e maduro o suficiente para segurar as turbulências da vida, ele está seguramente no plano da "consciência cósmica". Compreender e entender o outro são sinônimos de humildade e compaixão. Só a plenitude (a ideia de completo e perfeito) já tem o seu lado ruim, porque ela não leva aos desafios, competições, maledicências e preconceitos absurdos. Com certeza nossos primeiros pais, Adão e Eva sacaram isso quando foram expulsos do paraíso. Contudo, estar entre o bem e o mal é gozar do livre arbítrio. "Eu sou a minha consciência".      

22 de novembro de 2014

UM SONHO QUE SE SONHA SÓ

Sonhar faz a gente inventar um mundo novo. É com essa imaginação que criamos momentos, onde com toda a certeza estaremos felizes, completos e realizados. Usamos das experiências já vividas, das emoções sentidas, dos momentos vividos para nos imaginarmos num tempo futuro. Passamos a buscar representações do já conhecido para imaginarmos o desconhecido e com isso diminuir a ansiedade frente ao novo. A imaginação é um sonho e, como dizia Raul Seixas (1945-1989): “Um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só”. Porém, nesse sonho, o lugar não importa, pode ser um castelo, uma casa, uma praia, um parque, uma montanha, uma cabana, uma avenida, um lugar qualquer. Assim como também, o tempo não importa, pode ser amanhã, a próxima semana, o próximo mês, quem sabe o ano que vem. Vai depender do tamanho desse sonho e a fé que nutre esse amor.

Na verdade, o que importa é que aconteça. Nesse sonho o que importa não é o que se faz, é o que se sente a partir daquilo que é feito. E para que nesse sonho possamos nos sentir felizes, é preciso quase sempre que alguém participe dele. É a realização da crença de que não se pode ser feliz se estiver só. Envelhecer sozinho é deixar de sonhar juntos. Todavia, esse personagem imaginário é tão real dentro desse sonho que chega a ter forma, sentimento, pensamento, atitudes, etc. Desse personagem se espera frases ditas nas horas exatas, atitudes corretas, pensamentos românticos, expressões de emoções que demonstrem sentimentos sinceros. Dele se espera que nos olhe no fundo dos olhos e sem dizer palavra alguma, nos de segurança e a certeza de sermos amados, que não existe outro e nem poderá existir, é como se já tivéssemos decidido quem será a pessoa merecedora do amor guardado.

Despertado do sono, mas não do sonho, vamos a busca desse ser, que com certeza existe, só ainda não percebemos a sua importância para o nosso sonho. Mergulhado nesse egoísmo passamos a procurar na multidão o rosto dessa pessoa que já existe em nosso pensamento. Voltamos todos a viver na Caverna de Platão, na caverna da indiferença, do desrespeito, do egoísmo e da injustiça. Abandonamos os sonhos com muita facilidade, como se fossemos ter uma vida toda pela frente. Amassamos como um papel e jogamos no lixo, não damos conta que estamos desistindo de um projeto de vida.

Entretanto, quando encontramos alguém que demonstre, por menor que seja, disposição para compartilhar conosco um projeto de vida. Ser o personagem do nosso sonho, mostrando a possibilidade do sonho se tornar realidade, é tão desejado que passamos a sentir o que sentimos no sonho e julgamos ser esse personagem o responsável pelo nosso sentimento. É aqui que mora o perigo, porque começa a confusão pessoa e personagem. Conhecemos tão bem esse personagem e tão pouco essa pessoa. Não deixamos essa pessoa ser ela mesma. Satisfazemos com o pouco que conhecemos dela e que se assemelha de tal modo com a personagem, que fechamos os olhos, com desculpas, explicações emocionais, insensatas, mas apaixonadas, para nos fazer acreditar que o sonho e realidade são uma coisa só.

Com medo de perder esse sentimento vivemos o sonho. Mas chega o momento em que, mesmo despertos do sono, temos que despertar do sonho, destrancar as portas fechadas e, sem usarmos da imaginação, olharmos para a realidade, correr o risco de perder a paixão e dar lugar a outro sentimento. É preciso conhecer a pessoa, deixar que ela se apresente a nós tal como ela é. A paixão é um fogo imenso que logo se apaga e a afetividade conjugal é uma chama que arte lentamente, que mantém cálido o coração trazendo segurança e conforto. Temos de ser adulto o suficiente para conhecermos o outro por quem algum tempo fomos apaixonados e que, por nutrirmos esse sentimento, não quisemos conhecer, mas apenas reconhecer nele o sonho sonhado. É preciso reconhecer quão egoísta fomos não permitindo que esse personagem desvendasse a pessoa que por dentro dele havia.

Portanto, como adultos, tomamos a decisão de nos iludirmos com uma relação afetiva onde só um dos lados dizia amar, só um dos lados decide escolher como deve ser essa relação. Nem sempre o final da paixão coincide com o final do sonho, da realidade, ou do relacionamento. Há relações em que o amor preenche o espaço antes ocupado pela paixão, mas para isso é preciso que conheçamos a outra pessoa na intimidade. Suas ideias, seus pensamentos, suas formas de expressar emoções e provocar sentimentos até então desconhecidos. Experiências não vividas, frases ainda não ouvidas, conceitos não conhecidos. Contudo, numa relação afetiva, é necessário que duas pessoas reais se encontrem, conversem sobre projeto de vida, seus desejos, objetivos, sonhos comuns. Porque um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas, um sonho que se sonha junto, ambos fazem acontecer.   

20 de novembro de 2014

O AMOR QUE SE FEZ VERBO

Posso dizer que foi através da poesia e da literatura que conheci o verbo amar. Fui contaminado pelo amor a partir das minhas reflexões. Num encontro com os alunos do ensino médio de uma escola estadual materializei o amor. Naquele momento pude percebe o quanto de mistério existia nesse sentimento que nos fere e nos abranda ao mesmo tempo. A aula era sobre “O Banquete de Platão”, onde se discutia o amor platônico. Ficou claro como uma luz, que o amor nos ensina que há infinito em nós, mas que não somos infinitos. Porém, esse infinito faz parte da criatura humana, mas o meu eu não é infinito. Compreendi que o amor é capaz de nos ensinar estas duas lições, por isso ele é abençoado. Senti naquele momento que o amor, além do mistério que o cerca, ele se faz presente através do contato físico, do aconchego, das trocas calorosas e principalmente, pelo prazer de conversar com a pessoa amada. Nem que seja por telepatia. A música “Said I Loved You But I Lied”, interpretada por Michael Bolton, vem reiterar o que estou afirmando: “Disse que te amava, mas eu menti. Pois isso é mais do que amor que sinto por dentro”. Como diz Platão num dos seus diálogos: “Só te ama aquele que ama a tua alma”. Talvez por isso que o amor seja triste e sofrido.

Todavia, o meu encontro com o outro se da pelo olhar. É no olhar que te vejo, pois, no olhar eu te mexo, só de olhar nos excitamos. Logo, é pelo seu olhar que me entrego de corpo e alma. Estas coisas não são verbalizadas com clareza. Só quem ama entende. Fiz os alunos viajar nas ideias inatas de Platão. A beleza do outro está no olhar, porque nele está o passaporte para a sua alma. É na alma que o amor reside com toda sua força e plenitude. O Belo não está no corpo, mas, na essência da alma. Somente o amor o torna capaz de conscientizar o outro daquilo que ele pode vir a ser. Nesse momento sou a vela e o amor é a chama, que arde pelas nossas entranhas e ilumina a nossa alma, até o ultimo suspiro. Como dizia o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Quem tem um porque para viver, pode suportar qualquer coisa”. Um dia vamos deixar esse mundo da matéria.

Leo Buscaglia foi um dos maiores escritores acerca do amor no século XX, que coincidentemente faleceu aos 74 anos no dia dos namorados, 12 de junho de 1998. Ele dizia que: “Viver o amor é o maior desafio da vida. Porque exige mais sutileza, flexibilidade, sensibilidade, compreensão, aceitação, tolerância, conhecimento e força espiritual, muito mais que em qualquer outro esforço ou emoção”. Tanto é verdade, que uma das coisas mais linda da natureza humana é o encontro amoroso. Neste contato vivo de intimidade profunda, de total embriaguez amorosa, somos estimulados pelas afinidades que nutrimos um pelo outro. O fato de vislumbrar alguém que primeiro nos prendeu pelo olhar, o sorriso, pela conversa agradável, é nesse momento mais feliz que chagamos o mais perto possível do amor. Todavia, podemos estar junto de uma pessoa por algum tempo, e não sentir nenhuma vibração. Não acontece nada, não da química, não há comunicação entre os corpos. Ao contrario, quando há afinidades, trocas de olhares e uma boa comunicação entre ambos, começa ocorrer um fenômeno que só pode ser chamado de amor perfeito. É um momento de iluminação a dois, a luz de um reflete o brilho do outro.

Entretanto, quando estamos num bom momento para os dois, vai descendo sobre nós uma espécie de campânula nos aquecendo e, ao mesmo tempo nos isola do mundo. São duas pessoas em estado de graça e mais nada. Poderíamos comparar esta sensação de isolamento a dois como a formação de um casulo. Ocorre o isolamento porque vai acontecer uma coisa muito importante e muito delicada. Nesse momento só existe os dois no universo. A maior prova da existência desse casulo, é que ele é natural e não cultural. Não há nada mais delicioso que a aventura do encontro de duas almas que se amam. A emoção que invade o coração da pessoa que está encantada com a outra, é de importância vital para a prática do relacionamento Tântrico. Quem pratica sente-se renascido, revitalizado, repleto de energia tântrica, de entusiasmo e alegria. Viver o amor tântrico é ambos estarem tranquilos e se ajudarem mutuamente. O amor se conduzirá por si mesmo e juntos percorrerão as mais belas e paradisíacas paisagens que ficarão marcadas para sempre na memória dos eternos apaixonados.   

Portanto, encerro essa reflexão fazendo uma homenagem à mulher que é consagrada à Deusa do Amor, pela sua forma de receber e dizer amor. A mulher que sorri sofrendo diante da dor. Carrega o mundo diante da vida. A mulher que se arruma todas as manhãs, para o início de mais um dia. Sorri para os filhos não se preocupar. Chora muitas vezes de alegria sem se poupar. A mulher que é pura emoção materna. Perdoa o imperdoável de forma terna. Perdoa infinitamente o filho indiferente. Seus olhos brilham mais que o sol nascente. Carrega o mundo em sua placenta. Será que algo mais acrescenta, por tudo que a mulher nos representa? Contudo, foi pela poesia e a  literatura que o amor se fez verbo em nossas vidas. Hoje podemos dizer o que significa o verbo amar. Porque esse verbo intransitivo é como a muralha romana, nada pode derrubar. Pelo simples fato de que seus aplicativos são para sempre.  

17 de novembro de 2014

HISTÓRIA DA AVALIAÇÃO ESCOLAR

A avaliação deve orientar a aprendizagem. Todavia, durante muito tempo, a avaliação foi usada como instrumento para classificar e rotular os alunos entre os bons, os que dão trabalho e os que não têm jeito. A prova bimestral, por exemplo, servia como uma ameaça à turma. Felizmente, esse modelo ficou ultrapassado e, atualmente, a avaliação é vista como uma das mais importantes ferramentas à disposição dos professores para alcançar o principal objetivo da escola: fazer todos os estudantes avançarem no seu projeto de vida. O importante hoje é encontrar caminhos para medir a qualidade do aprendizado da garotada e oferecer alternativas para uma evolução mais segura nesse projeto. Avaliar, hoje, é recorrer a diversos instrumentos para fazer os alunos compreender os conteúdos previstos para sua aprendizagem.

Mas como não sofrer com esse aspecto tão importante do dia a dia? Antes de tudo, é preciso ter em mente que não há certo ou errado, porém elementos que melhor se adaptam a cada situação didática. Observar, aplicar provas, solicitar redação e anotar o desempenho dos alunos durante um seminário são apenas alguns dos jeitos de avaliar. E todos podem ser usados em sala de aula, conforme a intenção do trabalho. Os especialistas, aliás, dizem que o ideal é mesclá-los, adaptando-os não apenas aos objetivos do educador, mas, as necessidades do grupo.

A avaliação deve ser encarada como reorientação para uma aprendizagem melhor e para a melhoria do sistema de ensino, resume à educadora Mere Abramowicz, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Daí a importância de pensar e planejar muito antes de propor um debate ou um trabalho em grupo. É por isso que, no limite, você pode adotar, por sua conta, modelos próprios de avaliar os estudantes, como explica Mere: “felizmente, existem educadores que conseguem colocar em prática suas propostas, às vezes até transgredindo uma sistemática tradicional. Em qualquer processo de avaliação da aprendizagem, há um foco no individual e no coletivo, só assim fazemos educação.

Entretanto, os dois protagonistas são o professor e o aluno. O primeiro tem de identificar exatamente o que quer o segundo, a partir daí se colocar como parceiro. É por isso, que a negociação com os alunos adquire importância ainda maior. Em outras palavras, discutir os critérios de avaliação de forma coletiva sempre ajuda a obter resultados melhores para todos. Como argumenta a educadora especialista em Tecnologia Educacional e Psicologia Escolar, Léa Depresbiteris: “cabe ao professor listar os conteúdos realmente importantes, informá-los aos alunos e evitar mudanças sem necessidade por capricho de maus profissionais”. Sem falar daquele professor ou coordenador que sequestra a criatividade e assassina o sonho do aluno, transformando-o em analfabeto funcional.  

No entanto, seja pontual ou contínua, a avaliação só faz sentido quando leva ao desenvolvimento do educando, ou seja, só se deve avaliar aquilo que foi ensinado. Não adianta exigir que um grupo não orientado sobre a apresentação de seminários se saia bem nesse modelo. É inviável exigir que a garotada realize uma pesquisa, seja na biblioteca ou na internet se o professor não mostrar como fazer. Da mesma forma, ao escolher o circo como tema de trabalho extraclasse, é preciso encontrar formas eficazes de abordá-lo. Se a criança nunca viu um espetáculo no circo e nem sabe o que é, como pode entender e descrevê-lo? Vai precisar de orientação do professor, para entender e apropriar-se por escrito de tal conhecimento.

Portanto, a avaliação sempre esteve relacionada com o poder, na medida em que oferece ao professor a possibilidade de controlar a turma. No modelo tecnicista que privilegia a atribuição de notas e a classificação dos estudantes, ela é ameaçadora, como uma arma. Vira instrumento de poder e dominação, capaz de despertar o medo e o pavor nas nossas crianças. Ao mesmo tempo em que matamos o sonho dessas crianças, sequestramos o seu potencial criativo. Contudo, essa marca negativa de avaliação vem sendo modificada à medida que melhora a formação docente e o professor passa ver mais sentido em novos modelos. Só assim o fracasso do jovem estudante deixa de ser encarado como uma deficiência e se torna um desafio para o educador que não aceita deixar ninguém para trás.   

11 de novembro de 2014

A NATUREZA DO AMOR

As pesquisas têm revelado que o amor é um fenômeno biológico e não apenas uma questão cultural como afirmavam até então os cientistas. Mas, o que é o amor? Até pouco tempo, cientistas assumiram que o amor era apenas um conceito presente na cabeça dos homens da cultura ocidental. Hoje, no entanto, a ciência vem revendo a sua posição e, segundo novas descobertas, publicadas na penúltima edição da revista Time, levam a crer que romance é um fato biológico e não apenas uma questão cultural como se dizia. Estaria certo o poeta quando disse: “fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”.

Perguntas ainda se levantam. A primeira é porque, apenas agora, pesquisadores e filósofos se enveredaram por este caminho antes percorrido apenas por poetas e novelistas. São duas hipóteses: uma é a questão da Aids que está aí em nosso meio e o sexo casual agora carrega riscos mortais. A outra é o número cada vez maior de mulheres fazendo pesquisas nesta área, provavelmente elas levam o amor mais a sério. Independentemente do porque, o mais importante são as conclusões: o romance é real, está em nosso DNA. Em nossa biologia.

Para o psicólogo e pesquisador Lawrence Casler, autor do livro: “O Casamento é Necessário?”, que diz não acreditar no amor como parte da natureza humana, fica a questão; se nós podemos procriar sem necessariamente amar, porque muitas vezes o amor desabrocha no meio do caminho? Se o amor foi plantado nas cabeças por agentes como trovadores, a custa do que persiste até hoje? A esta altura todos já deveriam estar imunes.

Para desbancar a tese da herança cultural, os antropólogos William Jankowiak e Edward Fisher, publicaram um trabalho afirmando que encontraram evidências de amor romântico em 147 das 166 culturas que estudaram. O que as diferenciavam, segundo os pesquisadores, era a forma de expressar o sentimento, não necessariamente através de chocolates e flores, como se faz no mundo ocidental.

Os antropólogos que se propuseram a estudar o amor no passado, segundo os pesquisadores atuais, se enveredaram pelo lugar errado. Buscaram respostas nos rituais de casamento e cortejo. Em muitas culturas, como ficou provado, amor e casamento não anda junto. Em muitas sociedades os casamentos podem ter todo romantismo de um negócio de interesse de família ou território. Mas, mesmo nestas sociedades, onde a união é um acordo comercial, Jankowiak afirma que não se pode dizer que o amor não existe, pois ele se manifesta de forma clandestina, como um fenômeno com o qual temos que lidar.

Se o amor existe, quando surgiu? O ponto de partida do amor acredita os cientistas, foi quando deixamos de andar de quatro e passamos a usar apenas as pernas, colocando em evidência tanto nossos órgãos sexuais, como a cor dos olhos e a própria dimensão do corpo. Foi possível, então, tentar novas maneiras de fazer sexo amoroso, que possibilitaram fazer do sexo um encontro romântico. Os casais começaram a procurar posições que os deixasse face a face e a atração física passou a ter maior importância, principalmente, para despertá-lo o amor romântico. A natureza sabe como conduzir o DNA do amor.

O lado romântico das relações permitiu aos indivíduos estabelecerem relacionamentos de longa duração, fundamentais na criação dos filhos, pois em campos selvagens, tornava-se muito mais difícil zelar pela criança tendo ainda que cuidar da própria sobrevivência. Ficava mais fácil unir-se a um parceiro e, juntos, assumirem a criação dos filhos.

Esta ideia inicial levou a antropóloga e pesquisadora do comportamento humano Helen Fisher (1945), do Museu de História Natural de Nova York a tecer outras teorias, uma delas sobre a duração do amor. Enquanto a cultura ocidental prega que ele é eterno, na natureza, Fisher diz existir provas de que o amor foi feito para durar cerca de quatro anos. Ela cita a crise dos quatros anos, mostrada nas estatísticas de divórcio de pelo menos 62 das culturas que estudou. Se o casal tem outro filho três anos depois do primeiro, como geralmente ocorre, a união tende há durar quatro anos mais.

Por essa tese, o amor não é eterno. Por outra, também defendida por Fisher, o amor não é exclusivo. Segundo a autora dos livros: “Anatomia do Amor” “A História Natural da Monogamia” “Adultério e Divórcio”, menos de 5% dos mamíferos formam pares rigorosamente fiéis e, os seres humanos, desde o começo dos tempos, mantêm o padrão de monogamia com adultério clandestino. O que pode ser rotulado de sem vergonha, cafajeste. Para alguns pesquisadores, os estudos de Fisher provam serem uma maneira de se formar novas combinações de gens para serem passados para as gerações futuras. Além disso, os homens que buscaram novas parceiras tiveram mais filhos; enquanto as mulheres, sempre agindo por debaixo do pano, garantiam melhor a sobrevivência. Até as pré-históricas tendiam a ter relação extraconjugal.

O amor é tudo que precisamos, raramente funciona. Quem realmente quer aceitar seu parceiro pelo que ele é o tempo todo? Parece que o tempo todo não é uma expectativa muito realista. O respeito mútuo e a disposição para a mudança, negociação e acomodação até um ponto são necessários para manter um equilíbrio razoável e cultivar o romance ao longo dos anos. Talvez seja melhor encontrar alguém que vá tratar você bem o tempo todo, que seja honesto e respeitoso, de modo que o amor possa ficar cada vez mais solido. 

Portanto, penso que o amor nunca morre de morte natural. Sendo assim, ele pode morrer um dia porque nós não sabemos como renovar a sua fonte. Morre de cegueira e dos erros e das traições que eventualmente venha ocorrer. Morre da doença do ciúme e das feridas que ele nos causa. Morre de exaustão, da devastação que a falta de respeito provoca. Morre muitas vezes por falta de brilho. Nós não somos tomados pelo amor que não recebemos no passado, mas pelo amor que não estamos dando no presente. Contudo, o amor permeia entre o corpo e a alma, ultrapassando a dimensão biológica onde tudo começa, para o plenamente espiritual onde se conclui na sua essência cósmica.    

7 de novembro de 2014

O EMISSOR DA HUMANIDADE

Um dos mais polêmicos críticos literário americano Harold Bloom (1930), argumenta por que ainda se deve ler num mundo dominado pelas imagens. Sem nenhum pudor em atacar seus colegas acadêmicos, ele não se cansa de chamá-los de ressentidos e os acusa de estarem matando a literatura com a mania do politicamente correto. Um ferrenho defensor dos "valores estéticos", Bloom autoproclamou-se guardião solitário da cultura clássica e exalta os grandes nomes da literatura mundial com uma energia admirável.

A informação está cada vez mais ao nosso alcance. Mas a sabedoria, que é o tipo mais precioso de conhecimento, essa só pode ser encontrada nos grandes autores da literatura. Esse é o primeiro motivo talvez porque devemos ler mais. O segundo motivo é que todo bom pensamento, como já diziam os filósofos e os psicólogos, depende da memória. Não é possível pensar sem lembrar. Na verdade, são os livros que ainda preservam a maior parte de nossa herança cultural. Finalmente, e este motivo está relacionado ao anterior, pois, sabemos que uma democracia depende de pessoas capazes de pensar por si próprias. E ninguém faz isso sem ler. Mas, uma leitura livre, sem considerações políticas, ler sem compromissos ideológicos ou preconceitos.

O escritor português José Saramago (1922-2010) Prêmio Nobel de Literatura em 1998, está entre os melhores romancistas da atualidade, não deixa nada a dever aos grandes nomes da literatura. Mas, sinceramente, acho que num mundo dominado pelas imagens e o audiovisual, livros difícil como os dele poderão deixar de serem lidos daqui alguns anos. As crianças estão crescendo cercadas por telas enormes de multimídia. A longo prazo, não sei qual pode ser o efeito disso sobre a capacidade das pessoas de ler para buscar não apenas informações, mas sabedoria e conhecimento.

Será que realmente as crianças vão ler coisas melhores depois de ler Harry Potter? Penso que não. Stephen King (1947) é um escritor americano, reconhecido como um dos mais notáveis escritores de contos de terror e ficção da sua geração. Não consigo ler nem dois parágrafos do que escreve. Verdadeiro lixo de cultura de massa. Segundo ele, as crianças que aos 12 anos estão lendo Potter aos 16 estarão prontas para ler os seus livros. Precisa dizer algo mais? Os Estados Unidos é um país em que a televisão, o cinema, os videogames, os computadores e Stephen King destruíram a boa leitura. A defesa de livros ruins vem de todos os lados – dos pais, das crianças, da mídia – é muito inquietante e nem um pouco saudável essas informações.

Entretanto, aquilo que gostamos de chamar de nossas "emoções" surgiu pela primeira vez como pensamentos em William Shakespeare (1564-1616), nele, mais do que em qualquer outro escritor, parece que os personagens não foram inventados. É como se eles existissem desde sempre. O que era o homem antes de Shakespeare? Personagem de dimensão quase inexistente, na afirmação do crítico literário Harold Bloom, que em Shakespeare: “A Invenção do Humano”, um estudo monumental sobre esse grande gênio da literatura. Saramago, por exemplo, parece para mim, estar sempre envolvido numa complexa competição com Eça de Queiroz (1845-1900) e com Fernando Pessoa (1888-1935), os dois grandes autores portugueses que o precederam. Ainda acho que a literatura caminha por meio de um confronto direto com a produção da geração anterior. Isso não vai mudar. Arte é competição e sempre será.

Portanto, quem quiser escrever para bons leitores é necessário que a tua alma seja uma antena ultrassensível que apanhe as mais ligeiras ondas espirituais que percorrem o universo humano. É necessário saber cristalizar em ideias conscientes a inconsciente atmosfera das almas que te cercam. É necessário dizer ao leitor o que ele já sabia nas penumbras do seu "Eu interior", mas não sabia trazer a luz meridiana da consciência vigilante. Contudo, o escritor faz nascer o que já era concebido e andava em gestação. Enfim, o escritor é o intérprete consciente da "subconsciência universal". Ele é o emissor da humanidade

AS COISAS SÃO OS NOMES QUE LHE DAMOS

O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofri...